Hábitos de higiene bucal ensinados na infância são mais fáceis de permanecerem na rotina até a fase adulta
A saúde bucal é uma das maiores preocupações dos pais nos primeiros anos de vida de uma criança. Entre os especialistas, recomenda-se que a primeira visita ao cirurgião-dentista seja realizada quando os dentes começarem a nascer, ou seja, assim como é feito o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento da criança junto ao pediatra, também é necessário consultar o profissional odontopediatra. Essas primeiras visitas são importantes não só para o exame físico clínico dos bebês, mas também para que pais ou cuidadores possam ter orientações adequadas sobre hábitos alimentares, higiene oral e todo o desenvolvimento orofacial.
Muitas dúvidas surgem em relação à quando se deve iniciar a limpeza da cavidade oral. De acordo com a Dra. Sylvia Lavínia, odontopediatra e presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), “é recomendado que a higiene oral seja iniciada no momento em que o primeiro dente de leite erupciona na cavidade oral. Antes disso, a higiene bucal do bebê deve ser feita somente, quando ocorrer estagnação do leite na região da gengiva ou da língua após a amamentação. A limpeza deve ser realizada nesses locais, de maneira suave e com auxílio de uma fralda limpa ou gaze umedecida com água filtrada”.
O hábito de realizar a manipulação na cavidade bucal da criança com dedeiras ou mordedores faz com que a criança se familiarize com a sensação de limpeza, tornando-a mais receptiva aos futuros cuidados da saúde bucal. Segundo a Dra. Sylvia, “a limpeza bucal do bebê só será feita, efetivamente, a partir do irrompimento dos dentes, que, normalmente, ocorre entre 4 e 6 meses de idade. A higiene bucal deve ser realizada com escovas de cerdas super macias e cabeças pequenas”.
A presença do flúor na saliva é muito importante para a prevenção da doença cárie. Por isso, a recomendação do Ministério da Saúde é o uso de pequena quantidade de creme dental infantil fluoretado, com concentração de flúor em torno de 1.100 ppm. Como medida de segurança, a Associação Brasileira de Odontopediatria – ABOPED, em suas diretrizes para procedimentos clínicos, orienta o uso de creme dental fluoretado, na quantidade equivalente a um grão de arroz (0,1 g) para bebês e crianças que não sabem cuspir, e a quantidade equivalente a um grão de ervilha (0,3 g) para aquelas que já sabem e conseguem cuspir.
O aleitamento é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da cavidade oral do bebê, bem como para preparar a boca para as funções de sucção e mastigação. O treino muscular que acontece durante o aleitamento materno e a respiração correta têm um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento do complexo maxilo-mandibular e das arcadas dentárias, permitindo uma melhor oclusão, tanto na dentição decídua (ou de leite), como na dentição permanente.
Estudos recentes na população brasileira apontam que o problema mais comum na saúde bucal em bebês até os 3 anos de idade continua sendo a doença cárie, que atinge 25,6% das crianças dessa faixa etária. A ocorrência está relacionada ao aleitamento materno prolongado e frequente. Os líquidos que se acumulam na boca enquanto o bebê está adormecido pode provocar as lesões de cárie. Assim, além de não deixar o bebê com a mamadeira na boca nesse momento, é importante fazer a higienização correta dos dentes.
A cárie na primeira infância, infelizmente, é comum e mostra que a introdução de açúcar antes dos dois anos de idade está significativamente associada à sua ocorrência nos bebês. As bactérias presentes na boca consomem o açúcar dos alimentos, transformando-o em ácido. Isso resulta no processo de desmineralização dos dentes de forma progressiva. No início surgem manchas brancas que, posteriormente, podem se tornar lesões de cárie, explica a odontopediatra.