Além dos dentes: 10 razões para cuidar da saúde bucal

Dr. Sérgio Kignel; “muitas pessoas acreditam que a boca é uma parte isolada do corpo e que ela não afeta a saúde geral. Pelo contrário, a saúde bucal atua na prevenção de uma série de doenças”

Quando falamos em saúde bucal nos referimos ao estado da boca, dos dentes e das estruturas orofaciais que permitem ao indivíduo desempenhar funções essenciais como comer, respirar e falar. Abrange uma série de doenças e condições que incluem cárie dentária, doença periodontal (gengiva), edentulismo (perda de dentes), trauma oro-dental, e defeitos congênitos, como fissura labial e palatina. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, as doenças orais estão entre as doenças não transmissíveis mais comuns em todo o mundo, afetando cerca de 3,5 bilhões de pessoas,

Conforme alerta o dentista Sérgio Kignel, doutor em Diagnóstico Bucal, de São Paulo/SP, a saúde bucal, nesse sentido, vai muito além dos dentes e de tudo mais que está dentro da boca, “Muitas pessoas acreditam que a boca é uma parte isolada do corpo e que ela não afeta a saúde geral. Pelo contrário, a saúde bucal atua na prevenção de uma série de doenças. Escovação, uso de fio dental e idas regulares ao dentista são ações que vão além de cuidar dos dentes”, afirma Kignel.

Em alusão ao Dia Mundial da Saúde, a ser celebrado neste domingo (7), o especialista Sérgio Kignel elenca 10 motivos, além dos dentes, para cuidar da saúde bucal, por contribuir para a prevenção de doenças fora da boca. 

1 – Endocardite infecciosa – A boca é um ambiente propício para a proliferação de bactérias.  Isso ocorre porque, quando a boca não é bem higienizada, as bactérias podem levar às infecções que, ao evoluírem, caem na corrente sanguínea e podem se alojar no coração e em outros órgãos vitais, causando a endocardite infecciosa, doença inflamação potencialmente fatal do revestimento interno das câmaras e válvulas do coração. Esse revestimento é chamado de endocárdio. Bactérias, fungos ou outros germes entram na corrente sanguínea e se fixam em áreas danificadas do coração. Sem tratamento rápido, a endocardite pode danificar ou destruir as válvulas cardíacas. Os tratamentos para endocardite incluem medicamentos e cirurgia.

2 – Outras doenças cardiovasculares – Além da endocardite, outras doenças cardiovasculares podem ser causadas por bactérias da boca que caem na corrente sanguínea. A gengivite e a periodontite são condições que geram feridas nas gengivas e mucosas da boca, lesões estas que, ao alcançar o coração, provocam outras doenças cardiovasculares como aterosclerose, que é formação de placas de gordura nas veias e artérias, prejudicando a circulação; arritmias, que são alterações nos batimentos cardíacos; acidente vascular cerebral (AVC), que é a obstrução ou deformação de vasos sanguíneos no cérebro e o infarto, que é a interrupção do fluxo de sangue para o coração. 

3 – Pneumonia – Germes presentes na boca podem chegar aos pulmões, levando a um quadro de pneumonia e outras doenças respiratórias. A falta de higiene bucal pode causar pneumonia por aspiração bacteriana, na qual grandes quantidades de bactérias da boca são inaladas e se instalam nos pulmões. O risco é aumentado em pacientes hospitalizados, idosos em condição vulnerável (como abrigos) e entre as pessoas em geral que não fazem uma adequada higiene bucal. 

4 – Complicações na gravidez e no parto – Evidências apontam que a periodontite (infecção da gengiva) aumenta o risco de parto prematuro e de bebês com baixo peso ao nascer. A gravidez pode tornar as mulheres mais propensas a doenças periodontais e cáries. De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, a saúde oral pode ser considerada uma parte importante dos cuidados pré-natais. Entre 60% e 75% das mulheres grávidas têm gengivite, um estágio inicial da doença periodontal que ocorre quando as gengivas ficam vermelhas e inchadas devido à inflamação que pode ser agravada pelas alterações hormonais durante a gravidez. A gengivite não tratada pode resultar em dano ao osso que sustenta a gengiva e os dentes podem ser perdidos. Com isso, a gengiva pode inflamar e o pouco suporte ósseo pode deixar os dentes frouxos, necessitando que eles sejam extraídos”, explica Sérgio Kignel. A gengivite também pode aumentar o nível dos líquidos biológicos que estimulam o parto. Além disso, como a gengivite em geral não dói, muitas mulheres só notam que têm o problema quando este já está em estado avançado.

Outros dados do CDC apontam que mulheres que apresentam muitas bactérias causadoras de cáries durante a gravidez e após o parto podem transmitir essas bactérias para a boca do bebê; uma em cada quatro mulheres em idade fértil tem cáries não tratadas; filhos de mães que apresentam altos níveis de cáries não tratadas ou perda dentária têm três vezes mais probabilidade de ter cáries quando crianças. Da mesma forma, crianças com mau estado de saúde oral têm quase três vezes mais probabilidade de faltar à escola devido a dores dentárias.

 5 – Câncer – Vários tipos de câncer têm sido associados a doenças gengivais. Estes incluem câncer de boca, trato gastrointestinal, pulmão, mama, próstata e útero. O câncer de cavidade oral é um dos mais incidentes na população brasileira. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é que 26 mil brasileiros receberão o diagnóstico de um câncer na cavidade oral em 2024. Esta localização corresponde a gengivas, língua, lábio, soalho bucal (a parte que fica embaixo da língua), palato duro (céu da boca) e a área atrás dos dentes do siso (retromolar). Dentre os sinais de câncer na cavidade oral estão a presença de mau hálito, placas vermelhas e brancas, secura na boca ou úlceras. Portanto, o diagnóstico pode começar já na cadeira do dentista.

Além disso, a boca pode ser agente de transmissão de câncer, principalmente por meio da prática de sexo oral, que é um fator de risco para infecção pelo papilomavírus humano (HPV). O HPV, especialmente os vírus do tipo 16 e 18, é a principal causa de câncer de colo do útero e está associado também com o desenvolvimento de câncer de pênis, canal anal, vulva, vagina e orofaringe.

6 – Infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) – A prática de sexo oral deve ser evitada, pois além de ser fator de risco para infecção pelo vírus HPV (que pode resultar em diferentes tipos de câncer), também está associada com outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Dentre as doenças, as mais comuns são herpes, gonorreia, clamídia e sífilis. A boa higiene bucal ajuda a prevenir estas infecções. 

7 – Diabetes – A gengivite é mais comum entre os pacientes com diagnóstico de diabetes. Nestes indivíduos é mais difícil controlar o açúcar no sangue. Com isso, a gengivite pode ser um fator de risco para o diabético, mesmo em indivíduos com açúcar controlado. O diabetes faz com que o corpo seja menos capaz de combater infecções.  Atendimento odontológico regular pode melhorar o controle do diabetes.

8 – Artrite reumatoide – A Porphyromonas gingivalis, uma bactéria que é causadora de doença periodontal e placa bacteriana, é um fator de risco para o desenvolvimento de artrite reumatoide em pacientes geneticamente predispostos. Isso ocorre porque estas bactérias possuem uma enzima, chamada peptidilarginina deiminase – PAD, que é capaz de produzir mudanças de aminoácidos constituintes das proteínas da mucosa da boca, processo conhecido como citrulinação. Quando a pessoa é portadora de uma combinação de genes – epítopo compartilhado – essas proteínas citrulinadas passam a estimular uma resposta de autoimunidade, desencadeando o surgimento e perpetuando a artrite reumatoide. 

9 – Doença de Alzheimer e demência – De acordo com a Organização Mundial da Saúde à medida que a doença de Alzheimer piora, a saúde oral também tende a piorar. Uma pesquisa publicada em 2022, no periódico da Sociedade Americana de Geriatria, concluiu que a má saúde bucal, caracterizada pela presença de periodontite, e a perda dentária estão associadas ao aumento no risco de declínio cognitivo e demência. Isso porque, segundo os autores, as bactérias da boca podem desempenhar um papel na inflamação do cérebro. 

10 – Saúde mental e bucal – O desalinhamento dos dentes pode estar associado com uma série de problemas de saúde, como distúrbio da ATM, bruxismo, dor de cabeça, enxaqueca, dor no corpo, dor cervical, dor lombar e, até mesmo, associado com maior sofrimento psicológico à pessoa que sofre desses distúrbios. A conclusão é do National Health and Nutrition Examination Survey, que aponta também que quase dois terços das pessoas diagnosticadas com depressão relataram ter dor de dente. Evidências também apontam que pessoas com saúde mental mais debilitada aderem menos ao tratamento odontológico e à higiene bucal

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