Atendimento integral e personalizado a pacientes com doenças graves promove qualidade de vida, dignidade e apoio às famílias
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Um dos maiores equívocos sobre os cuidados paliativos é acreditar que eles representam o fim do tratamento ou a desistência diante da doença. Na verdade, esse cuidado concentra-se na qualidade de vida, no alívio de sintomas e no conforto físico e emocional do paciente, garantindo que cada dia seja vivido com dignidade.
Globalmente, mais de 60 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos a cada ano, sendo 31,1 milhões em estágios intermediários de doenças e 25,7 milhões próximos do fim da vida; a maioria (67%) é formada por adultos com mais de 50 anos e pelo menos 7% são crianças, segundo pesquisa feita pela Worldwide Hospice Palliative Care Alliance (WHPCA) e a Organização Mundial de saúde (OMS).
Os cuidados paliativos são indicados para qualquer pessoa com doença grave, incurável ou que ameace a vida, como câncer em estágio avançado, insuficiência cardíaca ou demência. A médica Carla Robalo Bertelli, coordenadora dos cuidados paliativos do Vera Cruz Hospital, em Campinas/SP, explica que o foco do tratamento está no conforto e na qualidade de vida, podendo ser iniciado junto com curativos, sem se restringir à fase final da doença. O desafio clínico inclui encontrar certos medicamentos para aliviar sintomas sem causar efeitos indesejados, lidar com a ansiedade e conduzir conversas difíceis com honestidade e empatia. Segundo Carla, o encaminhamento precoce é ideal, pois estudos mostram que pacientes que recebem cuidados paliativos desde o início vivem com melhor qualidade de vida.
“Nos últimos anos, houve mudanças positivas na percepção dos cuidados paliativos. Antes vistos apenas como cuidados de fim de vida, hoje são reconhecidos como um direito humano e parte essencial de uma medicina de qualidade, com maior presença em universidades e hospitais. Avanços em protocolos de controle de sintomas, sedação paliativa ética e comunicação estruturada reforçam a qualidade de vida dos pacientes”, destaca.
Na unidade, a abordagem com os familiares é baseada na honestidade compassiva, escuta atenta, comunicação clara e apoio contínuo, inclusive no luto. “O cuidado vai além do controle de sintomas: respeita escolhas, preserva a autoestima e cria um ambiente acolhedor, garantindo dignidade e humanidade em todas as etapas”.
Conforme ressalta, “experiências marcantes mostram que, diante da finitude, pacientes e familiares priorizam o amor, a reconciliação e a conexão, deixando de lado conflitos e valorizando momentos de afeto”.
O dia a dia do médico paliativista envolve controlar sintomas como dor, falta de ar, náusea e insônia, conversar com pacientes e familiares sobre prioridades e coordenar uma equipe multidisciplinar que atende às necessidades físicas, emocionais e espirituais do paciente. Em muitos hospitais, a equipe de cuidados paliativos atua como consultoria, atendendo o paciente onde ele estiver: na UTI, no quarto ou até em casa, e algumas instituições oferecem alas específicas mais silenciosas e acolhedoras.
De acordo com a Dra. Carla Robalo, os cuidados paliativos são um direito legal. “Familiares e pacientes devem se comunicar abertamente, aceitar apoio e criar momentos de normalidade e afeto, garantindo bem-estar para os envolvidos”.
