O ortopedista pediátrico Marcelo Sternick: “com relação ao tratamento, novas técnicas e materiais possibilitaram uma completa mudança de paradigma”
Diversas deformidades ortopédicas em crianças são incapacitantes e questões psíquicas relacionadas a autoestima e bullying são frequentes com esses pequenos, como ressalta o ortopedista pediátrico Marcelo Sternick em entrevista ao Portal Medicina e Saúde. Ele aborda vários aspectos sobre o tema, solidificados com sua rica vivência na área. Dr. Sternick é coordenador da Equipe de Ortopedia do Hospital Vera Cruz e membro do Serviço de Ortopedia do Hospital Felício Rocho, em Belo Horizonte/MG. Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica. É Atual Presidente da Associação Brasileira de Reconstrução e Alongamento Ósseo.
Dr. Sternick, o que é uma deformidade ortopédica?
Deformidade é qualquer alteração na conformidade normal dos ossos ou das articulações. Algumas deformidades são incapacitantes e necessitam tratamento, outras não. Também é necessário considerar, que algumas deformidades são normais em determinadas fases do crescimento e corrigem espontaneamente.
Quais as principais doenças ortopédicas que afetam as crianças do nosso tempo?
São várias as etiologias. As doenças podem ser traumáticas, congênitas e do desenvolvimento. Incluindo nestas as neuromusculares, infecções e tumores.
Quais as causas das deformidades em crianças?
As deformidades congênitas aparecem ao nascimento, como o próprio nome diz. Deformidades pós-traumáticas são decorrentes de algum trauma ocorrido (fraturas, por exemplo). Algumas deformidades podem ser secundárias a alguma enfermidade acometida, como no caso de osteomielites. As causas são várias.
Mais meninos ou meninas têm deformidades? Por que?
Isto é muito variado e depende de cada enfermidade em particular.
Como se faz o diagnóstico dessas deformidades?
Inicialmente com o exame físico. Dependendo de cada caso, exames de imagem podem ser necessários. Evidentemente, que a primeira percepção destas deformidades é feita pelos pais, principalmente.
Quais os maiores problemas práticos enfrentados no dia a dia por essas crianças?
Diversos. Diversas deformidades são incapacitantes e estas crianças não conseguem acompanhar seus colegas em atividades, incluindo laser e esportivas. Questões psíquicas relacionadas a autoestima e bullying são frequentes. Por outro lado, um grande percentual destas crianças são muito adaptadas às deformidades. Como se elas fossem “normais” e as “normais” fossem “anormais”.
Em geral, como os pais lidam com isso?
Em geral, sempre buscam o melhor tratamento e procuram corrigir o mais precoce possível. Outros, infelizmente, sejam por questões culturais, religiosas ou mesmo por ignorância, postergam o tratamento ou mesmo se recusam a tratar seus filhos, o que é trágico.
Quais os grandes avanços nesse momento? Por que?
Os principais avanços estão nos tratamentos. Novas técnicas e materiais possibilitaram uma completa mudança de paradigma, quando comparamos o cenário atual com o que era praticado há 30 anos atrás. Quando iniciei na ortopedia, várias malformações congênitas eram simplesmente tratadas com amputações. Hoje, a criança tem uma vida ativa e, na grande maioria das vezes, funcionalmente normal. Alguns tratamentos são demorados e duram quase toda a infância, constando de diversas cirurgias e acompanhamento fisioterápico, muito frequentemente.