Conquistas no ano de 2024 no tratamento do câncer do colo do útero, ovário e endométrio
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O ano de 2024 ficará marcado por importantes conquistas frente aos cânceres do colo do útero, ovário e endométrio, os três tipos de câncer ginecológicos mais incidentes entre as brasileiras. Em retrospectiva feita pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) estão 10 novidades, da prevenção ao tratamento, vistas ao longo dos 365 dias, que propiciam proteção e melhor qualidade de vida para as mulheres do país.
Na lista estão avanços em quimioterapia, imunoterapia e terapias-alvo, assim como em cirurgias minimamente invasivas, além do anúncio da retomada da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) nas escolas públicas e privadas e a incorporação do teste de HPV-DNA, que é mais eficaz no rastreamento do câncer de colo uterino.
O gineco-oncologista Glauco Baiocchi Neto, presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) na gestão 2023/2024, ressalta que esses avanços estão diminuindo o número de casos da doença, por possibilitarem um diagnóstico precoce e um tratamento ainda mais assertivo para as pacientes. “Estamos no caminho certo rumo à eliminação do câncer do colo do útero e de um maior controle do câncer de endométrio e de ovário”, vislumbra.
Conforme destaca também a oncologista Larissa Muller Gomes, diretora de comunicação do EVA, “embora o caminho seja promissor, precisamos continuar o esforço para garantir que essas inovações cheguem a todas as pacientes, principalmente às de regiões mais afastadas”.
Confira a lista levantada pelo Grupo EVA das 10 novidades mais importantes sobre o câncer ginecológico no Brasil em 2024:
- Incorporação do teste DNA-HPV no SUS – Foi incorporada em março a testagem molecular para detecção do vírus HPV, uma estratégia de rastreio mais sensível. Por meio do teste de DNA do HPV se identifica mais pacientes em risco, aumentando a chance de detecção da lesão pré-maligna.
- Adoção de dose única de vacina contra HPV para meninas e meninos de 9 a 14 anos no SUS, substituindo o modelo anterior de 2 doses – O objetivo é aumentar a adesão à imunização. A mudança simplifica o processo, tornando a vacinação mais acessível e prática. A expectativa é que resulte em maior proteção contra o câncer do colo do útero e outras doenças relacionadas à infecção pelo HPV.
- Ampliação do público-alvo da vacina contra HPV – O público-alvo da vacina foi ampliado pelo Ministério da Saúde em julho. No novo protocolo, passou a incluir pessoas entre 15 e 45 anos que utilizam PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV), buscando, assim, maior proteção contra infecções sexualmente transmissíveis, como o HIV, e cânceres relacionados ao HPV, como o câncer do colo do útero, cabeça e pescoço, ânus e pênis.
- Retomada da vacinação contra HPV nas escolas de todo o país – Em 2024, ano em que se completou uma década do início da vacinação contra HPV no SUS, foi anunciada a retomada da imunização dentro das escolas. A estratégia tem como objetivo alcançar um número maior de adolescentes imunizados, garantindo que a prevenção ao HPV seja feita de forma acessível e eficiente, para que seja atingida a meta proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de ter 90% de 9 a 14 anos vacinadas contra o HPV.
- Adição de imunoterapia ao tratamento padrão com radioterapia e quimioterapia para câncer do colo do útero avançado – Essa inclusão mostrou-se promissora, apresentando benefícios significativos na sobrevida das pacientes. A imunoterapia atua estimulando o sistema imunológico a combater as células cancerígenas de forma mais eficaz. O estudo Keynote A-18, realizado em 176 centros médicos, com 1.060 participantes, mostrou que adição de pembrolizumabe à quimiorradioterapia aumentou a sobrevida das pacientes de alto risco e com câncer do colo do útero avançado. A Anvisa aprovou o tratamento em 29 de abril.
- Uso de quimioterapia antes do tratamento padrão com radioterapia e quimioterapia para câncer do colo do útero avançado – Estudos recentes mostraram que a administração de quimioterapia antes do tratamento padrão de radioterapia e quimioterapia – conhecido como tratamento neoadjuvante – pode melhorar a sobrevida das pacientes com câncer do colo do útero em estágio avançado. O objetivo como o tratamento do câncer localmente avançado – como destaca estudo publicado em 2024 na The Lancet Oncology, é tratar doença fora da pelve com a quimioterapia. Essa é uma excelente opção de tratamento se conseguir reproduzir o esquema do estudo para o cenário público.
- Cirurgias menos radicais e com menos complicações em câncer do colo do útero nos estágios iniciais (menor que 2cm) quando preenchidos critérios de baixo risco – É possível realizar cirurgias menos invasivas e radicais nos estágios iniciais do câncer do colo do útero, com tumores menores que 2 cm e critérios de baixo risco. Isso resulta em menor tempo de recuperação e menos complicações pós-operatórias, oferecendo uma melhor qualidade de vida para as pacientes. Em um estudo publicado no The New England Journal of Medicine, que contou com a participação de 700 pessoas com câncer do colo do útero em fase inicial, elas foram submetidas a uma histerectomia radical ou a um procedimento cirúrgico mais limitado denominado histerectomia simples. Três anos após a cirurgia, o câncer voltou à região pélvica em menos de 3% dos participantes, independentemente do procedimento a que foram submetidos. A vantagem para a cirurgia minimamente invasiva foi resultar em menos efeitos colaterais, como incontinência urinária e retenção urinária (dificuldade para esvaziar toda a urina da bexiga), do que aqueles que fizeram uma histerectomia radical.
- Terapias-alvo baseadas em alterações moleculares, como anti-HER2, mostraram-se eficazes – O uso de terapias alvo, como o anti-HER2, para cânceres ginecológicos, especialmente de endométrio, com alterações moleculares específicas, demonstrou ser eficaz no tratamento de tumores resistentes a terapias convencionais. Essas terapias mais personalizadas aumentam as chances de sucesso no tratamento, proporcionando uma abordagem mais precisa e eficaz. Em novembro de 2024 foi aprovada uma nova medicação como terapia agnóstica – ou seja, para todos os tumores que expressam HER 2 3+.
- Imunoterapia em câncer de ovário – A imunoterapia se tornou um tratamento de grande importância para pacientes com câncer de ovário, especialmente para os casos de carcinoma de células claras de ovário avançado. Essa é uma abordagem inovadora que mesmo com estudos pequenos, demonstra bons resultados, oferecendo uma esperança para pacientes em estágios avançados da doença.
- Consulta pública sobre IPARP no SUS – Em outubro de 2024, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) recomendou a incorporação do olaparibe no SUS – um inibidor da via PARP – para o tratamento de manutenção de pacientes adultas com carcinoma de ovário seroso ou endometrioide, de alto grau, avançado, com mutação nos genes BRCA 1/2, que respondem à quimioterapia de primeira linha baseada em platina. O olaparibe, ao ser uma terapia-alvo incorporada no SUS, representa uma vitória para as pacientes, pois ele oferece uma abordagem mais eficaz e menos invasiva, permitindo um controle mais duradouro da doença.
Todas essas inovações, destaca Baiocchi, são reflexos do compromisso em ampliar o acesso a tratamentos modernos e eficazes para as mulheres em todo o Brasil. Segundo ele, “o cenário de 2024 nos enche de otimismo. A luta contra o câncer ginecológico nunca foi tão promissora quanto a que pudemos vivenciar este ano”.