Nos últimos 20 anos, houve um aumento da prevalência dos fatores de risco para a enfermidade entre pessoas de 18 a 50 anos. Condição não demonstra sintomas claros e pode provocar infarto e arritmias fatais.
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De acordo com o Ministério da Saúde, as doenças cardiovasculares são as principais causas de óbito no Brasil e estão cada vez mais presentes entre os jovens. Este fato é confirmado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). De acordo com a entidade, a doença arterial coronariana (DAC), que pode evoluir para o infarto agudo do miocárdio e desencadear outros problemas no coração, está afetando cada vez mais pessoas a partir dos 18 anos.
Segundo o Dr. Filipe Penna/Rio de Janeiro/RJ, cardiologista da CDPI Cardio, que faz parte da Dasa, a DAC surge por causa do entupimento e bloqueio do fluxo sanguíneo nas artérias do coração, em geral, causados pelo depósito de placas de aterosclerose, formadas, principalmente, por gordura e cálcio nas paredes das artérias. “Nos últimos 20 anos, houve um aumento da prevalência dos fatores de risco para essa condição – em especial o sedentarismo, a obesidade e dieta inapropriada – entre pessoas de 18 a 50 anos. A taxa de abuso de substâncias ilícitas, cigarros eletrônicos e esteroides anabolizantes também cresce nessa faixa etária e influencia o surgimento da doença”, detalha o especialista. “Isso sugere que possa haver potencial epidemia de doenças cardiovasculares no futuro, à medida que essa população envelhece.”
O surgimento das placas de aterosclerose é um processo que, inicialmente, ocorre sem sintomas ao longo da vida da pessoa. Porém, quando surgem os sinais, o paciente pode sentir dor no peito e/ou cansaço causados pelo esforço físico e que tendem a melhorar durante o repouso. Em outras ocasiões, a primeira manifestação da DAC pode ser por meio de infarto agudo do miocárdio e até mesmo arritmias cardíacas, que podem levar à morte súbita.
Conforme o Dr. Filipe explica, “os sintomas são semelhantes entre jovens e pessoas mais velhas. O que acontece com frequência é a dor no peito não ser valorizada de forma adequada tanto pelo paciente quanto pela equipe de saúde nos pacientes mais jovens, em especial as mulheres. Por isso, é fundamental que, na suspeita de DAC, o atendimento seja feito em centros de excelência e com profissionais qualificados”.
Ele destaca também que o diagnóstico precoce e hábitos de vida saudáveis são a chave para melhorar a saúde do coração. O primeiro passo começa com avaliação do cardiologista e exame físico durante a consulta. É nesse momento que o médico analisa o risco de o paciente desenvolver essa doença ao longo da vida. Quando necessário, ele pode solicitar exames adicionais, como o escore de cálcio, uma tomografia sem contraste que quantifica as placas de cálcio nas artérias coronárias, e a angiotomografia das artérias coronárias, outra tomografia, agora realizada com contraste, que permite detectar as placas calcificadas e não calcificadas nas artérias do coração. Esse segundo exame mede o grau de obstrução/entupimento e a extensão da doença no paciente.
“Em caso de DAC não obstrutiva, quando o paciente tem placas que não reduzem em mais de 50% o calibre do vaso, são feitos o controle dos fatores de risco, mudanças de hábitos de vida e, a depender do caso, o uso de medicamentos para reduzir o colesterol e estabilizar as placas. A detecção precoce tem um impacto importante na qualidade e quantidade de vida do paciente com DAC, já que é sabido que o tratamento medicamentoso associado à mudança saudável no estilo de vida reduz bastante a mortalidade pela doença”, define o cardiologista.
Quando há a DAC obstrutiva, que ocorre em casos avançados, podem ser necessários exames adicionais e, em circunstâncias selecionadas, até mesmo procedimentos mais invasivos, por exemplo, a angioplastia para implante de stents, pequenos dispositivos intravasculares que reestabelecem o fluxo sanguíneo. Em alguns casos, é indicada a cirurgia de revascularização do miocárdio, também conhecida como colocação de pontes de safena ou mamária, para a melhora da qualidade de vida dos pacientes.
Um bom exemplo de como uma avaliação precoce da saúde do coração pode mudar vidas é Bruno Vinicius Correia Gonçalves Dias, técnico em radiologia da CDPI, que, aos 33 anos, fez dois exames cardíacos que apresentaram alterações com acúmulo de placas gordurosas nas artérias. Diante desse quadro, ele decidiu mudar de hábitos, começando por exercícios físicos e uma alimentação saudável. “Pensei que tinha que melhorar para, no futuro, ter boa qualidade de vida”, comenta.
De acordo com o Dr. Filipe, a chave para uma vida saudável e com menos chances de desenvolver a DAC começa com mudanças no estilo de vida, como a adoção de hábitos mais saudáveis, com alimentação equilibrada, prática de exercícios físicos regulares e cuidado com a saúde mental, em associação ao acompanhamento médico regular desde a juventude.