Dengue e epilepsia – riscos associados: o que fazer?
Médico neurologista vice-presidente da Associação Brasileira de Epilepsia (ABE) examina possíveis riscos associados e o que fazer em caso de suspeitas
Por isso, a Associação Brasileira de Epilepsia – ABE, tira dúvidas com o médico neurologista
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil já registrou mais de 500 mil casos de dengue, entre janeiro e fevereiro de 2024, com seis estados declarando epidemia e 17 cidades em estado de emergência. Se por um lado isso aumenta o volume de informações para a população em geral, por outro ainda faltam orientações sobre casos específicos, como, por exemplo, pessoas com epilepsia.
Segundo o Dr. Lécio Figueira, de São Paulo/SP, vice-presidente da ABE, a dengue funciona como fator de gatilho adverso para novas crises. “Pessoas com epilepsia, ao ficarem doentes, principalmente com febre, têm mais risco de novos episódios. As mudanças de temperatura e alterações do metabolismo podem modificar o funcionamento cerebral e facilitar o aparecimento das crises”.
Como qualquer infecção viral, quando a pessoa está doente é normal que haja quadros de insônia ou sonolência. Todavia, caso esteja com dengue, tenha epilepsia e apresente sintomas não convencionais, como confusão mental, sono excessivo ou desorientação, é indicado que ela seja levada com urgência para uma avaliação médica.
Automedicação: cuidado – “O uso de soros ou remédios para abaixar a febre não são decisões ideais quando se fala em automedicação, principalmente para pessoas com epilepsia. Na dúvida, a melhor saída é conversar com o profissional de saúde, já que existem muitas particularidades de cada caso, como idade, tipo de crise, causa da doença neurológica crônica e medicações em uso”, afirma o especialista da ABE.
Um dos principais estudos sobre o tema, intitulado “Manifestações neurológicas de dengue: estudo de 41 casos” e publicado pelas médicas Dra. Maria Lúcia Brito Ferreira, Dra. Cybele Gomes Cavalcanti, Dra. Candice Alvarenga Coelho e Dra. Solange Dornelas Mesquita, afirma que cerca de 5% das pessoas que contraem dengue podem ter complicações neurológicas, como encefalite, meningite, neuropatias, Guillain Barré etc. A pesquisa abrangeu regiões acometidas e 41 pacientes com diagnóstico. Contudo, segundo a ABE, não existem dados relevantes que mostrem que esse risco seja maior por ter epilepsia.
Durante a recuperação da dengue, Associação Brasileira de Epilepsia orienta os pacientes terem maior cuidado para controle da febre, boa hidratação atentarem-se para eventuais alterações, como disfunção renal ou hepática. Caso haja algum sinal além do usual, devem procurar imediatamente atendimento um médico para avaliação.
Protocolo C.A.L.M.A. – Este protocolo, elaborado pela ABE, traz alguns direcionamentos que podem ser aplicados em casos de urgência, já que consiste em cinco passos fundamentais para apoio imediato na crise convulsiva. São eles:
1 – COLOQUE a pessoa de lado, com a cabeça elevada para que não se sufoque com a saliva;
2 – APOIE a cabeça da pessoa em algo macio (ex: mochilas, blusas, jalecos);
3 – LOCALIZE objetos que possam machucar a pessoa e afaste-os (ex: óculos, correntes, móveis e roupas apertadas);
4 – MONITORE o tempo. Caso a crise dure mais que 5 minutos ou acontecer outra logo após a primeira, ligue para o SAMU (192);
5 – ACOMPANHE a pessoa até ela acordar. Em caso de ferimentos ou caso seja a primeira crise, ligue para o SAMU (192).
Sobre Associação Brasileira de Epilepsia – A ABE é uma entidade sem fins lucrativos que se estabeleceu como organização para divulgar conhecimentos acerca dos tipos de epilepsia e promover a melhora da qualidade de vida das pessoas que convivem com a doença. Integra o International Bureau for Epilepsy, sendo composta por pessoas que têm epilepsia, familiares, neurologistas, nutricionistas, advogados, assistentes sociais, pesquisadores e outros profissionais. Atua formando grupos de autoajuda, facilitando a reabilitação profissional, lutando pelo fornecimento regular de medicamentos nos postos de saúde e hospitais públicos, além de batalhar, incansavelmente, pelo bem-estar das pessoas que convivem com a doença e pelo fim dos estigmas e preconceitos sociais.