Catarata: Se não tratada a tempo pode levar à cegueira

Newton Andrade Junior, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia – Doutor em ciências pela USP – Atual vice-presidente da Sociedade Norte e Nordeste de Oftalmologia – Preceptor de Catarata do Hospital de Olhos Leiria de Andrade

O oftalmologista Newton Andrade Junior: “os principais sintomas da catarata são verbalizados pelos pacientes como alteração visual, seja em quantidade ou em qualidade”

“É inaceitável que 65 milhões de pessoas sejam cegas ou tenham visão prejudicada quando ela poderia ter sido corrigida com uma operação de catarata”. Por estas palavras do diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, percebemos o impacto social do assunto.

Dados de 2007 demonstram uma prevalência da catarata senil no Brasil junto a população abaixo de 65 anos de idade de 17,6%, na faixa etária entre 65 e 74 anos de 47,1% e acima de 75 anos, 73,3%. O mesmo levantamento observou que ocorre cerca de 120.000 novos casos de cegueira decorrente do acometimento pela catarata a cada ano.

De acordo com a OMS, a catarata é responsável por 50% dos casos de cegueira no mundo. Conceitualmente, catarata refere-se a qualquer opacidade existente no cristalino (lente natural que temos dentro do olho) alterando os índices de refração e tendo como consequência uma baixa na acuidade visual. Os principais sintomas da catarata são verbalizados pelos pacientes como alteração visual, seja em quantidade ou em qualidade.

As origens são variadas, mas a idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento desta opacidade. Vale ressaltar que todos os indivíduos devem apresentar catarata em algum momento da vida, desde que vivam o suficiente. Segundo dados da OMS, 50% das pessoas acima dos 50 anos de idade apresentam algum grau de catarata, enquanto a incidência é de quase 100% em quem tem mais de 80 anos de idade.

Além do fator etário, outras causas podem ser responsáveis pelo desenvolvimento precoce desta alteração, como a catarata congênita, doença que pode ser detectada pelo Teste do Olhinho, na maternidade, logo após o nascimento da criança. Nestes casos, a importância no diagnóstico e o tratamento precoce permitem o desenvolvimento do centro visual, diminuindo a chance de ambliopia, popularmente conhecida como “olho preguiçoso”.

Os motivos que levam a criança ainda no útero a ter catarata podem ser resultados de malformações oculares congênitas, infecções intrauterinas, síndromes genéticas, alterações sistêmicas com erros inatos do metabolismo, hereditariedade, uso de medicamentos, radiação ou idiopáticos. No Brasil, a rubéola ainda merece destaque como uma das principais causas de catarata congênita. Ocorre em aproximadamente 3:10.000 nascidos vivos; dois terços dos casos são bilaterais.

Outro importante fator que induz a opacidade do cristalino mais precocemente é a exposição à incidência de radiação solar (UVA e UVB). Isto explica o fato de pessoas que moram em países mais próximos à linha do equador desenvolverem catarata mais cedo. Outro agente comprovadamente indutor da catarata é o estresse oxidativo oriundo do tabagismo, do álcool em excesso e do uso de drogas ilícitas.

Doenças que podem alterar o metabolismo, como dermatite atópica, galactosemia, diabetes, doenças reumatológicas: artrite reumatoide e lúpus e doenças infecto contagiosas: HIV e herpes também podem desenvolver a catarata precocemente. Pacientes que usam medicações, como corticosteroides e isotretinoínas, podem desenvolver também cataratas prematuras.

Diante do contexto sócio cultural do Brasil, um fator de catarata que não pode deixar de ser mencionado é o relacionado aos traumas oculares. O trauma ocular é a principal causa de cegueira unilateral adquirida em pacientes com menos de 20. Mesmo sem perfuração do olho, o trauma pode provocar a opacificação do cristalino.

Questionamentos sobre dietas, colírios e óculos para o tratamento da catarata são comuns nos consultórios oftalmológicos, mas o tratamento continua sendo eminentemente cirúrgico. O procedimento consiste na retirada do cristalino opacificado, que é substituído por uma lente intraocular. Com a evolução da tecnologia e das técnicas cirúrgicas ao longo dos anos, podemos assegurar que se trata de um procedimento seguro, apesar da complexidade que envolve o ato. Comumente os homens têm catarata mais precoce que as mulheres, provavelmente por estarem mais expostos aos fatores de risco.

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