O aumento pode ser atribuído a uma combinação de fatores estruturais, sociais e sanitários, agravados por eventos recentes como, por exemplo, a pandemia de Covid-19
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Apesar de ser prevenível e curável, a tuberculose continua sendo uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo. Levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) através do Instituto Gonzalo Muniz, na Bahia, divulgado em fevereiro, aponta que as atuais políticas públicas do Brasil não serão suficientes para que o país atinja as metas fixadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) voltadas para a eliminação da doença. Em 2023, o Brasil registrou 39,8 casos de tuberculose por 100 mil habitantes. As projeções do estudo indicam que, até 2030, a incidência será ainda maior: 42,1 por 100 mil pessoas.
Para o pneumologista Guylherme Saraiva, de Goiânia/GO, várias questões levam a este cenário. ‘‘Nos últimos anos, o aumento dos números de tuberculose no Brasil pode ser atribuído a uma combinação de fatores estruturais, sociais e sanitários, agravados por eventos recentes como, por exemplo, a pandemia de Covid-19. Durante a pandemia, por exemplo, houve um redirecionamento de esforços e recursos, interrupção de vários serviços, além de subnotificação’’.
Diante desse cenário, no Dia Mundial da Tuberculose (TB), celebrado em 24 de março, a OMS lança a campanha mundial “Sim! Podemos acabar com a tuberculose” com objetivo de transmitir uma mensagem de esperança de que é possível voltar ao caminho certo para inverter a tendência da epidemia da tuberculose, cujo objetivo do órgão é a erradicação da doença até 2035. ‘‘Ainda existem desafios a serem superados como a desigualdade de acesso às tecnologias em um país continental, também a existência de populações mais vulneráveis, subnotificação e subdiagnóstico da doença’’, alerta o médico sobre a meta.
A doença – A tuberculose é infectocontagiosa e transmissível causada pela bactéria Micobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A forma mais comum de apresentação é a tuberculose pulmonar, já que a doença afeta prioritariamente os pulmões. ‘‘Deve-se ficar atento à tosse prolongada, especialmente por mais de duas semanas, presença de escarro com rajas de sangue, febre vespertina, perda de peso e suor excessivo à noite’’, pontua Guylherme Saraiva sobre os sintomas da enfermidade.
A tuberculose é uma doença de transmissão aérea, ou seja, ocorre a partir da inalação de aerossóis. Ao falar, espirrar e, principalmente, ao tossir, as pessoas com tuberculose ativa lançam no ar partículas em forma de aerossóis que contêm os bacilos. Nesse sentido, é importante evitar contato desprotegido com pessoas infectadas em fase de transmissão. “Para prevenir é fundamental o uso de máscara. Há também a vacinação BCG feita ao nascer, que protege contra formas graves da doença’’, ressalta o pneumologista. Ambientes fechados, mal ventilados e aglomerações também favorecem a transmissão.
Portadores de HIV, que têm a imunidade diminuída, pessoas privadas de liberdade e também moradores de rua estão entre as populações mais vulneráveis à doença. Mas vale ressaltar ainda que o paciente com diabetes tem duas a três vezes mais chance de ter tuberculose do que a população em geral, além de ter mais dificuldade para responder ao tratamento.
O Dr. Guylherme Saraiva salienta ainda: ‘‘Hoje em dia existem tratamentos com base em medicação oral e totalmente gratuita disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Paciente com a forma pulmonar da tuberculose habitualmente toma medicação oral por cerca de seis meses”.