Dr. Higor Mantovani: “o estilo de vida que levamos diz muito sobre o nosso futuro próximo”
Homens brancos, com mais de 60 anos, e que fazem uso de tabaco, precisam reforçar a atenção com a saúde, principalmente no que diz respeito ao câncer de bexiga. Isso porque, esse perfil é um dos mais atingidos pela doença, que, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) deve fazer 11.370 vítimas em todo o Brasil, entre os anos de 2023 e 2025. Esse tipo de tumor é duas vezes mais frequente em homens e em pessoas brancas. Apesar de ser considerado pouco frequente, ocupando a 12ª posição no Brasil, é uma doença que pode ser evitada com a alteração do estilo de vida.
As causas do câncer de bexiga ainda não são conhecidas, mas o tabagismo é um dos principais fatores de risco para a doença. O oncologista Higor Mantovani, do Grupo SOnHe, de Campinas/SP, reforça a necessidade de uma mudança de hábitos entre as pessoas, abandonando o cigarro e incorporando atividade física e alimentação saudável à rotina. “A pandemia nos ensinou muito sobre a importância da vida saudável. Pessoas ativas, que mantinham uma alimentação saudável, evitando ultra processados, se sentiam menos vulneráveis à COVID-19. Não é só uma sensação! O estilo de vida que levamos diz muito sobre o nosso futuro próximo”, alerta o médico.
Cerca de 90% dos pacientes descobrem o câncer de bexiga após os 55 anos, o que faz com que a doença seja associada a pessoas com mais idade. Na maioria dos casos, o câncer de bexiga se apresenta de maneira leve, atingindo a mucosa de revestimento interno, chamada de urotélio. Sangue na urina e alteração nos hábitos urinários são sintomas característicos e exigem investigação imediata. “Se o paciente sentir dor, dificuldade ou até mesmo vontade excessiva de urinar, é preciso procurar um especialista”, alerta o oncologista. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais chances de cura o paciente apresenta.
Novidades – O tratamento padrão do câncer de bexiga traz abordagens cirúrgicas e quimioterápicas, com base em compostos derivados de platina. Atualmente, a Oncologia moderna passou a contar com novas tecnologias que vêm ganhando espaço no tratamento desta neoplasia e garantindo resultados satisfatórios, como a imunoterapia, indicada para pacientes que apresentavam o estágio mais avançado do câncer.
Alguns estudos comprovaram a eficácia dos imunoterápicos após a falha de quimioterapia com platina. Mais recentemente, ela passou a integrar uma estratégia de manutenção após algumas doses de tratamento com quimioterapia com platina; este tratamento é, hoje, o padrão de escolha para os pacientes que se apresentam com câncer de bexiga com metástases, ou com recidivam após algum tempo do tratamento definitivo deste câncer. “A imunoterapia também ganhou espaço no cenário inicial do câncer urotelial, mostrando resultados interessantes e sendo incorporada à prática clínica”, reforça o oncologista Higor Mantovani.
A terapia-alvo também trouxe avanços no tratamento do câncer de bexiga. É sabido que 15% a 20% dos pacientes com câncer urotelial têm alterações em genes do FGFR (receptor de fator de crescimento de fibroblastos). Neste sentido, foram desenvolvidos medicamentos que têm como alvo as células com tais alterações genéticas; como é o caso do Erdafitinibe. A última edição do Congresso Americano de Oncologia Clínica (ASCO 2023) trouxe resultados consistentes deste medicamento em segunda linha de tratamento do câncer urotelial avançado com alterações genéticas em FGFR. “Este remédio já está disponível no Brasil, mas ainda com cobertura restrita pelos planos de saúde e sem perspectivas de chegada ao SUS”, alerta o oncologista.
Mais recentemente, o arsenal terapêutico contra o câncer de bexiga ganhou mais um combatente; os chamados ADC’s (anticorpos conjugados a droga). Essa tecnologia foi recentemente incorporada no tratamento de câncer de mama no Brasil, tendo um mecanismo de ação diferente, no qual um composto antineoplásico é “entregue” dentro do microambiente celular, através de um anticorpo específico que tem afinidade com a célula tumoral.