Dr. Vitor Sá: “a gravidade da doença tem relação direta com os impactos que ela provoca no indivíduo, o que depende do tipo de Gastrite”
Todos nós conhecemos pessoas de diversas faixas etárias, que reclamam de dores no estômago. Às vezes, passam dias, semanas incomodadas, sem irem ao médico. Quando vão, e feitos os devidos exames, o diagnóstico é gastrite.
Para saber mais sobre esta doença, o Portal Medicina e Saúde entrevistou o Dr. Vitor Antonino Mendes de Sá, especialista em Gastrenterologia e Endoscopia Digestiva e médico das Clínicas Gastro Belvedere/Belo Horizonte e Gastroclínica/Contagem. Ele é também médico da Procuradoria da República em MG. Nessa entrevista, Dr. Vitor Sá fala de sintomas, causas, diagnóstico, tratamento e dá dicas de prevenção.
Dr. Vitor, o que é gastrite?
Gastrite é um termo que tecnicamente se refere a uma inflamação da mucosa do estômago. Para a população geral, entretanto, esse termo é comumente usado para se referir a dor ou queimação na região superior do abdome e a sintomas de má digestão ou intolerância a determinados alimentos. Assim, o conceito médico de gastrite, que pode ser considerado em diagnósticos à endoscopia ou à avaliação de biópsias de fragmentos da mucosa gástrica, é bastante diferente do utilizado pelos pacientes.
Quais os principais sintomas?
As principais queixas se referem a dor epigástrica, acompanhada ou não de sensação de queimação, empachamento, má digestão e intolerância a determinados alimentos, entre outros.
Quais as principais causas?
As principais causas da gastrite são: infecção por uma bactéria, bastante comum na população, conhecida como Helicobacter pylori; uso de medicamentos, em especial os anti-inflamatórios e o AAS; substâncias irritativas, como bebidas alcoólicas, tabaco e componentes de determinados alimentos; refluxo biliar; doenças agudas graves e doenças autoimunes; e causas raras, como outras infecções bacterianas, virais, fúngicas e por outras doenças sistêmicas
Quem tem mais gastrite, mulheres ou homens?
As gastrites acometem indistintamente homens e mulheres. A prevalência depende da população avaliada e da faixa etária.
Qual a faixa etária predominante dos pacientes?
Pode acometer crianças, adultos e idosos, mas costuma ser mais impactante nos adultos de meia idade e mais velhos. Provavelmente, isso tem relação com o tempo em que a condição está estabelecida e com a concomitância de uso de medicamentos para outras situações.
Quando passa a ser uma gastrite crônica?
Tal qual em outras condições médicas, nas gastrites o termo Agudo é usado para se referir ao surgimento recente e o termo Crônico, para aquelas de maior tempo de instalação. Na prática clínica, endoscópica ou anatomopatológica, a maioria esmagadora dos diagnósticos de gastrite se refere às formas crônicas.
Em que momento a gastrite passa a ser considerada grave?
A gravidade da gastrite tem relação direta com os impactos que ela provoca no indivíduo, e isto depende do tipo de Gastrite. Por exemplo, em sua apresentação atrófica autoimune pode haver grave deficiência de Vitamina B12, com suas consequências (anemia, transtornos neurológicos). Outra situação são as gastrites relacionadas a infecção por H. pylori, que podem evoluir progressivamente com alterações celulares pré-cancerosas e mesmo neoplásicas. Importante ressaltar que a persistência da inflamação da mucosa gástrica, especialmente em situações de infecção pelo H. pylori e de autoimunidade, podem levar ao aumento de risco de desenvolvimento de alguns tumores malignos no estômago.
Como se faz o diagnóstico?
O diagnóstico das gastrites e outras condições médicas que cursem com sintomas do trato digestório superior se inicia por uma boa avaliação clínica e gastroenterológica. A partir das queixas apresentadas, o médico poderá lançar mão de um exame endoscópico, hoje em dia muito bem tolerado, seguro e amplamente disponível, para avaliação do estômago, bem como do esôfago e duodeno, outros órgãos importantes para se excluir doenças concomitantes e diagnósticos diferenciais. Uma vez indicada a endoscopia digestiva alta, é quase regra a coleta de material para estudo histopatológico (biópsias gástricas). Pode ser necessário indicar a solicitação de exames laboratoriais e de imagem, especialmente quando há necessidade de se afastar suspeitas de outras condições.
E o tratamento?
O tratamento das gastrites irá sempre depender da identificação da causa e intensidade dos sintomas. Envolve orientações alimentares, comportamentais e, em situações específicas, a erradicação da bactéria H. pylori. Pode ser necessário o uso de medicamentos que reduzam a produção de ácidos, como aqueles da classe dos inibidores de bombas protônicas (por exemplo, omeprazol, pantoprazol e esomeprazol).
Dr. Vitor, algumas dicas de prevenção.
Manter bons hábitos alimentares, evitar o excesso de álcool e o tabaco, evitar automedicação e se submeter a avaliação clínica e gastroenterológica regularmente