Especialista aborda os cuidados necessários para evitar esse desconforto vivenciado por muitas pessoas com diferentes gatilhos
A alergia está presente no dia a dia de muitas pessoas e, muitas vezes, pode ser confundida com outras doenças, como a gripe. Basta presenciar o nariz coçando ou enfrentar alguns espirros e tosse, que alegam estar com alergia, o que em alguns casos, pode não ser verdade. Afinal, você sabe o que realmente é considerado alergia? Para esclarecer as principais dúvidas, o Dr. Nelson Rosário Filho, Professor e Coordenador do Programa de Residência em Alergia e Imunologia Pediátrica da UFPR, em Curitiba, explica mais sobre o tema.
Segundo O Dr. Nelson, “a alergia é uma reação do corpo a uma substância que ele entende como “inimiga”. Essa reação acontece após o organismo entrar em contato com os alérgenos, substâncias consideradas nocivas pelo organismo de quem tem predisposição à alergia e que o sistema imunológico não consegue tolerar. Após o primeiro contato com o alérgeno, os leucócitos, que são as células de defesa, produzem os anticorpos IgE, que, por sua vez, são considerados o exército de defesa. Esse primeiro contato não gera sintomas de alergia, mas liga um alerta no organismo”.
Caso o corpo seja novamente exposto àquele alérgeno, o anticorpo IgE que foi produzido é acionado e há a liberação da histamina, substância química nos mastócitos (células que podem ser encontradas na pele, no sistema respiratório e no trato gastrointestinal), resultando em sintomas de alergia, como coriza, espirros e olhos lacrimejando, sendo esta, a resposta imune do organismo, que, muitas vezes, é confundida com a gripe.
Atenção redobrada com os pequenos – “A escola pode ser um dos locais mais críticos para a piora das alergias respiratórias. Isso ocorre devido à localização em áreas urbanas revelam alta exposição a partículas dos veículos motorizados, indicando as fontes antropogênicas de poluentes perto das unidades escolares. Além disso, o ambiente escolar é determinante por facilitar a disseminação de agentes infecciosos virais e, com os resfriados, facilitar as crises de asma e piora das alergias.
No início do outono a concentração de alérgenos de ácaros no ar atinge seu pico, a volta às aulas também contribui para mais sintomas nos que são alérgicos ao pó de casa e ácaros. Nesse sentido, alerta o especialista, “é importante tratar a rinite alérgica para obter o controle dos sintomas, especialmente nesta época do ano”.
Tipos de alergia – De acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), as alergias mais frequentes são as das vias respiratórias, como rinite e asma, e as alergias de pele, como dermatite atópica, de contato e urticárias. Mas existem também as alergias provenientes de picadas de inseto, alimentos e medicamentos, até alergias mais diferentes, como alergia ao frio e à água.
Gatilhos da rinite alérgica – Dr. Nelson explica que é importante estar atento aos fatores do cotidiano que podem favorecer a aparição da alergia: “Um deles são os ácaros, que costumam se localizar principalmente nos colchões e travesseiros. Eles são os principais responsáveis por prejudicar o nariz de quem sofre com rinite alérgica”, destaca.
Outro desencadeador bastante presente dentro de casa são os pets, que liberam componentes prejudiciais para a alergia. Nos gatos, por exemplo, o principal gatilho é produzido pelas suas glândulas sebáceas e, posteriormente, secretado pela pele do animal.
Ele ainda cita outros desencadeadores da alergia, como os poluentes do ar. A poluição proveniente da eliminação dos combustíveis derivados do petróleo pelos automóveis nas grandes cidades também é também capaz de acentuar a alergia, além de outros fatores, como, fungos e pólen, entre outros”.
Como evitar e tratar uma crise alérgica respiratória? – Para evitar uma crise alérgica, o Dr. Nelson explica que alguns cuidados são necessários. “O principal é garantir a redução do contato com as substâncias que causam a sensibilização do organismo, ou seja, os gatilhos da alergia”. Algumas dicas simples são muito eficazes, como manter uma rotina de limpeza dentro de casa, evitar o acúmulo de poeira, combater os pontos de mofo e umidade, manter o ambiente arejado, permitir a entrada de sol e higienizar e trocar com frequência os lençóis e travesseiros.
Segundo a ASBAI, “entender o que está causando a alergia e efetuar o controle ambiental, ou seja, cuidar para que o paciente não tenha contato com os alérgenos, também são forma de tratamento. Medicamentos, como os anti-histamínicos, também são indicados para combater os sintomas da alergia. Os antialérgicos de 2ª geração não causam sono, têm rápida ação e efeito prolongado.
É importante lembrar que o tratamento é individual, não há um só caminho que funcione para todos. É necessário levar em consideração as particularidades de cada paciente e enfatizar a importância de um especialista para indicar o melhor caminho a ser seguido, observa o médico.
“A congestão nasal e qualidade do sono têm que ser observados no paciente com rinoconjuntivite alérgica”, destaca. Anti-histamínicos por via oral são classificados entre primeira geração e segunda geração conforme efeitos colaterais observados. Vários medicamentos utilizados para o tratamento das alergias, entre eles os anti-histamínicos, são indicados para a rinite alérgica, mas a recomendação das diretrizes nacional e internacional é prescrever os anti-histamínicos de segunda geração, também conhecidos como não sedantes. Esses não causam sonolência e nem interferem com o sono repousante. Uma das fases do sono é conhecida como REM (Rapid Eye Movement), quando se atinge o ponto de recuperação do dia e pleno descanso”.
O impacto da qualidade do sono no aprendizado – De acordo com o Dr. Nelson, os estudos da ação de diferentes anti-histamínicos na qualidade do sono demonstraram que aqueles que causam sedação (primeira geração), além de bloquear o sono REM, deixam efeito residual de sonolência e fadiga no dia seguinte, interferem na psicomotricidade e na perda da capacidade de concentração, com consequência direta no aproveitamento escolar.
Conforme informa, a fexofenadina é um anti-histamínico não sedante com segurança e eficácia demonstradas a partir de 6 meses de idade. “Fármacos não sedantes são os que não atravessam a barreira hemato-encefálica (BHE). A fexofenadina não atravessa a BHE e não atinge o sistema nervoso central (ocupação de 0 H1R0). Artigos científicos de revisão sistemática e análises pós-comercialização compararam a ação antihistamínica potencial de fexofenadina e outros anti-histamínicos ou placebo em indivíduos saudáveis e com alergias proporcionando informações seguras sobre a superioridade da fexofenadina”.
Por último, o Dr. Nelson salienta que “é possível reduzir o impacto das alergias na qualidade do aprendizado infantil por meio de ações de diagnóstico, prevenção e tratamento, as quais podem ser implementadas de forma colaborativa entre responsáveis, professores e profissionais da saúde. A identificação de alergias em crianças, especialmente aquelas que ainda não conseguem se comunicar eficientemente, pode representar um desafio. No entanto, é possível observar os sintomas visíveis das alergias”.