Dr. Marcos Sampaio, da Clínica Origen/BH: “principalmente os que estão na linha de frente e de apoio na medicina, precisam estar abertos às mudanças e também atentos na forma de lidar com a diversidade”
Os tratamentos de reprodução assistida em casais com pessoa trans vêm crescendo, mas são pouco divulgados, pois ainda há muito preconceito envolvido. Fato é que com maior visibilidade das pessoas trans e acesso aos seus direitos, a tendência é que a informação circule cada vez mais entre a população. Isso ajuda a diminuir os tabus que envolvem o universo trans e permite que todos os seres que sonham em ter filhos possam realizá-lo.
Na visão do médico ginecologista Marcos Sampaio, da clínica Origen BH, o acolhimento é o passo número um antes de se falar em qualquer tratamento. Segundo ele, é fato que a sociedade vem mudando nos últimos anos e a ideia de formação de família também. “Frente a isso, todos nós, principalmente os que estão na linha de frente e de apoio na medicina, precisam estar abertos às mudanças e também atentos na forma de lidar com a diversidade. Todas as pessoas, independentemente de credo, raça e orientação sexual devem ser respeitadas em seus sonhos e escolhas. Por isso, a escuta e o acolhimento são fundamentais quando um casal com pessoa trans procura a medicina reprodutiva”, diz
Segundo o médico, a primeira questão a ser colocada como prioridade de consenso entre o casal com pessoa trans é ter ou não ter filhos. “Esse diálogo é fundamental, pois os óvulos e o sêmen precisam estar preservados para o tratamento. Não é possível fazê-lo se a pessoa trans iniciou a transição hormonal, pois tanto os ovários quanto os testículos param de funcionar”, explica Sampaio.
No caso desse casal que quer ter filhos, o ideal, nesse caso, é congelar óvulos e espermatozoides antes da transição hormonal, para que seja viável, no futuro, fazer o tratamento com seu próprio material genético.
Todo o procedimento é acompanhado pela equipe de psicologia da Origen, fundamental no processo de acolhimento desses pacientes e orientação sobre os melhores procedimentos.
A medicina reprodutiva auxilia os casais com pessoa trans com duas técnicas: a fertilização in vitro e a inseminação artificial. Para adotar uma delas, a pessoa trans não pode ter feito a cirurgia de redesignação sexual. “No caso de homens trans, eles precisam ter o aparelho reprodutor preservado: útero e ovários; no caso de mulheres trans, o pênis e os testículos”, acrescenta Marcos Sampaio.
Em ambos os tratamentos, as medidas adotadas são similares às de um casal hetero para a estimulação ovariana e para a produção dos espermatozoides, (que pode ser do companheiro ou de um doador anônimo). “A questão mais delicada nesse procedimento é o fato de o homem trans não desejar ter a gestação, e preferir transferir o embrião para o útero de outra pessoa. Todo esse procedimento é muito clareado com o casal, para que ele se sinta acolhido e seguro em realizar seu sonho da maneira mais orientada por possível”, complementa o ginecologista.