Abuso sexual infantil e violência doméstica ainda são temas vedados pela sociedade
Psicóloga Patrícia Bezerra: “os pais devem ficar de olho aos sinais e mudanças de comportamento de seus filhos, entre eles, vergonha excessiva do corpo, brincadeiras de cunho sexual, agressividade e tristeza”. Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
A cada uma hora, o Brasil tem 2,2 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, com registros no Disque 100, o telefone da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República. Cerca de 51% dessas vítimas têm entre 1 e 5 anos de idade, de acordo com dados do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Rede ECPAT Brasil. Entre os tipos de violência, o abuso sexual registra 49,3% de incidência, seguido pela psicológica – 24,4%, física – 15,6%, e negligência -10,7%.
Infelizmente, lamenta a psicóloga Patrícia Bezerra, de São Paulo/SP, assim como a violência doméstica, que cresceu nos últimos anos, inclusive na pandemia, esses assuntos ainda são banalizados pela sociedade. “Você que é mãe, pai, cuidador ou autoridade no seu Estado, não basta termos um dia ou um mês apenas de mobilização. Esses assuntos têm que ser a pauta diária dentro de casa, na escola e no Governo”, ressalta.
Especialista em saúde mental da mulher, da família, de crianças e de jovens, Patrícia Bezerra chama a atenção dos pais para ficarem de olho aos sinais e mudanças de comportamento de seus filhos. Alguns sinais são importantes, como vergonha excessiva do corpo, brincadeiras de cunho sexual, agressividade e tristeza, por exemplo.
“Infelizmente, as denúncias chegam tardias para as autoridades. O enfrentamento tem que acontecer na prevenção. A proteção de crianças e adolescentes é papel de todos nós. Além disso, a violência doméstica também é, sem dúvida, um dos maiores problemas da atualidade brasileira, tendo em vista que, muitas vezes, esse crime ocorre de forma velada, o que leva a uma banalização desse ato entre os indivíduos”.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirmam ter sofrido algum tipo de violência doméstica nos últimos 12 meses, ou seja, cerca de 17 milhões de mulheres brasileiras sofreram algum tipo de violência no último ano. “Somente no estado de São Paulo, por exemplo, as agressões dentro de casa aumentaram de 42% para 48,8%, tendo como um dos principais agravantes o período pandêmico em que o nosso país está passando”, destaca, informando que “infelizmente existem muitos tipos de violência. A ofensa verbal, como xingamentos e insultos, é a mais comum, além das ofensas sexuais ou tentativas forçadas de manter relações sexuais”.