Atendimento Pré-Hospitalar/APH Solidário: salvando vidas em situações de risco
Instrutor e Socorrista Igor Maximiliano de Oliveira: “o objetivo do curso é habilitar pessoas de todas as áreas a reconhecer a presença de sangramentos massivos e controlá-los”
Não sei se você já viveu uma situação na qual poderia salvar a vida de alguém, ou minimizar um possível trauma, se soubesse como realizar os primeiros socorros, mas saiba que existe em Belo Horizonte/MG, um curso que te qualifica para ajudar pessoas em situação de risco. O Atendimento Pré-hospitalar Solidário, também conhecido pelo nome APH Solidário, oferece conhecimento técnico para socorrer a vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o agravo à sua saúde, fora do âmbito hospitalar, seja de maneira direta ou indireta, por meio dos recursos disponíveis.
Através do curso APH, oferecido pelo instrutor Igor Maximiliano de Oliveira, você poderá proporcionar condições mais estáveis e mais tempo para a vítima de acidentes ser atendida por um apoio especializado.
Ele é socorrista e policial militar, com formação em APH nos cursos do Corpo de Bombeiros de MG, Comitê Brasileiro de APH em Combate (MARC 1) e Comitê Internacional do Trauma (The American College of Surgeons’ STOP THE BLEED® program).
Nesta entrevista ao Portal Medicina e Saúde, ele fala sobre seu trabalho à frente do APH Solidário.
Igor, como tudo começou?
Em meados de 2003 fui vítima de um acidente de trânsito em que tive um agravamento de quadro devido à falta de preparo do primeiro interventor no meu acidente. Eu estava conduzindo uma motocicleta e um motorista em um carro não respeitou uma placa de PARE, na área central de Belo Horizonte. Após a colisão direta, tive uma fratura exposta na perna e um choque forte da minha cabeça (com capacete) no para brisa do carro. O motorista de imediato retirou o meu capacete, o que ocasionou um agravo do quadro, sendo necessária uma intervenção cirúrgica. Após esta situação eu resolvi buscar conhecimento realizando o meu primeiro curso de APH. Quando entrei para a PMMG, aprofundei mais no tema e realizei um curso de primeiros socorros.
O projeto APH solidário surgiu, assim, dessa motivação e de uma demanda conjunta de apoio a instituições de caridade, com o objetivo de levar conhecimento ao maior número de pessoas possível.
Desde quando existe o curso que ministra?
No Brasil, desde 2013. Ele começou nos Estados Unidos, com a campanha Stop the Bleed ®, através de uma iniciativa do Colégio Americano de Cirurgiões, do Departamento de Defesa dos EUA e do Consenso Hartford.
Qual o principal objetivo do curso?
É habilitar pessoas de todas as áreas a reconhecer a presença de sangramentos massivos e controlá-los, proporcionando às vítimas de acidentes mais tempo de sobrevida para que o atendimento especializado consiga removê-las de forma mais estável e em tempo hábil para uma unidade hospitalar.
A maioria dos protocolos de atendimento pré-hospitalar (XABCDE, MARCH, TCCC, MARC, ABC) considera o sangramento massivo como situação mais grave. Estatisticamente, uma vítima esse sangramento tem aproximadamente 3 minutos de vida. Como este tempo é muito curto, é necessária uma intervenção objetiva para que este sangramento pare e a vítima tenha mais tempo de ser socorrida.
Quais as principais técnicas são ensinadas no curso?
Como o curso é voltado ao apoio de vítimas com sangramentos massivos, as principais técnicas abordadas são as de contenção desses sangramentos (torniquete e preenchimento) e compressão direta. Tais técnicas são ensinadas de forma teórica e prática e, principalmente, são desmistificadas algumas “abordagens” que podem agravar o quadro da vítima.
O que é sangramento massivo?
Os sangramentos massivos são as hemorragias que causam um extravasamento de sangue em grandes proporções que leva a vítima a evoluir para um quadro de choque hipovolêmico e, consequentemente, ao óbito, caso não seja atendida a tempo. Durante o curso, os alunos têm acesso a conceitos básico sobre os tipos de hemorragias e, principalmente, e a identificação de hemorragias graves. Também é transmitido, de forma bem dinâmica, as características do choque hipovolêmico para que sejam observados, memorizados e descritos de maneira correta para o atendimento médico de urgência (SAMU, RESGATE, etc.).
Alguma abordagem sobre resgate?
A abordagem do curso APH solidário tem por base os pilares do conhecimento simples e replicável. Portanto, o conhecido “básico bem feito” é estimulado em todos os momentos do curso. O aluno é levado a todo momento a refletir que não irá resolver o problema, e muito menos tentar fazer o que um atendimento especializado da área de saúde faz. Ele deve prestar apoio, de forma correta e humana à vítima, para que ela tenha mais tempo para, aí sim, ser devidamente socorrida. É a maneira racional de tentar parar, ou ao menos aumentar este tempo de vida, que é cruel em situações extremas.
Na sua experiência, a maioria das pessoas é muito despreparada para socorrer as pessoas? Por que?
O despreparo certamente vem da base e, infelizmente, não temos a matéria de Atendimento Pré Hospitalar na grade curricular do ensino brasileiro. Nos Estados Unidos e Europa, matérias de APH são ensinadas para crianças, e, desde então, elas têm acesso a este conteúdo que, ao meu ver, salva vidas. Quando não falamos abertamente sobre o assunto, a compartimentação da informação se torna restrita nas grades de ensino das áreas de saúde e causam um “empirismo cultural” que fragiliza todos nós. Uma situação de emergência é por si só muito tensa, e, se quem for socorrer não possuir conhecimento, ele tende a realizar condutas empíricas que, na maioria das vezes, agrava o quadro clínico da vítima a patamares irreversíveis.
Qual a sua principal motivação para realizar esse trabalho?
Acho que é acreditar que devemos sempre fazer o bem, sem olhar a quem. Se acreditarmos verdadeiramente que é importante estarmos sempre preparados, podemos evitar mortes. A proteção da vida não está somente nas mãos de quem se propõe profissionalmente para tal, mas sim, na responsabilidade e no cuidado de cada um de nós. Ter uma atitude humanizada é ter empatia ao sofrimento alheio e tentar ajudar da melhor forma possível. Portanto, enquanto eu tiver forças e puder ajudar, assim o farei.
Como funciona o curso?
O curso tem carga horária de aproximadamente 8 horas / aula. Esse tempo é divido em teoria, prática e atividades simuladas avaliativas. Seu conteúdo tem como base didática o protocolo da campanha Stop the Bleed (que tem como objetivo proporcionar conhecimento sobre os tipos de hemorragias, quadro clínico hemorrágico e suas consequências, e as principais técnicas utilizadas para o controle de hemorragias). Ele segue também as orientações do comitê do trauma da American College of Surgeons.
As inscrições são feitas através das redes sociais @atiretreinamentos e @stbsolidario, ambos com perfis do Instagram ou pelo fone 31 996580513. O valor é a doação de uma cesta básica ou de produtos não perecíveis.