Enquanto mais de um terço da população sofre de insônia, há uma explosão no
consumo de substâncias lícitas ou ilícitas em busca de uma boa noite de sono.
Para explicar por que a falta de sono pode ser devastadora em nossas vidas e nos
com o prazer de dormir, o psicanalista Mário Eduardo Costa Pereira,
autor do livro “A erótica do sono”, publicado pela Aller Editora,
aborda o universo que acende quando apagamos.
Passamos boa parte de nossas vidas dormindo e sonhando, ou ao menos deveria ser assim. Com os dias cada vez mais agitados e cheios de tarefas, dependemos de uma boa noite de sono para repor as energias. Mas então por que é tão difícil dormir? Por que o número de pessoas que apresentam problemas como insônia e dependência de soníferos vem aumentando? Para o psicanalista e psiquiatra Mário Eduardo Costa Pereira, autor do livro A erótica do sono: ensaios psicanalíticos sobre a insônia e o gozo de dormir, publicado pela Aller Editora, o sono é como um deleite para a vida e não conseguir aproveitar essa experiência pode ter consequências significativas na saúde física e comportamental do indivíduo. Deixar de sonhar, por exemplo, nada mais é que mitigar nossos desejos e medos mais profundos.
Expressões como “bancos 24 horas” (e mesmo de 30 horas!), “shoppings abertos aos sábados, domingos e feriados”, “assistência técnica dia e noite”, “formação contínua” mostram bem o tipo de relação que o mundo contemporâneo criou com o sono e a pausa para dormir. Segundo Costa Pereira, apesar de não causarem mais qualquer estranheza e de, entre a queixa e o orgulho, declararmos — sempre que a oportunidade se apresenta — que a vida está uma correria, tornamo-nos uma imensa legião de zumbis sonolentos que atravessam, exaustos, suas rotinas.
Some-se a isso as exigências intermináveis de competência, de alto desempenho e de dedicação, a competição voraz do mercado e a busca incessante por reconhecimento e será possível entrever a importância do laço social e de suas vicissitudes na produção do mal-estar próprio a um certo período histórico e político. Conseguir dormir pressupõe, aos olhos de Freud, o pai da Psicanálise, aceitar se desconectar temporariamente da razão, da consciência, da vigilância antecipatória dos possíveis perigos do mundo, da aparente transparência da mente consciente de si. Dormir implica um ato de confiança, de entrega e de amor. Trata-se de se permitir estar relativamente indefeso, o que hoje nos parece impossível em meio a tantas ameaças e problemas.
O autor ressalta que a quantidade de sono para se sentir descansado é individual, há um ritmo para cada pessoa. Dormir exige esquecer-se de tudo que está conectado à vida concreta e, no escuro, desfrutar de bons pensamentos e boas memórias, como, por exemplo, a da Mãe Preta, que nós, brasileiros, carregamos historicamente. O aconchego, o cafuné e o acalanto estão presentes na constituição cultural e vital dos processos de subjetivização e socialização no Brasil.
Vindos do continente africano, temos até hoje incontáveis práticas corporais e hábitos cotidianos ligados ao adormecimento e ao repouso. O cafuné, destacadamente, é uma modalidade especial de carinho que nos embala o sono, uma discreta volúpia de, sem reservas, entregar o próprio corpo aos cuidados amorosos do outro. Apesar do cafuné encontrar-se diretamente implicado na construção da calma e da confiança, no Brasil essa prática é marcada pelo fundo sinistro da escravidão e da violência que lhe é intrínseca, como aponta agudamente Mario Eduardo.
Para ele, por fim, o sono é um mergulho narcisista em um funcionamento mental desconectado da consciência. Quando dormimos, estamos abertos ao contato com as marcas mais determinantes e significativas da memória, do desejo, das angústias e dos traumas do ser. Se aceitarmos tal desprendimento e entrega, poderemos talvez dormir destemidamente e, então, sonhar.
SERVIÇO:
A erótica do sono – Ensaios psicanalíticos sobre a insônia e o gozo de dormir
ISBN: 978-65-87399-18-8
ISBN ebook: 978-65-87399-16-4
Formato: Brochura – 14×21 cm | Peso: 270g | Páginas: 208
Idioma: Português | Editora: Aller Editora
Edição: 1ª/2021 | Gênero: Psicanálise
Preço: Físico R$ 69,90 | E-book R$49,90.
Sobre o autor: Mário Eduardo Costa Pereira é psiquiatra, psicanalista, professor titular em Psicologia Clínica pela Université de Provence Aix-Marseille I (2009) e livre-docente em Psicopatologia pela Unicamp (2008). Atualmente é professor associado do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, onde dirige o Laboratório de Psicopatologia: Sujeito e Singularidade (LaPSuS). Mestre em Saúde Mental pela Unicamp (1989). Doutor em Psicopatologia Fundamental e Psicanálise pela Université de Paris VII – Denis Diderot (1995), sob orientação do Prof. Pierre Fédida. Diretor do Núcleo São Paulo do Corpo Freudiano – Escola de Psicanálise.
Sobre a editora: Criada pela psicanalista Fernanda Zacharewicz e pelo jornalista e publisher Omar Souza, a Aller Editora oferece em seu catálogo obras que se debruçam sobre os temas cruciais da teoria e da prática clínica, desde seus fundamentos até as repercussões dos debates atuais sobre o sujeito contemporâneo. Inspirada pelo verbo francês aller, que significa “ir”, a casa editorial convida leitores, atuantes na área de Psicanálise ou não, a percorrer caminhos que cruzam fronteiras e a embarcar nesse desafio que é ler como movimento.
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