Escuta ativa e qualificada oferecida por profissionais da saúde mental pode atenuar a avalanche de emoções causada pela notícia da doença
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Um diagnóstico de câncer costuma gerar uma avalanche de emoções, como medo, ansiedade e tristeza em quem recebe a notícia. Assim como se iniciam os cuidados médicos para cuidar de uma das doenças que mais assusta, um caminho importante também é cuidar da mente e buscar apoio junto a profissionais de saúde mental.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a previsão de aumento da doença nos próximos anos é de 77%, com 35 milhões de novos casos da enfermidade esperados em 2050. O rápido crescimento está ligado ao envelhecimento da população e a maior exposição das pessoas a fatores de risco.
Se é cada vez mais necessário prestar atenção e cuidar da saúde mental, neste cenário do diagnóstico de câncer, o acompanhamento psicológico é fundamental para que o paciente tenha um espaço seguro para se expressar emocionalmente sem preocupações ou julgamentos. “Muitas pessoas com câncer podem sentir que precisam ser fortes para a família ou para si mesmas e isso pode impactar no tratamento”, afirma a psicóloga e psicanalista Ana Volpe, membro-filiada da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
Conforme destaca, é fundamental lembrar que um diagnóstico de câncer não deve ser visto apenas como uma sentença de morte, mas como uma oportunidade para um novo começo. A detecção precoce, especialmente no caso do câncer de mama, um dos com maior incidência na população, pode aumentar significativamente as chances de cura. Quando diagnosticado em estágios iniciais, as taxas de sobrevivência podem chegar a 95%.
“O medo e a ansiedade são reações normais ao receber um diagnóstico positivo. É crucial que os pacientes reconheçam esses sentimentos e busquem apoio psicológico. A psicoterapia pode ajudar a transformar essa ansiedade em força, permitindo que a pessoa enfrente o tratamento com uma mentalidade mais positiva e resiliente”, afirma a profissional.
Estratégias de enfrentamento – Ao compartilhar a dor do diagnóstico com um psicólogo, o paciente que acabou de receber a informação vai aprender a identificar maneiras saudáveis de lidar com o estresse, a ansiedade e as preocupações. Isso pode incluir técnicas de respiração, mindfulness e estratégias cognitivas para combater pensamentos negativos e repetitivos.
“Um dos principais desafios emocionais é a incerteza em relação ao futuro e o acompanhamento psicológico pode ajudar pacientes a lidar com o medo da mortalidade, levando a um entendimento mais saudável sobre a vida e o que está sob o seu controle. A terapia pode focar no fortalecimento da autoestima e da resiliência, ajudando a pessoa a lembrar de suas forças e recursos pessoais para lidar com o tratamento e com os desafios diários”, diz Ana Volpe.
Ela afirma também que o apoio psicoterapêutico não apenas melhora a qualidade de vida da paciente durante o tratamento, mas, também, pode ter um impacto positivo na resposta ao tratamento e na capacidade de seguir as orientações médicas de forma mais consistente e confiante.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), entre 30% e 50% dos pacientes oncológicos desenvolvem algum distúrbio psiquiátrico, como um quadro depressivo após receber o diagnóstico.
Nesse sentido, Ana Volpe observa que “o apoio de uma equipe multidiciplinar no enfrentamento da doença é importante para que o paciente enfrente a jornada em busca da cura, ou uma melhor qualidade de vida, com coragem e esperança. Com escuta ativa e qualificada, o paciente pode se tornar protagonista do tratamento e ajudar a tomar as rédeas nas tomadas de decisão. Para isso, uma mente equilibrada e organizada é fundamental”.