Dr. Geraldo Jenus: “o cerume é um protetor natural, mas, em excesso, causa bastante incômodo, devendo ser retirado apenas pelo médico especialista, neste caso, o otorrinolaringologista”
A cera do ouvido ou cerume é um protetor da pele do canal externo deste importante aparelho do corpo humano contra danos causados pela água, infecção, trauma e corpos estranhos. Contudo, seu excesso exige cuidados por que, além do incômodo, pode causar perda auditiva.
“Uma em cada 10 crianças vive esse drama”, afirma o Dr. Geraldo Jenus Oliveira Fernandes, otorrinolaringologista e membro da Clínica Otológica, em Belo Horizonte/MG. Ele é especialista em Otologia, Otoneurologia e Cirurgia de Ouvido, pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, e membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia.
Segundo o Dr. Geraldo Jenus, a produção excessiva de cerume atinge também um adulto em cada grupo de 20 pessoas e um idoso em cada grupo de três.
O cerume, explica, é formado pelas glândulas sebáceas e ceruminosas, localizadas na entrada do conduto (terço lateral), conforme mostrado na ilustração.
O conduto inicia se no pavilhão auditivo e termina no tímpano. As secreções produzidas misturam-se com a pele descamada, impurezas do ar poluído, as bactérias da flora normal da pele do ouvido e os pelos depilados ocasionais, entupindo, assim, o ouvido, e ocasionando muito incômodo.
Para algumas pessoas, esse transtorno é ainda maior durante a natação, ou quando se lava o cabelo. A água penetra no canal auditivo e se mistura a esta cera, causando desconforto. Seu acúmulo excessivo pode, inclusive, impedir uma avaliação necessária do meato auditivo e da membrana timpânica.
Segundo o especialista, geralmente o cerúmen é eliminado pelo próprio organismo do canal auditivo. Porém, esse processo pode falhar e aí, ele não é eliminado e se acumula no local.
Ele explica ainda os principais motivos para a formação da impactação do cerume. Entre as causas estão doenças do canal auditivo, infecciosas e dermatológicas, por exemplo, otite externa, eczema, e manifestações cutâneas de doenças sistêmicas, como lupus.
Esses distúrbios fazem com que as células da pele descamam excessivamente, levando ao acúmulo de cera nos ouvidos. Da mesma forma, o cerume pode se acumular devido ao estreitamento do canal auditivo. “Um canal particularmente tortuoso ou com estreitamento excessivo no istmo pode tender a acumular cerúmen”, destaca o médico, citando que tal estreitamento pode ocorrer devido a infecções frequentes ou graves do meato auditivo, ou após procedimento cirúrgico, bem como tumores dos tecidos, dentro ou ao redor do canal auditivo, além de excesso de pelos no local, que podem prender o cerúmen no meato.
Outras causas do acúmulo de cera no ouvido podem ser uma alteração na textura do cerume e falha na migração epitelial. Como parte do processo normal de envelhecimento, explica, “as glândulas da pele do canal auditivo tendem a atrofiar, produzindo um cerume mais duro e menos fluido que migra muito mais lentamente para fora do canal auditivo. Além disso, as alterações crônicas da pele do canal auditivo podem levar à perda do padrão migratório normal do epitélio”.
Tentativas inadequadas de remoção são também uma razão comum para o acúmulo de cera na região. O uso do cotonete tende a empurrar o cerúmen mais para dentro do canal. Outras possibilidades são os aparelhos auditivos, fones de ouvido, tampões para os ouvidos e moldes de natação.
De acordo com o Dr. Geraldo Jenus, “alguns indivíduos produzem um volume de cerúmen que supera a capacidade de eliminá-lo, como resposta a algum trauma local ou como resultado da retenção de água no canal auditivo. Na ausência de doença no local, sua produção em excesso e acúmulo pode ser idiopático, ou seja, causa desconhecida ou desconhecida.
Sintomas do Excesso de Cerume – O acúmulo de cerume geralmente é assintomático, mas quando impacta pode provocar:
- Perda de audição
- Otalgia (dor de ouvido)
- Sensação de ouvido tampado (plenitude auricular)
- Prurido
- Tosse
- Tontura
- Zumbido
Características do Cerume– Conforme explica o otorrinolaringologista Geraldo Jenus, o cerume varia muito em aparência e textura, de quase líquido a duro como pedra. A aparência pode depender da porcentagem de seus diferentes componentes, da duração do tempo dentro do canal auditivo (o cerume mais duro geralmente está presente por períodos mais longos) e da quantidade de pele descamada.
Sua cor varia de um vermelho escuro profundo a preto e esbranquiçado. Um determinado indivíduo pode ter cerume de cor diferente em cada orelha. A cor do cerúmen reflete sua composição, mas não representa necessariamente a normalidade ou a saúde do canal externo.
Remoção – A retirada da cera do ouvido deve ser realizada com os métodos e ferramentas adequados, uma vez que se ocorrer de forma errada pode levar a complicações como, perfuração ou trauma da membrana timpânica, laceração da pele do canal, piora da impactação de cerume e desconforto do paciente, alerta o médico, observando que sua remoção melhora a audição em torno de 10dB a 15dB dos pacientes.
A remoção de cerume é aconselhável também em pacientes incapazes de expressar sintomas, como crianças pequenas e pessoas com comprometimento cognitivo. Um estudo prospectivo de idosos em asilos descobriu que pacientes com impactação de cerume melhoraram a audição e a função cognitiva após a remoção da cera, em comparação com os do grupo de controle, informa especialista, ao alertar para o procedimento não ser realizado rotineiramente em pacientes assintomáticos, pois o ceremu pode servir como uma camada protetora para a pele do canal auditivo, prevenindo infecções e traumas.
Métodos de remoção – De acordo com o otorrino, existem três opções terapêuticas recomendadas: agentes cerumenolíticos (gotas otológicas), irrigação e remoção manual. O procedimento a ser usado deve se basear na experiência do especialista, nesse caso o otorrinolaringologista. No entanto, ele frisa que se houver lesão ou perfuração da membrana timpânica, os cerumenolíticos devem ser evitados. As instruções sobre esses medicamentos recomendam normalmente não mais do que três a cinco dias de uso, devendo o paciente procurar o médico para irrigação do conduto, pois pode ocorrer retenção de gotas cerumenolíticas atrás do cerúmen, provocando irritação ou dano à pele do meato auditivo externo.
Os cerumenolíticos mais usados são à base de óleo mineral ou peróxido de hidrogênio, ambos disponíveis no mercado. Contudo, pacientes com ressecamento ou esfoliação excessiva da pele do canal auditivo devem evitar preparações contendo peróxido de hidrogênio, pois isso pode exacerbar o acúmulo de cerume, alerta o médico, acrescentando que “o óleo mineral simples e o docusato de sódio líquido são eficazes para esses indivíduos”.
Além dos cerumenolíticos, pacientes com impactação dura ou doença do canal auditivo podem necessitar de lavagem dos ouvidos ou remoção manual, sob visualização direta pelo médico Otorrinolaringologista. O uso de um cerumenolítico pode melhorar o sucesso da lavagem dos ouvidos, destaca ainda, chamando a atenção sobre a lavagem dos ouvidos, outro método para retirada de cerume do ouvido.
Segundo ele, a irrigação é uma das formas mais praticadas de remoção desta cera. “Normalmente, realizamos uma irrigação suave do canal auditivo, com uma seringa grande, com ponta de cateter (200 ml), e água morna (água salina ou da torneira pode ser tão eficaz quanto). A irrigação pode ser realizada pelo clínico, ou por outra equipe clínica treinada.
Em pacientes imunocomprometidos, incluindo pacientes com diabetes, a acidificação do canal auditivo deve seguir a irrigação, por exemplo, de gotas óticas de ácido acético a 2%, ou pó de ácido bórico. “A umidade retida no canal auditivo tende a estimular o crescimento bacteriano na pele descamada úmida, mais provável em um ambiente de pH mais alto”, observa.
Quanto a remoção manual, também muito usada, geralmente é mais rápida do que os métodos cerumenolíticos e irrigação, e não expõe a orelha à umidade. No entanto, ela deve ser realizada por médicos com experiência e equipamento apropriado. A remoção manual requer visualização e instrumentos adequados como, curetas (sondas com alças), colheres, pinças, ganchos em ângulo reto, aplicador reto com mechas de algodão aplicadas e sucção (geralmente com pontas de sucção anguladas).
Este método é mais indicado para pacientes com achados otológicos anormais, por exemplo, membrana timpânica perfurada, ou pacientes com imunodeficiência – que podem estar predispostos à infecção se a umidade for introduzida no canal auditivo por meio de cerumenolíticos ou irrigação.
Complicações – A remoção do cerume pode implicar complicações entreos diferentes procedimentos usados. Os cerumenolíticos podem levar a reações alérgicas, otite externa, dor de ouvido, perda auditiva transitória e tontura.
Um efeito adverso comum da irrigação é a retenção de água por trás do cerume parcialmente removido, resultando em maceração da pele e potencial infecção.
Perfuração da membrana timpânica, perda auditiva, zumbido, dor e vertigem também podem ocorrer, particularmente após irrigação agressiva para remoção de cerúmen.
Já os efeitos adversos mais comuns com a remoção manual do cerúmen incluem dor de ouvido, sangramento, laceração e perfuração da membrana timpânica.
Certas populações de pacientes são propensas a complicações com a remoção de cerume. O estreitamento do canal auditivo, por exemplo, em pacientes com estreitamento congênito, pode limitar a visualização, dificultando tanto a irrigação quanto a instrumentação manual.
Pacientes com diabetes, infecção por HIV ou outros estados imunocomprometidos podem ter risco aumentado de otite externa maligna.
Além disso, os pacientes que recebem terapia anticoagulante correm maior risco de hemorragia ou hematomas subcutâneos.
Nesse sentido, todo cuidado é pouco. Deve-se ter atenção para minimizar o trauma em todas essas populações, e um acompanhamento próximo deve ser fornecido.
O Dr. Geraldo Janus alerta ainda sobre a importância do acompanhamento pós tratamento da impactação do cerume.
“Os sintomas do paciente devem ser reavaliados. Se a perda auditiva ou a dor de ouvido persistirem, apesar da resolução da impactação, diagnósticos alternativos devem ser procurados”, orienta.
Prevenção – Entre os indivíduos sem condições predisponentes, o uso rotineiro de emolientes tópicos parece prevenir o acúmulo de cerume, destaca o médico. “Em nossa prática, sugerimos que pacientes com história de impactação de cerume sintomática recorrente (uma vez por ano apesar da remoção de cerume) e orelhas normais usem uma bola de algodão embebida em óleo mineral e a coloque no canal externo por 10 a 20 minutos, uma vez por semana (combinado com oito horas de não usar um aparelho auditivo durante a noite, se aplicável). Isso ajuda a liquefazer a cera e auxilia os mecanismos normais de eliminação, reduzindo potencialmente o número de visitas por ano ao otorrino”.
Ele informa ainda que existe, atualmente, no mercado, em frasco spray – o peróxido hidrogênio 3%, que pode ser usado 2(duas) vezes por semana para aqueles pacientes que necessitam lavagem de ouvidos a cada seis meses.
A limpeza rotineira das orelhas por um profissional de saúde a cada 6 a 12 meses também é sugerida.
Os pacientes devem ser instruídos que o uso crônico de cotonetes ou cerumenolíticos também não devem ser empregados.