Crianças e adolescentes com colesterol alto elevado: importância da alimentação como prevenção

Dietas ricas em gorduras saturadas, trans e açúcares simples aumentam o colesterol.

Foto: Freepik

Batata frita, refrigerante, biscoito recheado e sedentarismo. O combo, comum na rotina de muitas famílias, pode estar por trás de um dado preocupante: quase um quarto das crianças e adolescentes brasileiros têm colesterol total elevado. Desses, segundo levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), publicado em 2023, no Archives of Endocrinology and Metabolism, 19,2% apresentam altos níveis de LDL, o chamado “colesterol ruim”.

De acordo com a nutricionista pediátrica Aline Villela, do Vera Cruz Hospital, em Campinas/SP, a alimentação tem influência direta nos níveis de colesterol desde cedo. Dietas ricas em gorduras saturadas, trans e açúcares simples, como as encontradas em frituras, refrigerantes e produtos ultraprocessados, favorecem o acúmulo de gordura nas artérias, o que pode causar doenças cardiovasculares ainda na juventude. “Esses alimentos aumentam o colesterol LDL e reduzem o HDL “colesterol bom”, comprometendo o metabolismo das gorduras e elevando os riscos à saúde”, explica.

O excesso de açúcar também é prejudicial: ao ser convertido em gordura pelo organismo, ele eleva os triglicerídeos e favorece processos inflamatórios que danificam os vasos sanguíneos, facilitando o desenvolvimento da aterosclerose, que é o endurecimento das artérias.

Conforme ressalta a cardiologista pediátrica Mariana Abreu de Andrade, também do Vera Cruz Hospital, essa patologia pode começar ainda na gestação e se agravar ao longo dos anos. Casos graves podem levar à ocorrência precoce de infarto, AVC e outras doenças cardiovasculares, inclusive ainda na infância.

Para auxiliar as famílias no dia a dia, especialmente na montagem da lancheira escolar, Aline Villela sugere cinco dicas práticas para tornar os lanches mais nutritivos:

“Estimular o consumo de água, manter horários regulares para as refeições e incentivar a prática de atividade física são atitudes simples que fazem diferença”, orienta a nutricionista. Ela também recomenda planejar as refeições da semana, deixar frutas lavadas e cortadas na geladeira, preparar marmitas com antecedência e envolver as crianças nas compras e no preparo dos alimentos. “A boa notícia é que, na maioria dos casos, mudanças no estilo de vida são suficientes para normalizar os níveis de colesterol, sem a necessidade de medicação”, afirma.

A cardiologista Mariana Abreu lembra que o colesterol alto não é exclusividade dos adultos. Estudos indicam que 15% das crianças entre 6 e 11 anos e 25% dos adolescentes a partir dos 12 anos já apresentam taxas elevadas. “A prevenção deve começar desde cedo, com os pais dando exemplo e incentivando hábitos saudáveis em casa”, alerta.

A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a triagem universal do perfil lipídico (colesterol total, HDL, LDL e triglicérides) entre 9 e 11 anos e novamente entre 17 e 21 anos. Crianças com fatores de risco devem ser avaliadas a partir dos dois anos.

Entre os fatores de risco estão: histórico familiar de infarto precoce, colesterol elevado ou doenças cardiovasculares; obesidade, diabetes, hipertensão ou tabagismo passivo; sedentarismo, alimentação inadequada, uso de certos medicamentos e doenças crônicas, como hipotireoidismo, síndrome metabólica e insuficiência renal.

A médica destaca ainda que o colesterol alto costuma ser silencioso. Casos graves, especialmente de origem genética, podem apresentar xantomas, que são lesões com acúmulo de gordura visível na pele, como nas pálpebras, calcanhares e cotovelos. E enfatiza: “Mesmo sem sintomas, o colesterol elevado na infância está associado ao risco de doenças cardiovasculares na vida adulta. Diagnosticar e tratar precocemente pode trazer benefícios significativos no futuro”.

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