Combate à surdez: muitos jovens correm risco de perda auditiva

“O uso excessivo de fones de ouvido se tornou a principal causa evitável de surdez na nova geração, superando os riscos tradicionais”

Foto: Freepik

O recente Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez, celebrado em 10 de novembro, faz um alerta focado em uma nova geração. Se antes as principais preocupações se voltavam ao envelhecimento e a doenças, hoje o maior risco é silencioso, autoimposto e está nos ouvidos de crianças e adolescentes: o uso de fones de ouvido em volume excessivo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 1 bilhão de pessoas entre 12 e 35 anos correm o risco de ter a audição prejudicada devido à exposição prolongada e excessiva a ruídos recreativos, incluindo músicas em fones de ouvido e shows. No Brasil, onde dados do IBGE indicam que mais de 10 milhões de pessoas já convivem com algum grau de deficiência auditiva, a prevenção na juventude tornou-se a pauta central.

Para o Prof. Dr. Robinson Koji Tsuji, de São Paulo/SP, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia e um dos maiores especialistas em surdez do país, o cenário é alarmante. “Estamos criando uma geração de futuros deficientes auditivos. O dano causado pelo ruído é cumulativo e irreversível. A perda auditiva não ‘dói’, ela acontece aos poucos, e quando o paciente percebe, geralmente já é tarde demais”, afirma.

A “epidemia” dos fones de ouvido –  Segundo o Dr. Tsuji, a popularização de dispositivos de áudio pessoais mudou o perfil da perda auditiva. “O grande vilão é a intensidade versus o tempo de exposição. O uso de fones de ouvido, especialmente os intra-auriculares, por horas a fio e em volumes que ultrapassam os 85 decibéis – o equivalente ao ruído de um liquidificador – causa lesões permanentes nas células sensoriais da cóclea. Estamos vendo pacientes cada vez mais jovens em consultório com perda auditiva que, antes, só esperaríamos em idosos”, explica o médico.

Prevenção: regra do 60/60 –  O especialista reforça que a maioria dos casos de surdez induzida por ruído é 100% evitável. “A prevenção é a única solução”, diz o Dr. Tsuji. “A principal recomendação é a regra do 60/60: nunca utilizar os fones de ouvido acima de 60% do volume máximo e por, no máximo, 60 minutos seguidos. É preciso fazer pausas, deixar o ouvido descansar. E, para quem frequenta shows ou ambientes muito barulhentos, o uso de protetores auriculares é fundamental.”

Diagnóstico precoce e os tratamentos modernos – A recomendação é que qualquer pessoa que se exponha a ruídos com frequência realize uma audiometria anualmente. Para os casos em que a perda já se instalou e é de grau severo a profundo, o Dr. Tsuji lembra que a tecnologia é uma aliada poderosa. “A surdez não significa mais silêncio. Conforme explica, para pacientes que não se beneficiam de aparelhos auditivos convencionais, o implante coclear é o tratamento padrão-ouro, capaz de restaurar a percepção sonora de forma eficaz. Mas, antes de chegar a esse ponto, precisamos focar na prevenção.

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