Constituição do esquema corporal na criança e suas relações com transtornos de afetividade
Por Heloisa Mamede Psicóloga com especialização em psicopedagogia e psicanalista. Mestrado-UFMG e doutorado-USP na área de Fisiologia Humana. Pós-doutorado no National Institutes of Health-USA na área de Farmacologia e Biologia Celular
Denominamos esquema corporal, a consciência do próprio corpo como um todo, integrando os movimentos, posturas e atitudes em um só conjunto. O esquema evolui na criança lentamente, completando-se em torno de 11, 12 anos.
Ao longo da vida, esse esquema é enriquecido através de refinamento de movimentos e posturas, devido às interações com o meio social. Cito, como exemplo, o desenvolvimento do bebê que, em torno de 12 meses, e já com a marcha vertical, experimentará associações visuais de distância, permitindo a sua primeira interação com o mundo que lhe cerca, indicando que existe algo além do seio materno e consequente a sua primeira emancipação.
Esquemas motores, a partir da consciência do próprio corpo, também se formarão para pronunciação e articulação da linguagem, e, na ausência dessa consciência, a leitura mediante processos visuais, e a aprendizagem como um todo, estão comprometidas.
Os processos afetivos vividos implicam-se diretamente na postura, na maior ou menor rigidez dos membros e nos movimentos corporais na criança ou no adulto. A afetividade quando bem conduzida, facilita o comportamento da criança e consequente posicionamento do corpo para que gestos e atitudes indiquem para os demais o bem estar emocional.
Ao contrário, o ambiente inseguro, por exemplo, ausência prolongada dos pais ou do responsável, ou abuso físico e mental, trazem para criança a sensação de medo e de abandono, tornando-a silenciosa, mantendo-se afastada dos demais, adquirindo uma postura rígida com redução de seus movimentos. A inibição afetiva, portanto, altera a constituição dos esquemas corporais, produzindo atraso não só na aprendizagem, mas, também, no desenvolvimento motor.
A ausência de consciência corporal devido a transtornos afetivos na infância, pode se prolongar até a idade adulta, podendo ocorrer inibições de vivências, inclusive nas relações sociais.
O comprometimento dos pais, aliado a um bom ambiente escolar juntamente com profissionais especializados, produzem na criança as condições necessárias para que o seu desenvolvimento emocional possa ocorrer, mesmo na preexistência de transtornos afetivos.
Carinho, respeito e segurança são valores essenciais para que uma criança se torne equilibrada como um todo biopsicoemocional.