Cuidados Paliativos: foco na qualidade de vida do paciente e de seus familiares

“O objetivo não é curar a doença, mas controlar sintomas como dor, fadiga, falta de ar, ansiedade e depressão”

Foto: Pixabay

A recente notícia de que o ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, de 89 anos, estava recebendo cuidados paliativos, até falecer no último dia 13 de maio, reacendeu a discussão sobre o que realmente significa esse tipo de tratamento. Muitas vezes associados apenas ao fim da vida, os cuidados paliativos vão muito além e têm como foco principal a qualidade de vida do paciente − e também de seus familiares.

Conforme explica o Dr. João Batista Garcia, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos – ANCP, e um dos maiores especialistas em dor da América Latina, cuidados paliativos são uma abordagem multidisciplinar voltada para o alívio do sofrimento e a promoção do bem-estar físico, emocional, social e espiritual de pessoas com doenças graves, crônicas ou que ameaçam a vida. O objetivo não é curar a doença, mas controlar sintomas como dor, fadiga, falta de ar, ansiedade e depressão.

Esse tipo de cuidado é indicado para pessoas com condições como câncer, doenças neurodegenerativas (como Alzheimer e Parkinson), insuficiência cardíaca, doenças pulmonares crônicas, entre outras. Vale ressaltar: cuidados paliativos não são exclusivos para quem está em fase terminal. Eles podem e devem ser iniciados desde o diagnóstico de uma doença grave, em paralelo a outros tratamentos.

As equipes de cuidados paliativos são multiprofissionais e incluem médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, nutricionistas, capelães e outros profissionais, conforme a necessidade. O atendimento pode ser desenvolvido em hospitais, clínicas especializadas, unidades de internação, casas de repouso e até no domicílio do paciente.

Os cuidados paliativos, afirma o Dr. João, ainda suscitam muitas dúvidas na população. Uma das mais comuns é se são indicados apenas para quem vai morrer. “Eles podem ser oferecidos por meses ou anos, sempre com o foco em proporcionar mais conforto, funcionalidade e dignidade ao paciente”. Cuidados de fim de vida também são parte dos cuidados paliativos, mas estes abrangem muito mais, começando idealmente o quanto antes no curso da doença, pontua.

Outro aspecto importante, ressalta, “é que os cuidados paliativos não substituem outros tratamentos. Eles podem ser oferecidos junto com tratamentos curativos ou modificadores da doença. A decisão depende do estágio da enfermidade e dos desejos do paciente”.

Exemplo – Pepe Mujica, conhecido por seu estilo de vida simples e discurso humanista, anunciou recentemente que estava em cuidados paliativos devido ao avanço de um câncer no esôfago. Ao falar publicamente sobre sua condição, ele ajudou a desmistificar o tema e a promover uma conversa necessária sobre como queremos viver − e não apenas sobre como morrer.

De acordo com o presidente da ANCP, “a abordagem paliativa é, acima de tudo, um cuidado centrado na pessoa. Mais do que lidar com a doença, ela cuida do ser humano como um todo. O caso de Mujica é uma oportunidade para refletirmos sobre como a medicina pode − e deve − oferecer dignidade, empatia e conforto em todas as fases da vida”.

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