Estatisticamente, o HPV responde por quase 100% dos casos de câncer de colo de útero e a prevenção é feita através de vacinação da população jovem
A recente incorporação pelo SUS do teste molecular não só para identificar a infecção pelo HPV – papiloma vírus humano – como, também, a contaminação pelos tipos de alto risco para câncer de colo de útero, deve reduzir drasticamente no Brasil o número de casos do câncer mais temido pelas mulheres, como ocorreu em Portugal.
A colocação foi feita pelo especialista português Hugo Sousa, que participa do programa de combate ao HPV em Portugal e se pronunciou no Congresso de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial, em Salvador, que começou no dia 10 de setembro e se estende até sexta, 13 de setembro. A afirmação é importante, pois o Ministério da Saúde estima que a cada ano são identificados cerca de 17.000 casos de câncer de colo de útero no Brasil, que tem cura se identificados precocemente, mas que são quase sempre fatais se não tratados. Só na Região Norte, esse câncer responde por 15,4% dos óbitos de mulheres. A percentagem de contaminadas por algum tipo de HPV é de 50,4% no País, enquanto a de homens é de 41,6%.
O especialista, que veio ao Brasil a convite da Seegene, empresa voltada para a produção de testes de diagnóstico molecular que substituem o tradicional papanicolau, explica que esse novo exame indica com precisão quem está contaminado pelos tipos de HPV, que representam alto risco para o câncer, que não são todos. “Com esse conhecimento, a Saúde Pública se concentra num número reduzido de casos de HPV”, sem precisar acompanhar todas as contaminadas, diz Hugo Sousa.
Contaminação silenciosa – Estatisticamente, o HPV responde por quase 100% dos casos de câncer de colo de útero, 80% dos casos de câncer do ânus, 35% dos de orofaringe, e 25% dos casos de câncer da boca.
A prevenção é feita através de vacinação da população jovem, mas, como a cobertura vacinal ainda é insuficiente no mundo inteiro, o importante é a universalização do diagnóstico molecular, PCR. Esse diagnóstico se baseia no DNA do vírus. No caso, o produto da Seegene, identifica se há infecção e qual dos principais 14 tipos de vírus HPV de alto risco para o câncer está presente na amostra.
Com esse teste, o diagnóstico de câncer de colo de útero é antecipado em até 10 anos. Dessa forma, a expectativa do Ministério da Saúde do Brasil é que, com a incorporação desse teste agora, “será possível eliminar o câncer do colo de útero como problema de Saúde Pública até 2030”.
Experiência de Portugal – O Dr. Hugo Souza, que é patologista clínico, explica que na década de 90, Portugal introduziu o exame papanicolau, em 2006 passou a usar a citologia em meio líquido, mas, como a sensibilidade para o câncer era insuficiente, a partir de 2016, um primeiro programa de teste molecular foi iniciado numa área do Norte de Portugal.
A prevalência de contaminação por HPV, na faixa de 25 a 64 anos, em Portugal, é de 13%, explica o médico, e o teste molecular identificando quem não está contaminado com os tipos de alto risco de HPV “permitiu descartar 87% das mulheres testadas, que não precisavam ser acompanhadas”.
A experiência mostrou que das 13% contaminadas com HPV de alto risco, apenas 2% viriam a ter lesão grave, revela o médico, destacando a importância e a economia para a Saúde Pública, que pode, então, se concentrar numa pequena parcela das mulheres, as quais passam por um exame ginecológico, são tratadas e rastreadas. Nesses casos, o câncer nunca chega a evoluir. É este caminho que o médico vê o Brasil começar a trilhar com a incorporação, agora, pelo SUS, do diagnóstico molecular para HPV.