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Nos últimos meses, Minas Gerais tem enfrentado um preocupante aumento nos casos de coqueluche, doença infecciosa altamente transmissível que afeta principalmente crianças pequenas. A baixa cobertura vacinal é apontada como uma das principais causas desse surto, que já resultou em um número significativo de internações e complicações graves.
A infectologista pediátrica e professora da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Andrea Luchesi, faz um alerta sobre o aumento de casos de coqueluche no Estado. Conforme destaca, “devido à baixa cobertura vacinal, os casos de coqueluche dobraram neste ano em comparação ao ano passado. O Ministério da Saúde tem como meta alcançar 95% da população, porém Minas Gerais alcançou apenas 73,12% deste objetivo”. Segundo dados da Secretaria do Estado de Saúde, mais de 240 casos foram confirmados apenas na primeira metade deste ano.
A coqueluche é uma doença infecciosa aguda, de alta transmissibilidade e distribuição universal. “É uma importante causa de morbimortalidade infantil, comprometendo especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios) e se caracterizando por paroxismos de tosse seca. Em lactentes, especialmente os menores de seis meses, pode resultar em um número elevado de complicações e até em morte. O agente etiológico da coqueluche é uma bactéria, a Bordetella pertussis, um cocobacilo Gram-negativo.
“O ser humano é o único reservatório natural dessa bactéria. A doença é transmitida pelo ar, sendo uma grande preocupação para os pais de crianças com até um ano de idade, período em que os casos podem evoluir para quadros graves”, explica Luchesi. A transmissão ocorre principalmente pelo contato direto entre a pessoa doente e a pessoa suscetível, por meio de gotículas de secreção da orofaringe eliminadas durante a fala, a tosse e o espirro. “Em alguns casos, pode ocorrer a transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes, mas isso é pouco frequente devido à dificuldade de o agente sobreviver fora do hospedeiro”, acrescenta a professora.
Luchesi também ressalta que a suscetibilidade à coqueluche é geral. “O indivíduo torna-se imune em duas situações: ao adquirir a doença, embora essa imunidade não seja permanente, ou pela vacinação, que também não é permanente e deve ser repetida após cinco a dez anos”, enfatiza. A doença tem três fases clínica: fase catarral (inespecífica), fase paroxística (onde a queixa principal é a tosse, com paroxismos de tosse seca) e fase de convalescença.
O diagnóstico é baseado em culturas de amostras nasofaríngeas, testes de anticorpos por fluorescência direta e PCR específico para a Bordetella pertussis, além de exames sorológicos.
O tratamento específico geralmente envolve o uso de macrolídeos, mas, quando administrado na fase paroxística, não altera o curso clínico da doença, apenas diminui o período de transmissibilidade.
A vacinação é fundamental, especialmente da gestante, do lactente, dos cuidadores de lactentes jovens e, idealmente, a revacinação universal do adulto a cada 10 anos.