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Vida Médico: entrevista com o Dr. Henrique Salvador

Dr. Henrique Salvador, presidente do Conselho de Administração da Rede Mater Dei: “Eu sempre quis ser médico. Nunca tive dúvida disso.  É uma profissão apaixonante”

A vida de um médico exige uma formação intensa, atualização constante, aprimoramento com o atendimento humanizado e outras características próprias da medicina contemporânea. Nessa entrevista ao Portal Medicina & Saúde, o Dr. Henrique Salvador, presidente do Conselho de Administração da Rede Mater Dei, fala sobre sua formação, desafios, ensino da medicina, mercado de trabalho, assistência humanizada e o crescimento da Rede Mater Dei, entre outros aspectos.

Graduado em Medicina em 1982, pela UFMG, com residência médica em Ginecologia e Obstetrícia  no Hospital Mater Dei e Hospital Alberto Cavalcanti, Henrique Salvador tem uma formação rica e, também, atuação dinâmica na área, que inclui: título de especialista em Mastologia (Tema – 1986); Pós-graduação no exterior – Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Alemanha – nas áreas de Ginecologia e Mastologia; Ex-presidente da Rede Mater Dei de Saúde;  Presidente do conselho da Rede Mater Dei de Saúde – Belo Horizonte; Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia; Professor Livre Docente de Ginecologia pela Faculdade de Medicina de Valença; Ex-presidente da ANAHP (Associação Nacional de Hospitais Privados); Membro titular da Academia Mineira de Medicina; Membro do Conselho Curador da Fundação Dom Cabral; Membro do Conselho de Administração da ANAHP (Associação Nacional de Hospitais Privados); Prêmio Clóvis Salgado pela SOGIMIG em 1987 e 2000; Prêmio de CEO destaque pela Câmara Comércio Americano (AMCHAM) no ano de 2022; Prêmio PALMAS ACADÊMICAS pela Academia Mineira de Medicina (Láurea máxima da entidade) no ano de 2022; e Prêmio Madame Durocher pela Academia Nacional de Medicina 2024, dentre outros.  Confira a entrevista:

Dr. Henrique, por que o senhor decidiu cursar medicina? Pensou em outras possibilidades profissionais? – Eu sempre quis ser médico. Nunca tive dúvida disso. É uma profissão apaixonante. Eu tive a influência dos meus pais, Dr. Salvador e Dra. Norma, que são médicos ginecologistas e obstetras. E sempre me incentivaram. Comecei a me apaixonar pela medicina ao acompanhá-los em hospitais, aos domingos e finais de semana, quando eles iam visitar os seus pacientes internados.

Por que optou pela Mastologia? – A Mastologia é uma especialidade médica multidisciplinar que oferece muitas possibilidades, da prática clínica à cirúrgica. Além disso, como o câncer de mama é o tipo que mais acomete a mulher ocidental, como mastologistas buscamos novas e melhores maneiras de lidar com a doença e oferecer às pacientes o melhor tratamento possível.

O grupo Mater Dei prima pela atualização médica. O que mudou no ensino da Medicina de sua época para a atual? – A medicina vem evoluindo muito. É uma ciência muito dinâmica em que os conhecimentos são, permanentemente, atualizados. Mesmo uma mudança considerada pequena causa um impacto grande na maneira como lidamos com as doenças. As pesquisas, o aprimoramento de técnicas e a inovação estão diretamente ligadas à prática da boa medicina. Além disso, a incorporação tecnológica na atuação médica já é uma realidade. A tecnologia não é um fim em si só, mas é um instrumento para apoiar a prática médica de boa qualidade. E a Rede Mater Dei tem como premissa acompanhar a evolução das práticas médicas para levar o melhor para os nossos pacientes.

O mercado de trabalho está mais difícil? – A prática médica sempre foi muito competitiva, mas hoje se formam muitos médicos. As oportunidades aparecem para aqueles que se diferenciam. Foi o que eu procurei fazer ao longo da minha carreira médica.

A medicina pode ser exercida de algumas maneiras. Pode ser uma medicina acadêmica, a medicina da assistência, da pedagogia, do empreendedorismo, da representatividade de classe, a medicina da gestão, entre outras. Eu busquei, sob certo aspecto, me diferenciar em todas essas vertentes médicas, procurando ser o melhor médico que eu pudesse ser.

O médico que pensa dessa forma, que atua dessa maneira e se dedica à medicina, que estuda, que se atualiza e que é inovador, vai se destacar sempre.

Como o atual estudante deve se preparar para um mercado altamente competitivo e seletivo? – Dessa maneira que citei, procurando se diferenciar, com os recursos que tiver ao seu alcance e fazer o melhor que puder em benefício das pessoas e da sua própria atualização e realização profissional.

Como o senhor se preparou para tal? – Eu me formei em medicina em 1982. Eu fiz residência em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital Mater Dei, depois fui para a Inglaterra e para outros países e fiz alguns fellows. Fiquei no exterior por dois anos e meio me qualificando nas áreas de Reprodução Humana e Mastologia. No meu retorno, implantamos algumas práticas pioneiras na época como técnicas de fertilização in vitro, fizemos o primeiro bebê de proveta de Minas Gerais, técnicas de microcirurgia tubária e de reprodução humana. E depois me dediquei especialmente à mastologia, na assistência – atendendo a milhares de pacientes – e com intensa produção científica. Eu produzi mais de 300 artigos e capítulos de livros científicos, foram mais de 1500 participações em congressos médicos, publicamos 12 livros científicos e, como docente em Ginecologia, pude transmitir meus conhecimentos.

Fui aperfeiçoando a prática em gestão e em empreendedorismo. Durante 35 anos, eu fui diretor médico, técnico e clínico da Rede Mater Dei de Saúde. Nesse período, nós montamos um Programa de Governança Clínica e de Gestão de Corpo Clínico na Mater Dei.

De 2011 a 2023, eu fui presidente da Rede Mater Dei, período em que houve uma grande expansão da empresa – saímos de 1 hospital para 10 hospitais.

Realizei, em Belo Horizonte, o Congresso Brasileiro de Mastologia e o Congresso Brasil Central de Mastologia e mais de uma dezena de Simpósios da especialidade aqui em nossa cidade. Dei aula no Brasil inteiro.

Na assistência às minhas pacientes sempre busquei incorporar as melhores técnicas que se aplicavam no mundo. E isso permitiu que eu tivesse um consultório médico muito procurado pelas clientes. Até hoje, sou consultado, como referência, principalmente em casos de câncer de mama.

Implantamos a Residência Médica em Mastologia na Rede Mater Dei, formando dezenas de especialistas que atuam em todo o Brasil.

É uma vida de muito trabalho, intensa, mas que dá muito prazer pelo impacto positivo que causamos na vida das pessoas, nas instituições e na própria especialidade.

Fui presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), principal entidade da especialidade no Brasil, e presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP), que congrega os principais hospitais privados do país.

Quais foram os seus principais desafios? – Estruturar os Serviços de Mastologia e de Reprodução Humana na Rede Mater Dei foi um deles. Quando retornei do exterior, em 1986, o Hospital Mater Dei só tinha seis anos de vida. Da mesma maneira, como diretor médico, um dos desafios foi a inclusão dos médicos nos programas de Governança e na estratégia da Mater Dei. Além disso, tive o desafio de conciliar todas as frentes de trabalho, nas 24 horas por dia, com o cuidado com a família. Tenho três filhos que são muito próximos e sete netos.

A Rede Mater Dei cresce muito em Minas e no país. Qual é a sua expectativa com os novos caminhos da instituição? – Nos últimos 10/12 anos, a Rede Mater Dei teve um crescimento importante. Passamos de um hospital para 10 unidades. Eram 1300 colaboradores e hoje são quase 10 mil. Tínhamos 2000 médicos cadastrados no corpo clínico e hoje são cerca de 10 mil. Eram 250 leitos e, atualmente, são 2.100.

O objetivo desse crescimento foi levar para mais pessoas o “Jeito Mater Dei de Ser”, que envolve uma proximidade com os principais stakeholders – os pacientes e suas famílias, os médicos, os colaboradores, a comunidade e as operadoras de Planos de Saúde.

A Mater Dei tende a crescer ainda mais e continuar a se posicionar de uma maneira diferenciada no setor de saúde, com foco na qualidade, em segurança assistencial, na experiência do paciente e na eficiência operacional.

Recentemente foi inaugurada uma nova unidade da Rede Mater Dei em Nova Lima/MG. Por que essa localidade? Qual a expectativa de atendimento? – Nova Lima é um dos principais municípios de Minas Gerais, fazendo parte da região metropolitana de Belo Horizonte. Quando fizemos o nosso IPO, vimos que 3% das pessoas que atendemos no Mater Dei Santo Agostinho e no Mater Dei Contorno, na região centro-sul da capital mineira, eram provenientes de Nova Lima. O trânsito era o principal dificultador desse acesso aos Hospitais.

Como havia uma demanda de clientes e corpo clínico, fazia todo sentido para a Rede Mater Dei de Saúde estar na região. Por isso, escolhemos uma localização privilegiada, fizemos uma reforma durante três anos de um prédio adquirido, e levamos pra lá um equipamento hospitalar diferenciado, com fluxos muito bem definidos, próprios para a atividade hospitalar e que vai permitir um conforto grande para as pessoas que confiam em nossos serviços. A unidade de Nova Lima vai se integrar muito bem à Mater Dei e compor a rede com as três instituições da macro região (BH e Mater Dei Betim-Contagem).

Excelência médica/hospitalar é a máxima da Rede Mater Dei. Nela inclui o atendimento humanizado. Fale um pouco sobre essa filosofia na rede Mater Dei. – Desde a inauguração, o Hospital Mater Dei tem um posicionamento diferenciado em que aliamos a excelência médica ao atendimento customizado. Atendemos aos requisitos de qualidade mundiais, com as melhores certificações internacionais como, a Joint Commission International – JCI, e, ao mesmo tempo, oferecemos acolhimento de acordo com as necessidades de cada usuário.

Assistência humanizada não é uma questão natural do médico? Por que é necessário enfatizar essa filosofia? Esse conceito mudou na formação dos “antigos médicos” para os atuais médicos? – Não acho que seja uma questão de “médico antigo” e “médico atual”. A partir da nossa experiência em nossos programas de residência, percebemos que há médicos jovens com aptidão para estar disponíveis para os pacientes, com a capacidade de ouvir mais as pessoas, estar mais próximos – incluindo disponibilizando o número do seu telefone aos clientes – e entender as fragilidades e as necessidades de cada pessoa. Assim como há outros que têm mais dificuldade.

Uma consulta médica, por exemplo, não deve durar cinco minutos. É importante que o vínculo médico-paciente seja formado. É a velha máxima: devemos procurar tratar o doente e não a doença.

É importante que o médico tenha uma formação técnica dentro dos melhores padrões internacionais, mas, mais do que isso, é fundamental que ela acolha as demandas dos pacientes.

O exemplo também é pedagógico. A diretoria da Mater Dei, por exemplo, está sempre à disposição, 24 horas/dia, para o paciente. Ele tem acesso aos nossos canais de comunicação. Eu, como médico, sempre disponibilizei o número do meu telefone. Esse exemplo faz com que se crie uma onda virtuosa, crescente. Mais pessoas acabam fazendo da mesma maneira e atendem ao mesmo padrão de qualidade e de humanização.

Como o senhor vê a Medicina hoje, em um país onde a maioria da população não tem acesso a planos de saúde? – O SUS talvez seja, em tese, o melhor sistema de saúde do mundo, mas há algumas questões relacionadas ao acesso que são pontuais e estimulam o brasileiro a ter plano de saúde. Hoje, 25% da população têm plano de saúde.  O que temos que fazer é lutar para que o SUS também melhore, lutar para que consigamos melhores condições para a população em geral. Há ilhas de excelência no Brasil que comprovam isso. É possível sim, com investimentos adequados, com muito trabalho, buscando benchmarkings internacionais, levar para mais pessoas uma excelência no atendimento.

Como gestor do grupo Mater Dei, o seu dia deve ser muito puxado. Como é administrar um grupo do porte do Mater Dei e conciliar o trabalho com a vida pessoal? – A minha agenda hoje, como Presidente do Conselho de Administração da Rede Mater Dei, é mais estratégica.  Mas, é perfeitamente possível equilibrar todos os pratos, desde que haja organização e que se tenha o apoio de pessoas alinhadas à nossa filosofia e ao nosso objetivo de vida. A Rede Mater Dei é um projeto de muitas pessoas que trabalham de forma sintonizada em benefício do próximo.  Assim, é possível conciliar o trabalho com a vida pessoal. Eu fiz isso a minha vida inteira. Tenho 42 anos de formado em Medicina.

Dr. Henrique, o que o senhor faz para relaxar? – Eu cuido do corpo e da mente. Faço caminhada todos os dias, gosto de fazenda, local em que eu relaxo, reúno a família, os netos e os filhos. Gosto também de leitura. Frequentemente, estou lendo um ou dois livros. É uma maneira de me atualizar, de conhecer coisas novas. A vida é um aprendizado constante e a leitura é uma forma de conhecermos novos mundos e novas experiências.

Qual mensagem o senhor pode deixar para os jovens médicos? – Acredite em você! Use os recursos – intelectual, financeiro, de apoio, educacional – em benefício do seu sonho. Atualize-se sempre para oferecer a melhor medicina aos seus pacientes. E esteja sempre disponível para eles. Não adianta querer ser o melhor médico do mundo se, na hora que o paciente precisar, você não estiver disponível. Sonhe grande porque o primeiro caminho para as realizações é sonhar.

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