Câncer ginecológico: três tipos mais comuns podem superar 40 mil novos casos anuais na próxima década
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Cerca de 32 mil brasileiras devem receber o diagnóstico de câncer de colo do útero em 2024 e em 2025. Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) na base Cancer Tomorrow, da Organização Mundial da Saúde, mostra que até 2035 é previsto um aumento de 26,6% no número de casos dos três tipos mais comuns de câncer ginecológico, (câncer de colo do útero, ovário e corpo do útero/endométrio). Esse dado reforça o alerta e a importância das medidas de prevenção – da campanha Setembro em Flor, de conscientização sobre esses tumores. Eles somam mais de 32 mil novos casos anuais.
Der acordo com os registros, o mais incidente entre as brasileiras é o câncer de colo uterino, que pode ser prevenido por meio de exame Papanicolau e pela vacina contra o papilomavírus humano (HPV), imunização que está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014.
Dentre as medidas de saúde pública efetivas e recentes, destaque para as discussões favoráveis à possível volta da vacinação nas escolas. Ação que, na avaliação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, pode contribuir para não só frear o aumento de casos de tumores ginecológicos, como, também, caminhar no sentido do movimento, apoiado pela entidade, de um Brasil sem câncer de colo do útero.
Risco até 2035 – Levantamento feito pela SBCO na base Cancer Tomorrow da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) mostra que o total de casos de câncer de colo do útero, corpo do útero/endométrio e ovário no mundo saltará de 1,4 milhão registrado em 2022, para 1,78 milhão em 2035, o que representa um aumento de 26,6%. Transpondo os dados para o Brasil, o salto previsto será dos atuais 32 mil para mais de 40 mil casos anuais daqui a uma década.
Segundo a OMS, o câncer de colo do útero é um problema de saúde pública e, para sair desse status, haveria a necessidade de reduzir a prevalência para abaixo de quatro casos por cada 100 mil mulheres por ano. No Brasil, por sua vez, a taxa ajustada é de 13 casos para cada 100 mil pessoas, superando em três vezes a meta estabelecida. O caminho para mudar esse cenário é conhecido: exame Papanicolau e vacina contra HPV. Para tanto, é fundamental haver conscientização, promover equidade de acesso aos programas de rastreamento em todo o país e aumentar as taxas de cobertura da vacina.
“Ter os exames preventivos em dia, como o Papanicolau, é fundamental, pois ele permite que sejamos capazes de identificar as alterações celulares antes que elas se transformem em câncer. É a medida mais eficaz para diminuir a incidência, pois, na coleta, podemos pegar as lesões quando ainda estão pré-malignas”, explica o cirurgião oncológico Reitan Ribeiro, vice-presidente da SBCO e titular do Departamento de Ginecologia Oncológica do Hospital Erasto Gaertner, do Paraná.
A vacina quadrivalente (que protege contra os HPVs 6, 11, 16 e 18), disponível no SUS, é recomendada para as crianças e adolescentes de 9 a 14 anos; pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, em tratamento de câncer, submetidas a transplantes, com imunodeficiência primária ou erro inato da imunidade, pessoas imunocompetentes de 9 a 45 anos vítimas de violência sexual.
Tipos e cirurgia em câncer ginecológico – A atuação do cirurgião oncológico compreende diferentes etapas. Cabe a ele avaliar o tamanho e a localização do tumor e, com isso, remover o máximo possível de doença. Em alguns casos, a cirurgia pode ter um papel também na redução do tumor, para melhorar a eficácia da quimioterapia e radioterapia. Os tipos de cirurgia são:
- Conização – Remoção parcial do colo do útero
- Histerectomia total – Remoção do útero, incluindo o colo do útero.
Histerectomia radical – Remoção do útero, colo do útero e parte da vagina. Os ovários, trompas de falópio ou gânglios linfáticos próximos também podem ser removidos.
Traquelectomia radical – Remoção ampla do colo do útero e preservação do corpo do útero para preservação de fertilidade em casos especiais - Salpingooforectomia unilateral – Remoção de um ovário e uma trompa de Falópio.
Salpingooforectomia bilateral – Remoção de ambos os ovários e ambas as trompas de falópio.
Omentectomia – Remoção do omento (uma almofada de gordura que fica dentro da cavidade abdominal).
Remoção de linfonodos – Remoção de todos ou de parte dos gânglios linfáticos.
Cirurgia de estadiamento – Remoção de amostras de tecido de diferentes partes da pelve e do abdômen para determinar o estágio do câncer ou até que ponto o câncer se espalhou. Isto ajudará a determinar o melhor curso de tratamento, uma vez que cânceres, em diferentes fases, podem ser tratados de forma diferente. - Cirurgia citorredutora – Remoção do máximo possível do tumor; normalmente em preparação para a quimioterapia (tratamento adjuvante).
As cirurgias onco-ginecológicas podem ser realizadas por diferentes vias, com destaque para as minimamente invasivas (videolaparoscopia e robótica). Por meio da laparoscopia, o cirurgião remove parte ou todo o tumor por meio de pequenos furos ao invés de fazer uma grande incisão, como ocorre na cirurgia aberta (convencional). É inserido na paciente um endoscópio – tubo flexível com luz e câmera acoplada, que permite a visualização dos órgãos internos e a inserção de pequenos instrumentos cirúrgicos. Na via robótica, os instrumentos são controlados remotamente.
A paciente, em geral, apresenta menos sangramento e cicatrizes, menos dor, menor tempo de internação hospitalar, recuperação mais rápida, retorno mais precoce à atividade normal e cicatrizes menores. “Além disso, há evidências sólidas de que a cirurgia minimamente invasiva é custo efetiva. A boa notícia é que a SBCO está avançando junto ao Ministério da Saúde, no sentido de conseguir a incorporação da videolaparoscopia no SUS”, celebra o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da SBCO e titular do Hospital de Base, de Brasília.
De acordo com Pinheiro, a economia com a cirurgia minimamente invasiva não seria apenas relacionada com as despesas com o procedimento em si, mas também no valor total relacionado, que engloba medicamentos e período de internação. “Há menos complicações pós-operatórias e redução do uso de antibióticos e de outros medicamentos. Isso diminui também o tempo das internações, diminuindo o custo final de assistência. Além disso, os leitos são liberados mais rapidamente e as filas para tratamento diminuem”, reforça Pinheiro.
Sinais, sintomas e causas dos 3 tipos mais comuns de câncer ginecológico:
Câncer de colo do útero – Também conhecido como câncer cervical, esse tumor não costuma apresentar sintomas em estágio inicial. Em fases mais avançadas, os principais sinais de alerta são sangramento vaginal após a relação sexual, entre períodos ou após a menopausa; corrimento vaginal aquoso e sanguinolento, que pode ser intenso e ter um odor desagradável; e dor pélvica ou dor durante a relação sexual. Em mais de 90% dos casos a doença é causada por infecção por tipos oncogênicos do papilomavírus humano (HPV).
Câncer de endométrio – Às vezes chamado de câncer de útero ou mesmo câncer do corpo uterino, ele começa na camada de células que formam o revestimento do útero. Geralmente é detectado em um estágio inicial, porque frequentemente produz sangramento vaginal anormal, o que leva as mulheres a procurarem seus profissionais de saúde. Se o câncer endometrial for descoberto precocemente, a remoção cirúrgica do útero geralmente representa a cura.
Câncer de ovário – Raramente causa sintomas em estágio inicial. Em estágio avançado, ele pode causar poucos sintomas e inespecíficos que. muitas vezes, são confundidos com condições benignas mais comuns. Por conta disso, a doença é comumente diagnosticada em fase mais avançada. O câncer de ovário geralmente passa despercebido até se espalhar pela pelve e pelo abdômen. Nesta fase tardia, o tratamento se torna complexo e menos exitoso. O câncer de ovário em estágio inicial, em que a doença está confinada ao ovário, apresenta maior probabilidade de ser tratado com sucesso.