Asma: ausência de sintomas não é sinal de cura

Por:  Marcia Toraiwa, pediatra, especialista em alergia e imunologia do Hospital Luz Vila Mariana/São Paulo/SP

Foto: Freepik

Ele não tinha crises há anos. Estava bem e já não usava mais a bombinha. Achou que tinha superado a asma. Só percebeu que a doença não havia ido embora quando acordou de madrugada com tosse, sentindo falta de ar e que sua respiração não estava normal.

Quando a doença crônica é silenciosa, ou passa longos períodos sem dar sinais, muitos pacientes acreditam que ela foi embora. Deixam de tomar os medicamentos, param de visitar o médico e até abandonam o tratamento. Quem nunca ouviu (ou viveu) uma história assim? Mas a doença não nos esquece. Um dia, sem aviso, ela pode voltar ou, então, aquela que nunca nos deixou pode se agravar e, de repente, quebrar o seu silêncio.

A pessoa se sente confiante, tranquila e acredita não ter mais a asma, pois quando leve e intermitente, pode disfarçar os sintomas: não ter a falta de ar ou o chiado no peito, apenas uma tosse recorrente que muita gente acha que é do refluxo ou da rinite. Mas a asma pode realmente ficar silenciosa por um bom tempo, até anos. Ela é traiçoeira. E, nessa falsa sensação de segurança, o acompanhamento é deixado de lado.

“Dra., faz tempo que não sinto nada. Acho que minha asma passou.” Essa é uma frase que escuto com certa frequência no consultório.

O que muitos não sabem é que a asma, mesmo controlada, continua ali e mata mais de 455 mil pessoas por ano, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, cerca de 20 milhões de brasileiros convivem com ela, quase 10% da população, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

A ausência de sintomas, ou quando eles se manifestam de forma muito leve, faz com que muitos se “acostumem” com a condição, percebendo sua gravidade quando ela piora. Viver diariamente com uma asma leve, mas ainda ativa, significa conviver com uma inflamação nos pulmões, que pode causar o que chamamos de remodelamento das vias respiratórias, um processo que, com o tempo, torna o broncoespasmo irreversível, dificultando o controle da doença e comprometendo a qualidade de vida.

A mesma modernidade que trouxe conforto para nossa vida também aumentou a exposição a irritantes para os asmáticos, como mudanças climáticas, poluição e estresse. Esses fatores se somam aos velhos conhecidos desencadeadores de crises, as infecções respiratórias, a exposição a alérgenos, como poeira, ácaros, mofo e pelos de animais.

Por outro lado, a medicina também evoluiu muito, oferecendo uma variedade de tratamentos cada vez mais tecnológicos, como as novas vacinas para alergia e medicamentos à base de anticorpos desenvolvidos em laboratório para os casos graves de asma. Mas há algo que nunca muda: a necessidade do controle adequado dos sintomas e de um acompanhamento médico contínuo, que seguem sendo decisivos para salvar vidas.

A mensagem mais importante que precisamos guardar é que a asma pode ser controlada de forma eficaz, mas não tem cura. Uma vez asmático, sempre asmático. Quanto melhor o controle dos sintomas, maior a proteção, menor o risco de se tornarem mais tolerantes à doença, lembrando dela apenas quando a crise já está muito intensa e a vida em risco. Isso reforça a importância do acompanhamento médico regular e, quando indicado, do uso contínuo dos medicamentos de controle diário, como os corticosteróides inalatórios. E, quando você achar que os seus sintomas já não estão mais presentes, consulte seu médico antes de decidir, por conta própria, suspender as medicações.

A todos os que já passaram por uma crise de asma, lembrem-se: a asma faz parte de você. Não ter sintomas frequentes não significa que ela foi embora. Cuidar da asma, mesmo quando silenciosa, é essencial para garantir uma vida longa, saudável e com qualidade.

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