A importância do teste do coraçãozinho!
A pediatra Bárbara Carolina Nogueira Valério, do Neocenter Maternidade:“um em cada 100 recém-nascidos vivos apresenta cardiopatia congênita”
Em 2014, o Ministério da Saúde divulgou a Portaria Nº 20, incorporando o Teste do Coraçãozinho, de forma universal, como parte da Triagem Neonatal em todo o país. Essa decisão foi impulsionada pelo fato do exame auxiliar no diagnóstico precoce de cardiopatias congênitas graves em recém-nascidos, cuja incidência corresponde a cerca de 10% dos óbitos infantis no país. O teste é simples, indolor e rápido, devendo ser realizado entre 24 e 48 horas de vida da criança na própria maternidade, ou seja, antes da alta hospitalar.
De acordo com a Dra. Bárbara Carolina Vieira Nogueira Valério, pediatra do Neocenter Maternidade, de Belo Horizonte, este teste é muito importante, pois realiza a triagem dos bebês que apresentam maior probabilidade de serem portadores das doenças cardíacas congênitas graves, ou seja, defeitos anatômicos do coração ou dos grandes vasos, que necessitam receber tratamento cirúrgico ou intervencionista (cateterismo) no primeiro ano de vida. Essas doenças poderiam passar desapercebidas através do exame físico. Nestes casos, o recém-nascido receberia alta hospitalar sem um diagnóstico, podendo evoluir até mesmo a óbito precoce, antes de receber tratamento adequado.
Entre as doenças que o Teste do Coraçãozinho identifica na triagem, “podemos destacar: a transposição dos grandes vasos, a síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, atresia pulmonar, tetralogia de Fallot, conexão venosa pulmonar anômala total, atresia tricúspide e tronco arterial”, alerta a médica.
A Dra. Bárbara Valério, que tem formação em Urgência e Emergência Pediátrica e em Terapia Intensiva Neonatal e Pediátrica, ressalta ainda que um em cada 100 recém-nascidos vivos apresenta cardiopatia congênita. No Brasil, a estimativa é de que nasçam, anualmente, 30.000 crianças com cardiopatia congênita.
Tratamento individualizado – O Teste do Coraçãozinho é um exame de TRIAGEM e, como tal, seleciona os pacientes com maior probabilidade de serem portadores de cardiopatia congênita crítica. Em caso de alteração nesta primeira etapa, o recém-nascido deve realizar o Ecocardiograma para confirmar ou excluir a possibilidade da doença.
O tratamento é individualizado, de acordo com a alteração encontrada. Existem casos, por exemplo, que o recém-nascido deverá passar por um cateterismo, ao passo que em outros, uma cirurgia cardíaca se faz necessária. O paciente deve, então, ser conduzido por uma equipe multidisciplinar, composta por cardiologistas pediátricos, cirurgião cardíaco, pediatra, além de diversos outros profissionais.
Segundo a pediatra, a cardiopatia congênita ocorre quando uma pessoa nasce com algum defeito no coração, mas isso não significa que o problema seja necessariamente herdado. Podem ocorrer mutações genéticas no bebê enquanto ele está no útero materno, variações estas não advindas dos pais.
Alguns fatores que estão associados a um risco acentuado de cardiopatia congênita e que devem aumentar a suspeita do médico são a prematuridade, as síndromes genéticas, fatores maternos como diabetes mellitus, medicações utilizadas pela gestante e infecção intrauterina.
De acordo com as orientações do Ministério da Saúde, qualquer profissional da área da saúde integrante da equipe neonatal pode ser treinado para realizar o teste, mas preferencialmente, um pediatra ou um profissional de enfermagem.
“Temos que lembrar que os recém-nascidos com cardiopatia congênita crítica apresentam, com frequência, uma gama de outras patologias associadas à doença, como prematuridade, baixo peso ao nascer, sofrimento fetal intraútero, o que pode agravar substancialmente a evolução da doença. Além disso, outras questões estão envolvidas na taxa de sobrevida do recém-nascido como a escolha de uma maternidade que possua assistência especializada e qualificação do pediatra que estará presente na sala de parto e na unidade de cuidados intensivos, somados, é claro, à gravidade da patologia a ser corrigida.
Na cirurgia de correção de cardiopatias obstrutivas do lado direito, por exemplo, a mortalidade varia de 6% a 27%”. Nesse sentido, destaca a médica, “é muito importante a escolha da maternidade. Ela deve ter toda a infraestrutura necessária, contar com um bom Centro de Terapia Intensiva Neonatal (CTI), e uma equipe multidisciplinar.
O pediatra especializado no cuidado com o recém-nascido é fundamental, pois o Teste do Coraçãozinho não exclui o exame clínico do sistema cardiovascular detalhado (ausculta do coração, palpação do pulso periférico e observação de sinais de cianose). ”
Conforme orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, acrescenta a Dra. Bárbara Valério, toda gestante deve realizar uma consulta com o pediatra no pré-natal. Esse encontro é fundamental para o cuidado integral da família e do bebê que está sendo gerado. Nesta consulta, o pediatra deve orientar a família sobre todos os exames de triagem realizados após o nascimento, incluindo o Teste do Coraçãozinho.
“É importante também ressaltar que ainda no pré-natal deve haver uma atenção voltada ao coração do bebê que está sendo gerado. O ecocardiograma fetal deve ser realizado idealmente entre 18ª e 28ª semana de gestação, quando é possível visualizar melhor as alterações estruturais ou funcionais do coração do feto. Dessa forma, qualquer alteração identificada ainda no pré-natal, possibilita aos profissionais e à família o planejamento dos cuidados necessários”, conclui.