Por Renata Bento:
Psicanalista – Psicóloga, Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro e da International Psychoanalytical Association – UK. Tem especialização em Psicologia clínica com criança PUC-RJ.
O cyberbullying é o uso de forma deliberada através de comportamentos hostis com objetivo de provocar, difamar, insultar e humilhar; é disseminado a uma velocidade imensurável por meio das tecnologias de informação e comunicação. É um tipo de violência praticada de modo virtual que afeta psicologicamente crianças e adolescentes causando impacto real no mundo mental de suas vítimas, acarretando sérios prejuízos ao crescimento, autonomia e independência. Pode ser uma porta de entrada para outros tipos de violência psicológica, como aquela que induz a criança e o adolescente irem ao encontro do agressor, podendo chegar à violência física propriamente dita, o bulliyng tradicional.
Uma das características que diferencia cyberbullying e bullying é a dificuldade de identificação do agressor. Deste modo, no contexto virtual, lugar inóspito onde não se vê corpo nem rosto e a informação tem grande velocidade, torna-se mais demorada a aproximação e o reconhecimento do ofensor, principalmente com os recursos tecnológicos atuais, onde se pode distorcer a voz e mudar a imagem real.
O cyberbullying pode ser devastador para o mundo psíquico e pode ocorrer de diversas formas: através de mensagens de texto, imagens, perfis falsos, chats e jogos on-line, entre outros. Com toda facilidade que existe com a tecnologia na atualidade, a dificuldade é manter privado aquilo que pertence à esfera privada. Isto é, tudo pode ser gravado, fotografado, editado e transmitido. A internet tem uma capacidade de disseminar informação de forma muito rápida. Por isso, seu alcance passa a ter uma dimensão impensável. O que fica na rede não pode ser apagado, pior, pode ser compartilhado e o estrago pode ser grande.
É considerado como uma experiência traumática, um tipo de violência psicológica silenciosa e com raízes profundas, pois leva a vítima a se recolher, a se isolar socialmente, a ter dificuldades de concentração, baixo rendimento escolar, introversão e pode contribuir para o aparecimento de quadros mais graves, como a depressão e até mesmo levar ao suicídio.
Uma das características da violência virtual é que o agressor pode ter acesso à vítima em qualquer lugar, desde que ela esteja com um dispositivo tecnológico e que permita o encontro.
A dificuldade em ser descoberto e a falsa sensação de anonimato contribuem para o crescimento desse tipo de violência psicológica, que é considerada crime. Apesar de ser um assunto ainda novo, a legislação tem avançado e foram criadas leis que protegem o usuário. Isto é, uma vez detectado o cyberbullying, medidas judiciais podem ser tomadas a fim de proteger a vítima do ponto de vista jurídico. Há que se ter a proteção e o acompanhamento psicológico porque a vítima fica emocionalmente enfraquecida, com a autoestima prejudicada e muitas vezes envergonhada.
Todo esse avanço tecnológico ainda é um terreno pouco conhecido que exige cuidado ao pisar; o problema não é a tecnologia e a máquina e, sim, o mal uso que pode ser dado a essas ferramentas pelos humanos. Preservar a saúde mental é também estar atento às crianças e adolescentes, às suas relações de convívio dentro e fora do mundo virtual.