Com a pandemia de COVID-19, o hábito de estar 100% conectado à internet e aos dispositivos eletrônicos se fez necessário para dar continuidade às tarefas laborais e sociais. Porém, com uma mudança abrupta na rotina profissional, só com o tempo foi possível refletir sobre as consequências negativas dessa nova rotina. Rebeca Toyama, especialista em carreira e comportamento, alerta sobre os dois termos que estão circulando na mídia: o assédio digital e o burnout digital, e mostra que o resultado dessas ameaças afasta os colaboradores de uma carreira sustentável e saudável dentro das organizações.
De acordo com um levantamento feito pela Agência We Are Social, em parceria com a Meltwater, o brasileiro passa uma média de nove horas e meia conectado à internet em um dia normal, mais do que a média global de quase sete horas por dia. E o Brasil está em segundo lugar no ranking dos países mais conectados do mundo.
Segundo outro dado, a pesquisa feita pelo Instituto Think Eva junto com o Linkedin, mostra que durante a pandemia houve um grande aumento de casos de assédio virtual, e quem já praticava outras modalidades de assédio se sentiu mais seguro em repetir o ato ilícito por trás das telas no âmbito profissional. E, conforme ressalta a especialista Rebeca Toyama, são os colaboradores que mais sofrem com o assédio e burnout digital. Nesse sentido, tanto as organizações, como os funcionários precisam conhecer mais sobre o tema para mitigarem os riscos.
O termo burnout já diz, excesso mal gerenciado, então, o esgotamento voltado à conexão mostra os mesmos indícios do burnout ocupacional como: dificuldades de concentração e motivação, irritabilidade, insônia e percepção no aumento da sobrecarga mental.
Pesquisas já mostraram que quanto maior o tempo conectado aos dispositivos digitais, maiores são as consequências para o bem-estar físico e mental. “Combinando o esgotamento digital com o assédio virtual no ambiente de trabalho, então, o risco de sobrecarga é ainda maior porque passamos a maior parte do tempo que estamos acordados em frente a uma tela”, alerta Rebeca, acrescentando ainda que “quando falamos de burnout junto com o assédio digital, observamos a importância do papel dos gestores e líderes, para o bem e para o mau. Mesmo antes da pandemia já se falava em assédio virtual, mas com a chegada forçada do home office, nem todas as empresas souberam lidar com ‘os funcionários longe de seus olhos’ e a desconfiança da execução de tarefas, cumprimento de metas, acabaram gerando um excesso de mensagens, e-mails e ligações fora do horário de trabalho, interrompendo momentos pessoais muitas vezes com cobranças e reclamações” comenta a especialista em carreira e comportamento.
Assédio virtual Corporativo – O assédio virtual corporativo ou cyberbullying consiste no uso repetido e sem consentimento da tecnologia, para extrair ou divulgar informações de um indivíduo com quem se tem uma relação de trabalho, com o objetivo de ofender, intimidar ou perseguir. Esse comportamento pode se constituir crime quando representar atentado à intimidade, à honra e à privacidade da vítima. Portanto, vale lembrar que tanto o assédio sexual como o moral podem também estar inseridos nesta modalidade, pois é possível serem feitos a partir de dispositivos conectados à internet.
Para Rebeca, muitas vezes os gestores e líderes não têm noção do impacto que esses atos têm sob a saúde mental dos colaboradores. “O aumento da presença da tecnologia na vida das pessoas e empresas têm demandado um grande esforço de aprendizagem, e, muitas vezes um gestor ou líder não tem ideia do impacto de seus atos na saúde mental e física de sua equipe!”, alerta.
A especialista ainda explica que o assédio virtual, junto do burnout digital, afasta os profissionais de uma carreira saudável, uma vez que afeta a saúde e o bem-estar dos colaboradores, gera um ambiente tóxico, prejudica a produtividade e a motivação no trabalho, além de ainda causar danos à reputação da empresa.
Tendo em vista essa realidade, ela enfatiza que “todas as empresas devem proporcionar um ambiente de trabalho seguro, saudável e sustentável, e buscar erradicar qualquer prática que possa colocar em risco o bem-estar físico, mental e social dos seus colaboradores”. A seguir, ela seleciona cinco dicas para ajudar as empresas e seus líderes a combaterem o assédio virtual e burnout digital. Confira:
1 – Estabeleça uma política clara de prevenção – Desenvolva e implemente uma política robusta que aborde especificamente o assédio virtual e o burnout digital. Certifique-se de que todos os funcionários estejam cientes da política, entendam suas diretrizes e consequências.
2 – Promova a conscientização e a educação – Realize treinamentos regulares para educar os funcionários sobre qualquer tipo de assédio. Aborde as definições, os impactos e as formas de prevenção. Incentive a diversidade, a inclusão e a equidade.
3 – Crie canais de denúncia e procedimentos seguros – Estabeleça mudança efetiva para que os funcionários possam relatar casos de assédio virtual e buscar apoio em relação ao burnout digital. Garanta que esses canais sejam acessíveis e livres de represálias.
4 – Promova um ambiente de trabalho equilibrado – Incentivo ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Estabeleça políticas que incentivam os funcionários a desconectarem-se do trabalho fora do horário de expediente, a tirarem férias e cuidarem da sua saúde física e mental.
5 – Monitore e avalie constantemente – Esteja atento aos sinais de assédio virtual e burnout digital. Realize pesquisas de clima organizacional, promova estimativas regulares e esteja aberto ao feedback dos funcionários. Use essas informações para identificar áreas problemáticas e implementar medidas preventivas seguidas.
“Lembre-se de que a prevenção do assédio virtual e do burnout digital requer um esforço contínuo. Ao adotar essas dicas, você estará criando um ambiente de trabalho saudável, seguro e produtivo para todos os colaboradores”, finaliza Rebeca Toyama.