A cardiologista Maria Cristina Izar: “é um equívoco associarmos ´colesterol alto´ às patologias ´de adultos´ quando, na verdade, a ocorrência da síndrome nas primeiras fases da vida é bastante significativa”
Recentemente, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP – encaminhou ao Ministério da Saúde um documentocontemplando uma série de ações que podem ser adotadas pelo Governo Federal para o combateàs mortes por doenças crônicas não transmissíveis, responsáveis por mais de 70% dos óbitos no país. Entre as propostas constantes no documento, o rastreamento lipídico ou medição do colesterol em crianças e adolescentes. E não é para menos! De acordo com o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), a presença de colesterol alto na infância e na adolescência tem se mantido entre 30% e 40%.
“É um equívoco associarmos ´colesterol alto´ às patologias ´de adultos´ quando, na verdade, a ocorrência da síndrome nas primeiras fases da vida é bastante significativa”, esclarece Maria Cristina Izar, diretora de Promoção e Pesquisa da SOCESP. Segundo a cardiologista, o recomendado é que a dosagem do perfil lipídico seja feita a partir dos 10 anos, de maneira geral. Porém, quando houver história familiar precoce para aterosclerose, como o infarto ou o acidente vascular cerebral, algum fator de risco cardiovascular ou sinal clínico compatível com dislipidemias primárias graves em crianças menores, a medição deve acontecer a partir dos 2 anos.
Ações – “Entre as ações estratégicas propostas pela SOCESP para a promoção da saúde no âmbito governamental, a sugestão para as autoridades sanitárias é regularizar serviços de detecção, acompanhamento e controle de dislipidemia em adultos e crianças assintomáticos nos diferentes níveis de atenção do SUS, desonerando o Estado dos custos dos tratamentos de doenças cardiovasculares (DCVs) e promovendo a vida”, ressalta a especialista.
As causas para as dislipidemias nos mais jovens são semelhantes às que acometem os adultos, mas, na infância, as formas chamadas primárias, derivadas de fatores genéticos, como a Hipercolesterolemia Familiar (HF), quando um dos pais apresenta colesterol excessivamente elevado, devem ser lembradas. “Esta forma é considerada mais grave e com mais riscos de morte antes da fase adulta”, reforça a diretora da SOCESP.
Já os agentes secundários, pontua, são as dietas ricas em gorduras ou sem valor nutricional, obesidade e sedentarismo, doenças renais e da glândula tireoide, além de doenças como diabetes ou o uso de medicações, como diuréticos e corticoides.
Obesidade, dieta pobre e inatividade física – Os mesmos fatores que fazem do colesterol alto um estopim para as DCVs em adultos também corroboram com o quadro em crianças e adolescentes. A obesidade é um deles: o Brasil ocupa o quarto lugar entre os países com maior prevalência de sobrepeso e obesidade e já se observa uma ascensão entre crianças e adolescentes, independente do sexo e das classes sociais. Nos últimos 30 anos, o índice de obesos entre 5 e 19 anos aumentou, de 0,7% a 5,6% entre meninas, e de 0,8% a 7,8% entre meninos, em todas as regiões geográficas do mundo, totalizando: 50 milhões de meninas e 74 milhões de meninos obesos. Metade das crianças obesas aos 6 anos, que tenham pelo menos um dos pais obeso, tende a conviver com a obesidade quando adultos; em adolescentes nessa condição, 80% serão adultos obesos.
Alimentos calóricos – Estudos populacionais revelam que quase a totalidade das crianças ingerem maiores quantidades de açúcar e gordura de má qualidade ou menores porções de fibras do que o recomendado para a idade. “Uma das justificativas para esta epidemia nestas faixas etárias é o ´ambiente obesogênico´, quando fatores externos colaboram para uma ingestão excessiva ou não saudável de alimentos calóricos, com rotina que não prima pelo gasto energético (excesso de computador e celular, por exemplo). Os ambientes obesogênicos contrariam a realidade de 30 anos atrás, quando a premissa na infância e na adolescência era composta por muitas atividades ao ar livre e mais comida balanceada “feita em casa”, sem o excesso de oferta de guloseimas”, lembra Maria Cristina.
O correto – para qualquer faixa etária – é limitar a ingestão de gorduras a cerca de 25% a 30% das calorias totais diárias, mantendo uma proporção de 7% a 10% de gorduras saturadas (frituras etc) e 20% de gorduras mono e poli-insaturadas. Deve-se evitar açúcar de adição e estimular a ingestão de ômega-3 – presente em peixes, como sardinha e salmão-, idealmente duas ou três vezes por semana.
Tratamento & prevenção – O tratamento para crianças e adolescentes diagnosticados com colesterol alto não difere do que é recomendado aos adultos nas mesmas condições. Ele se baseia, inicialmente, no controle do peso, dieta balanceada e atividade física. Se a estratégia não funcionar, os médicos poderão optar pelo uso de medicamentos.