Por: Adriana Stavro – Nutricionista Mestre pelo Centro Universitário São Camilo, com formação em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Harvard Medical School; especialista em Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) pelo Hospital Israelita Albert Einstein; pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional pelo Instituto Valéria Pascoal (VP) e em Fitoterapia pela Courses4U.
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A obesidade infantil é uma epidemia global que afeta 39 milhões de crianças menores de 5 anos em todo o mundo, com um impacto mais devastador nos países de baixa e média renda, que enfrentam o duplo fardo da subnutrição e da obesidade.
No Brasil, dados do Atlas Mundial da Obesidade 2024 indicam que, até 2035, o número de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos com sobrepeso ou obesidade pode chegar a 50%.
Em comparação com crianças com peso saudável, aquelas que sofrem de obesidade enfrentam um maior risco de desenvolver inúmeras doenças como, asma, apneia do sono, problemas ósseos, diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer. Além disso, enfrentam desafios emocionais, como, depressão, ansiedade, estigmatização social, solidão e baixa autoestima.
Estudos destacam que a obesidade infantil é resultado da interação entre genética e estilo de vida, formando uma complexa rede de mecanismos biopsicossociais que atuam ao longo de toda a vida.
Período Pré-gestacional – Essa interação entre genética e estilo de vida começa a se manifestar desde o período pré-gestacional, quando o ambiente vivenciado pelos pais pode influenciar o surgimento da obesidade na infância.
Fatores como má nutrição, tabagismo e consumo de álcool podem alterar padrões genéticos, transmitindo suscetibilidade à obesidade para futuras gerações. Estudos também ressaltam que a obesidade materna prévia à gravidez está fortemente ligada ao sobrepeso e a obesidade nos filhos na infância e adolescência.
Ambiente Intrauterino – A hipótese do “fenótipo poupador” propõe que um feto que recebe menos do que necessita se adapta por meio de mudanças fisiológicas que permitem a sobrevivência nesse contexto. O metabolismo é alterado por um mecanismo epigenético, e as mudanças podem persistir após o nascimento, resultando em consequências adversas para a saúde a longo prazo, incluindo doenças crônicas, especialmente a obesidade. Portanto, o caminho que leva à obesidade na infância, adolescência e vida adulta pode começar com a desnutrição intrauterina.
O mesmo pode ocorrer quando a mãe mantém uma alimentação com perfil inflamatório e apresenta aumento de peso durante a gestação. Isso pode resultar no nascimento de bebês grandes para a idade gestacional (GIG), aumentando o risco de obesidade mais tarde na vida.
A obesidade materna afeta a descendência através da qualidade dos óvulos, do ambiente intrauterino e do desenvolvimento dos órgãos fetais.
Desde o Nascimento até os Dois Anos – Nesta fase, são estabelecidos padrões alimentares e comportamentais que podem persistir ao longo da vida. A duração da amamentação, por exemplo, está positivamente associada a um menor risco de obesidade em crianças. Além disso, a criança amamentada tende a ter mais facilidade em aceitar uma variedade de alimentos, pois a mãe transmite os sabores de sua alimentação através do leite materno, preparando o paladar do bebê para uma dieta diversificada e saudável.
Introdução Alimentar – Iniciar a alimentação complementar antes dos seis meses de idade pode estar associado ao desenvolvimento de excesso de peso na infância. Além disso, essa prática pode resultar em vários malefícios para a saúde do bebê, incluindo problemas digestivos, alergias alimentares e deficiências nutricionais
Quando Iniciar a Introdução Alimentar – A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam iniciar a introdução alimentar aos seis meses de idade, continuando a amamentação até os dois anos ou mais.
Como Iniciar a Introdução Alimentar – Comece com alimentos bem cozidos e amassados como frutas (banana, maçã, pera) e legumes (batata, cenoura, abobrinha).
Textura e Consistência dos Alimentos – Aos poucos, aumente a consistência dos alimentos, passando de purês para alimentos mais sólidos, conforme a criança se adapta.
Educação Nutricional dos Pais – Os pais desempenham um papel fundamental como modelos e guias dos hábitos alimentares de seus filhos. A falta de conhecimento nutricional, muitas vezes transmitido de geração em geração, influencia diretamente o tipo de alimentação oferecida à criança. Além disso, ameaças verbais durante as refeições podem resultar em aversão a determinados alimentos por parte da criança.
Influência do Ambiente Familiar na Obesidade Infantil – Fatores como comunicação deficiente, baixo controle comportamental, altos níveis de conflito familiar, falta de rotina nas refeições, o hábito de comer enquanto assiste TV, a ausência de limites no tempo gasto em frente às telas e sono inadequado estão positivamente associados ao excesso de peso e à obesidade infantil.