O dermatologista Guilherme Gadens: “o aparecimento do carcinoma basocelular está diretamente relacionado à exposição solar excessiva”
A recente declaração da apresentadora e atriz Marília Gabriela, que passou por uma cirurgia para retirada de um câncer de pele no nariz, nos coloca em alerta e reafirma a importância da população se conscientizar sobre o assunto. Marília Gabriela retirou um carcinoma basocelular – um dos cânceres de pele mais frequentes e com maior índice de cura, desde que tratado precocemente.
Para saber mais a respeito, o Portal Medicina e Saúde entrevistou o dermatologista Guilherme Augusto Gadens, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que é médico preceptor do ambulatório de câncer de pele da Santa Casa de Curitiba.
Inicialmente, Dr. Guilherme, o senhor poderia explicar o que é um carcinoma basocelular?
Carcinoma basocelular, também conhecido pela sigla CBC, é um tipo de câncer de pele, portanto, uma lesão maligna.
Quais os tipos de carcinoma basocelular?
O tipo do carcinoma basocelular é definido pela avaliação histológica, microscópica da lesão, e está relacionado à agressividade de cada caso. Existem carcinomas basocelulares superficiais, nodulares, micronodulares, infiltrativos, entre outros.
Por que no caso da apresentadora e atriz Marília Gabriela ocorreu no nariz?
O aparecimento do carcinoma basocelular está diretamente relacionado à exposição solar excessiva. Ele surge, principalmente, assim, nas áreas mais expostas, como o nariz. Mas pode acontecer em outros locais da face, couro cabeludo – em especial nos pacientes calvos, orelhas – áreas usualmente esquecidas na aplicação dos protetores solares -, pescoço e colo. Membros superiores também são sítios frequentes de CBC. Entretanto, cabe ressaltar que, apesar de mais comuns nas localizações citadas, podem aparecer em qualquer local do corpo.
Sendo comum, o senhor teria uma estatística de sua incidência no Brasil?
O carcinoma basocelular é o câncer mais comum no Brasil e no mundo. Pelas estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer), ano passado ocorreram mais de 175 mil casos de câncer de pele não melanoma no país. Destes, cerca de 75% a 80% foram carcinomas basocelulares. No entanto, sua incidência pode ser maior, visto que o CBC não é uma doença de notificação compulsória no país. No EUA, por exemplo, onde os dados são mais confiáveis, segundo a American Cancer Society, este número é de assustadores cerca de 4.3 milhões de casos por ano.
Quais os sintomas deste tumor?
O CBC normalmente se manifesta como uma lesão avermelhada, brilhante, muitas vezes assintomática. Em outras situações pode apresentar sangramentos espontâneos, ou desencadeados por traumatismos mínimos, como enxugar o rosto, por exemplo. Uma ferida que não cicatriza, com o passar de algumas semanas, deve sempre causar alerta. Por fim, em alguns casos, pode ter pigmentação enegrecida.
Como se faz o diagnóstico?
Normalmente, o diagnóstico é realizado através de exame médico, dermatoscopia e biópsia. A dica é procurar um dermatologista ou outro médico capacitado ao perceber qualquer “sinal” que gere desconfiança ou tenha mudado recentemente.
Há como preveni-lo?
Sim, através do uso regular do protetor solar e outras medidas como, evitar exposição solar prolongada, principalmente entre 10h e 16h, utilizar medidas de proteção solar física, como roupas com proteção UV, chapéus, bonés, óculos escuros entre outras.
Quais os tratamentos existentes hoje?
Na enorme maioria dos casos, o tratamento é cirúrgico. Para casos iniciais e superficiais, em algumas áreas do corpo, podem ser realizados tratamentos com pomadas, luzes (terapia fotodinâmica), ou outros métodos destrutivos, entretanto, com taxas de cura inferiores ao tratamento cirúrgico. Para casos extremamente avançados, novos medicamentos têm surgido com bons resultados.
Na Dermatologia, houve avanços no tratamento desses tumores de pele?
Sim, a meu ver um grande avanço no tratamento destas lesões é a cirurgia micrográfica de Mohs, uma técnica cirúrgica que permite a remoção de tumores com maior precisão, melhores resultados estéticos e maior taxa de cura. Infelizmente, ainda temos poucos centros e profissionais capacitados no Brasil para a realização desta técnica. Outro avanço importante, como citei anteriormente, foi obtido com o desenvolvimento de novas drogas sistêmicas para casos avançados ou metastáticos.
Apesar dos avanços, devemos destacar que o câncer de pele, infelizmente, é uma realidade. A cada dia vemos um número maior de pacientes acometidos e um aumento assustador de casos entre os jovens. A prevenção e o diagnóstico precoce são as maiores armas para combater este inimigo tão frequente. Evitar exposição solar abusiva, examinar a sua própria pele e a de familiares com frequência e procurar atendimento médico imediato, caso note alguma lesão suspeita, são recomendações importantes que devem ser seguidas por todos.