Dr. Gustavo Guimarães: “a possibilidade de realizar cirurgias em áreas que antes eram consideradas de alto risco, faz com que mais pacientes tenham acesso a tratamentos que podem salvar suas vidas”
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Em reunião realizada em Brasília em 08 de agosto, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) deu a recomendação final de incorporação da prostatectomia radical assistida por robô para o tratamento de pacientes com câncer de próstata localizado ou localmente avançado. É um avanço histórico por se tratar da primeira incorporação no Sistema Único de Saúde de cirurgia robótica em Oncologia, cerca de 20 anos após o início da utilização da tecnologia no país. A conquista, fruto do esforço de entidades como a Sociedade Brasileira de Urologia – SBU, e Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica – SBCO, em consolidar as principais referências científicas que evidenciam os benefícios para os pacientes e demonstram o quanto a tecnologia é custo-efetiva, ganha amplitude quando se olha para os números.
Segundo Dr. Gustavo Guimarães, do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), de São Paulo/SP, ao longo da última década, por exemplo, mais de 5 mil cirurgias robóticas foram realizadas na instituição. Neste período, 65% dos 5 mil procedimentos realizados no IUCR foram em pacientes com diagnóstico de câncer de próstata, órgão que é a principal indicação para operações por meio do uso de robôs por conta da precisão da técnica, que possibilita vantagens específicas, quando comparada com outras modalidades cirúrgicas, como menor risco de incontinência urinária e de disfunção erétil após a cirurgia, além do impacto positivo comum a outros tipos de câncer, como menor sangramento e menos tempo de internação. Instituto
Avanços – As cirurgias robóticas têm avançado significativamente nas últimas décadas, trazendo inovações tecnológicas que transformaram várias especialidades médicas, tanto no Brasil quanto no mundo. O sistema mais conhecido é o da Intuitive Surgical, que, desde sua introdução, passou por várias atualizações, melhorando a instrumentação, a visualização 3D e a precisão dos movimentos. “A possibilidade de realizar cirurgias em áreas que antes eram consideradas de alto risco (por exemplo, na cirurgia cardíaca ou em determinadas neoplasias) faz com que mais pacientes tenham acesso a tratamentos que podem salvar suas vidas”, ressalta Guimarães.
Além disso, avalia, as novas gerações oferecem ergonomia aprimorada para os cirurgiões e tecnologia de realidade aumentada. “Com braços robóticos que possuem articulações de precisão e instrumentos cirúrgicos miniaturizados, as cirurgias robóticas permitem procedimentos mais delicados, com menos danos aos tecidos circundantes”, reforça o cirurgião.
Em cirurgia de câncer, muitas vezes um milímetro, embora tão pequeno, pode fazer muita diferença. Com a robótica é maior a capacidade de realizar procedimentos por pequenas incisões, reduzindo, assim, o trauma cirúrgico, levando a menor dor e aceleração na recuperação dos pacientes. Isso também diminui o risco de complicações e infecções pós-operatórias.
Guimarães também destaca que o uso de simuladores de cirurgia robótica está se tornando comum, permitindo que novos cirurgiões treinem em ambientes virtuais antes de realizar procedimentos em pacientes. “Isso contribui para melhores resultados cirúrgicos”, observa.
Outro aspecto importante é o fato da combinação de cirurgia robótica com técnicas de imagem avançadas, como tomografia e ressonância magnética, permitir uma visualização mais precisa da área a ser operada, apoiando decisões cirúrgicas em tempo real. “Sistemas de imagens avançados com uso de inteligência artificial e até impressoras 3D permitem recriar em ambiente virtual a área a ser operada, aumentando a precisão e eficiência dos procedimentos cirúrgicos”, explica.
Amplitude da cirurgia robótica – A cirurgia robótica está estabelecida em diversas especialidades médicas, como urologia, cirurgia torácica, cirurgia de cabeça e pescoço, ginecologia, proctologia, cirurgia geral, gastroenterologia e cardiologia. “Estes últimos 20 anos demonstraram que a tecnologia e a inovação são aspectos indissociáveis da evolução da humanidade e da saúde. A cirurgia robótica, como conhecemos, é apenas o início desse processo de transformação, que vai nos levar ao centro cirúrgico do futuro”, analisa Guimarães.
Em resumo, considerando todas as diferentes especialidades contempladas, a cirurgia robótica oferece menor tempo de internação, recuperação pós-operatória mais rápida, menos sangramento e diminuição das taxas de transfusão, redução do risco de infecção e das dores e complicações pós-cirúrgicas e retorno mais rápido às atividades cotidianas (geralmente o paciente pode voltar a se alimentar no mesmo dia).
De acordo com o especialista, incorporar a cirurgia robótica às opções de serviços é uma tendência orgânica das instituições de saúde que buscam modernização, ganhos efetivos de produtividade e resultados positivos para pacientes e equipes. O caminho para essa implementação, segundo ele, passa por uma avaliação que vai muito além da aquisição de equipamentos e da adaptação da estrutura física. Envolve toda a cadeia de processos e serviços.