Conselho Federal de Farmácia trata também dos riscos do uso de fitoterápicos de forma indiscriminada, principalmente os destinados a emagrecimento.
O Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos foi comemorado na última quinta-feira, 5/05. Para chamar atenção sobre os riscos da automedicação com produtos emagrecedores, principalmente aqueles divulgados como “fórmulas milagrosas”, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) lançará uma campanha que inaugura a presença da entidade na rede social TikTok. “Por meio dessa rede, pretendemos atingir o público mais jovem, que normalmente não está atento às mensagens institucionais. A ideia é passar uma mensagem séria, mas de forma leve, com exemplos que dizem muito”, comenta o presidente do CFF, Walter Jorge João.
Pesquisa realizada pelo conselho e o Instituto de Pesquisas Datafolha vai levantar o comportamento do brasileiro quanto ao uso dessas substâncias, que, muitas vezes, sequer são autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, também, de medicamentos para emagrecer. A pesquisa sobre o uso de chás emagrecedores terá alcance nacional e será aplicada nas próximas semanas, para um público-alvo maior de 16 anos de idade. Os resultados serão divulgados no final do mês.
A campanha é composta por oito vídeos curtos que serão divulgados ao longo de todo o mês de maio. Nos vídeos, os personagens procuram mostrar, de forma descontraída, que a automedicação é como dizem os ditados populares: “o barato que sai caro”, “as aparências enganam”, “com saúde não se brinca”, “todo cuidado é pouco”, entre outros. Ao final dos vídeos, o conselho convida o público a entrar na trend, escolhendo um ditado popular para passar uma mensagem sobre o uso racional de medicamentos. Os melhores vídeos que trouxerem a hashtag #cffnotiktok serão compartilhados no perfil. Os farmacêuticos, estudantes de Farmácia e a população em geral estão convidados a participar.
Atividade clandestina – Em fevereiro, chamou atenção o caso de intoxicação e morte da enfermeira Edmara Silva de Abreu, de 42 anos, com hepatite tóxica fulminante, após consumo de cápsulas de um “chá emagrecedor”, adquirido pela internet. A substância levava a marca de um fabricante cujos produtos tinham a venda proibida pela Anvisa desde 2020, por não estarem regularizados como medicamentos.
Apesar do comércio de produto com propriedades terapêuticas não autorizadas ser atividade clandestina, produtos similares ao que foi usado pela enfermeira continuam à venda em sites no Brasil. Chama atenção também o grande número de anúncios de medicamentos que somente poderiam ser vendidos com receita médica, sob controle especial, em perfis de redes sociais, ou seja, venda clandestina.
A ideia geral da campanha é mostrar que qualquer produto ou medicamento pode provocar reações indesejadas, algumas delas graves, se forem utilizados sem indicação, de forma errada ou combinados com outras substâncias, sejam naturais, alimentos ou medicamentos. “Não é porque é natural, que não faz mal”, alerta a cartilha publicada pela Anvisa este ano. É importante lembrar que todo produto regular passa pelo crivo sanitário e tem um número de registro cadastrado ou menção como produto notificado no rótulo, o que pode ser verificado no site da Anvisa. A busca do registro também pode ser feita utilizando o nome do produto. A agência mantém a lista dos produtos irregulares.
Legislação – De acordo com a Lei Federal nº 6360/1976, a empresa fabricante de medicamentos ou produtos para a saúde deve possuir AFE (autorização de funcionamento), na Anvisa, e alvará sanitário emitido pela Visa estadual e/ou local. Isso vale para medicamentos fitoterápicos, alopáticos ou manipulados. Medicamentos e outros produtos com propriedades terapêuticas somente podem ser adquiridos pela internet em sites de farmácias que possuem loja física e farmacêutico responsável técnico presente durante todo o tempo de funcionamento do estabelecimento.
O CFF também realizará ainda este mês uma pesquisa em conjunto com a Datafolha para levantar o comportamento do brasileiro quanto ao uso de fórmulas milagrosas e também de medicamentos.
Perigo iminente – Mesmo com a divulgação dos riscos dos fitoterápicos à saúde, basta pesquisar “remédios para emagrecer” no Google que são indicados quase 800 mil sites, produtos e plataformas que vendem “milagres”, sem nenhum embasamento médico. Há ainda vídeos e publicações em redes sociais de influenciadores que estimulam o consumo em troca de dinheiro e likes, sem alertar para o perigo iminente ao organismo.
Duas mulheres foram vítimas da falsa publicidade sobre os insumos. Em fevereiro deste ano, morreu a cantora de forró Paulinha Abelha, de 43 anos, famosa pela participação no grupo Calcinha Preta. O laudo realizado após o falecimento mostrou que a mulher tinha o fígado debilitado por um mix de substâncias tomadas para emagrecer, dormir, ficar alerta e ganhar definição muscular.
Segundo o exame, o fígado da artista apresentava lesões compatíveis com as provocadas por medicamentos. O órgão estava fortemente debilitado, com áreas mortas e retenção de bile. Além disso, a triagem toxicológica mostrou que a cantora havia consumido anfetaminas, que são remédios que agem no cérebro, aumentando o estado de alerta e têm efeito sobre o apetite, e barbitúricos, sedativos e calmantes.
Fora estas evidências, a médica nutróloga que atendia Paulinha Abelha havia receitado um conjunto com 7 medicamentos ou fórmulas, totalizando 18 substâncias que inibem a absorção de carboidratos, gordura e atuam no humor, no sono e no ganho de massa muscular.
O papel dos remédios no comprometimento parece ser uma das chaves da análise. Em entrevista ao Fantástico, no dia 27 de fevereiro, o marido de Paulinha Abelha, Clevinho Santos, disse que a artista nunca tomou anabolizantes, mas que “sempre tomou” remédios do tipo “mais diuréticos”, para dar uma secada, quando tinha show”, contou. O período de exposição a medicamentos pode ter comprometido o fígado e, ainda, não se sabe a quanto tempo ela estava tomando os medicamentos da atual receita.
Em março deste ano, outra mulher faleceu em decorrência do consumo de fitoterápicos. A enfermeira Mara Abreu, de 42 anos, tomou cápsulas do chá 50 Ervas Emagrecedor, que inclui chá verde, carqueja e mata verde, e teve uma hepatite fulminante. Ela precisou passar por um transplante de fígado, mas não resistiu e morreu.