A importância do Obstetra no Pré-Natal de Alto Risco

Maioria dos casos evolui positivamente, mas é preciso acompanhamento contínuo do profissional
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O Dia Nacional do Obstetra, celebrado no dia 12 de abril, foi idealizado para homenagear o especialista que acompanha a mulher durante a gestação, parto e puerpério. A palavra, aliás, não à toa, tem um enorme simbolismo: vem do latim obstetrix, que significa “ficar ao lado de”. Em alguns casos, inclusive, é mais do que literal: em gestações de alto risco.
Conforme explica o obstetra Elton Ferreira, coordenador do Pré-Natal de Alto Risco do Vera Cruz Hospital/Campinas/SP, “uma gestação é considerada de alto risco quando existem condições médicas/doenças pré-existentes ou desenvolvidas durante a gravidez que aumentam o risco de complicações para a mãe e/ou para o feto durante a gravidez, parto e/ou pós-parto. Essas condições incluem doenças maternas crônicas, histórico obstétrico desfavorável ou fatores relacionados à gestação atual”.
De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 15% das gestações são consideradas de alto risco no Brasil. As condições mais frequentes são o diabetes gestacional, a hipertensão arterial (pressão alta), as doenças da tireoide e outras autoimunes, a gestação após os 35 ou antes dos 19 anos, gestação múltipla (gemelares, trigemelares, etc), gestações pós FIV (fertilização in vitro), parto prematuro ou perda gestacional em gestações anteriores e crescimento fetal inadequado, entre outras. “É importante esclarecer que, na maioria das vezes, as gestações de alto risco evoluirão bem. Para que isso tenha maior chance de acontecer, é imprescindível que essas gestantes sejam acompanhadas por um profissional especializado e capacitado no atendimento a gestações de alta complexidade e que haja um envolvimento multidisciplinar nesse cuidado”, destaca o Dr. Elton, ao responde 10 questões importantes sobre o tema:
1. Como a gestação de alto risco é diagnosticada? – Ela deve ser diagnosticada durante as consultas de pré-natal de rotina. Já na primeira, é fundamental a avaliação do histórico médico para identificar condições pré-existentes que possam afetar a gravidez, como doenças crônicas, complicações em gestações anteriores, histórico familiar, antecedente de cirurgias, uso de medicações e de técnicas de reprodução assistida. Essa avaliação deve ser integral e continuada ao longo de todo o pré-natal”.
2.Para as pacientes que estão tentando engravidar é importante uma avaliação pré-concepcional? – “Sim, com certeza. Nessa consulta antes das tentativas de engravidar, podemos esclarecer dúvidas, iniciar suplementação de ácido fólico, controlar doenças já existentes e orientar a substituição de medicações que porventura faça uso e que não devam ser usadas na gestação”.
3.Qual a frequência recomendada das consultas de pré-natal para gestantes com fatores de risco elevados? – Ela deverá ser individualizada de acordo com a condição apresentada. Geralmente, as consultas são mais frequentes quando comparadas ao observado na assistência ao pré-natal de risco habitual. Isso permite um monitoramento contínuo rigoroso e intervenção oportuna em caso de complicações.
4.Como é feita a monitorização do bem-estar do bebê na gravidez de alto risco? – Existem diversas estratégias para analisar o bem-estar do bebê. Isso engloba desde a avaliação do tamanho do útero (altura uterina), dos movimentos e batimentos cardíacos do bebê, e da saúde da mãe em consulta de pré-natal, assim como o controle dos movimentos fetais pela gestante em casa, a realização de exames, como a cardiotocografia e o ultrassom.
5.Em casos de gestação de alto risco, qual é a estratégia para determinar o momento mais seguro para o parto? – Também é algo individualizado e deve levar em consideração a doença apresentada, se está ou não controlada, a idade gestacional, assim como deverá ser baseada em um balanço entre os riscos de continuar a gestação e os riscos da prematuridade. É muito importante que toda a conduta tenha embasamento científico e que seja amplamente discutida, esclarecida e compartilhada com a gestante e eventual parceiro(a).
6.O que é a pré-eclâmpsia? – É a elevação da pressão arterial, geralmente após 20 semanas de gravidez, associada ao acometimento de um ou mais órgãos/sistemas, como rins, cérebro, fígado, pulmão, coração e/ou sistema hematopoiético (sangue). É uma doença frequente e perigosa. Por isso, necessita um pré-natal cuidadoso e atento. Saliente-se que todas as pacientes diagnosticadas com elevação de pressão arterial na gravidez, seja hipertensão arterial crônica, hipertensão gestacional ou a pré-eclâmpsia, devem ser imediatamente encaminhadas para um serviço especializado de referência.
7.Existem estratégias para se prevenir a pré-eclâmpsia? – Para as gestantes que apresentam fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença, são indicadas algumas medicações e suplementações no início do acompanhamento pré-natal (a partir de 12 semanas), como o ácido acetilsalicílico (AAS) e o cálcio. O uso dessas substâncias, entretanto, reduz o risco de pré-eclâmpsia, mas não o elimina. Além disso, àquelas que não apresentam contraindicações, a realização de atividade física regular também diminui o risco da patologia.
8.Quais fatores de risco que indicam o uso de medicações preventivas para a pré-eclâmpsia? – Na presença de um fator de alto risco ou na presença de dois fatores de médio risco essas medicações estarão indicadas:
Alto risco – Hipertensão arterial crônica, pré-eclâmpsia/hipertensão em gestação anterior, diabetes tipo 1 ou tipo 2, obesidade, gestação de gêmeos, doença crônica dos rins, doenças autoimunes como a síndrome antifosfolípide e o lúpus eritematoso sistêmico e gestação pós-FIV (fertilização in vitro)
Risco Moderado – Primeira gestação, idade maior que 35 anos, história familiar de pré-eclâmpsia (mãe e/ou irmã), intervalo entre gestações maior que 10 anos, entre outros.
9.No caso do diabetes gestacional, quais cuidados devem ser tomados? – A maioria das pacientes com esse diagnóstico conseguirá o controle da doença com a realização de dieta equilibrada e atividade física. Naquelas em que esse controle não for atingido com essas medidas, será necessário o uso de medicações, como a insulina, por exemplo. Portanto, a monitorização do controle das glicemias e uma vigilância rigorosa do bem-estar do bebê serão cuidados indispensáveis durante toda a gravidez.
10.Qual a importância do trabalho multidisciplinar e quais outros especialistas devem estar envolvidos? – O trabalho multidisciplinar é crucial para garantir qualidade e segurança do atendimento, além de promover melhores desfechos maternos e neonatais. Nesse contexto, a atuação de uma equipe de profissionais de diversas áreas é fundamental para a abordagem holística e integral da saúde da gestante, visando a prevenção, diagnóstico precoce e manejo adequado das condições que possam surgir. Além disso, permite que diferentes perspectivas sejam consideradas, integrando conhecimentos e técnicas de várias áreas da saúde, o que resulta em uma assistência mais completa e personalizada. Além de diversas especialidades médicas, outras áreas da saúde envolvidas nesse cuidado incluem a psicologia, a nutrição, a fisioterapia e a assistência social.