Dia Mundial do Rim: pacientes contam como foi descobrir a doença renal e como lidam com ela

A nefrologista Rosina Dal Maso: “ é fundamental garantir o bom funcionamento dos rins para que o corpo trabalhe adequadamente”

         “Eu era viciada em anabolizante e na minha beleza. Sei que foi isso o que me deixou doente”. Aos 39 anos, a paciente Maria Aparecida do Centro de Terapia Substitutiva Renal (CTRS) do Hospital de Cubatão/Baixada Santista/São Paulo, relembra que há dois anos começou a perder muito peso, caiu diversas vezes da escada do trabalho e estava extremamente cansada. Depois de passar muito mal, ela entrou em coma e ficou na UTI por um mês. A partir daquele momento, descobriu que havia se tornado uma paciente renal crônica. Mas o que ela imaginava, não era nada parecido com o que encontraria durante o tratamento. “Eu fui para a minha primeira sessão na Hemodiálise como quem vai para um velório. No início, não entendia que aquilo era a minha salvação”, explica.

Nem todos sabem, mas os rins – dois órgãos na forma de grãos de feijão, localizados na região lombar – são fundamentais para manter o equilíbrio do corpo. Eles atuam como uma equipe de limpeza do sangue, 24 horas por dia.  “Os rins mantêm em equilíbrio todos os íons, a água e vários hormônios do corpo humano e ajudam a jogar fora os restos do metabolismo. É na urina que está a maior parte dos detritos do corpo humano”, salienta Dra. Rosina Dal Maso, médica nefrologista do Hospital de Cubatão.

Em virtude da comemoração do Dia Mundial do Rim, celebrado no dia 11 de março, Rosina faz um alerta: “é fundamental garantir o bom funcionamento dos rins para que o corpo trabalhe adequadamente. Para quem já tem diagnósticos de diabetes ou hipertensão, a orientação é tratar corretamente já que o diabetes e a hipertensão são as principais causas da doença renal”.Nesse sentido, a médica enfatiza a importância de procurar um especialista para avaliar a função do órgão por meio de exames como, urina e creatinina.

Rotina e superação – A sala onde é feita a diálise é como uma segunda casa para esses pacientes. Eles precisam estar ali, pelo menos, três vezes na semana. Em cada dia, ficam na sessão por quatro horas. E o tratamento não para por aí. Ainda têm os medicamentos e todos são orientados a seguirem uma dieta específica, com pouco sódio e ingestão de líquidos.

No início, tudo pode parecer muito assustador. Não é à toa que uma equipe multidisciplinar cuida dos pacientes. Médicos nefrologistas, enfermeiros, nutricionistas, assistentes sociais, farmacêuticos e psicólogos costumam integrar o grupo. Para Maria, a caminhada foi longa. No caso dela, a doença castigou bastante. “Eu só ficava em casa, deitada, sem forças para fazer nada. Hoje, com o tratamento e apoio da equipe, passei a cozinhar e já estou andando de carro, dois anos depois”, explica.

A assistência psicológica para pacientes dialíticos é fundamental. Eles vivenciam diversas limitações na rotina e passam a enfrentar inúmeras mudanças como a alteração do corpo, novos hábitos alimentares, perda do emprego. “É uma fase totalmente nova de limitações e aceitação. Podem surgir sintomas depressivos, o paciente pode ficar apático, ter crises de pânico, pensar na morte com frequência. A autoestima fica muito abalada”, comenta Geovana Maria da Silva Ortiz, psicóloga do Hospital de Cubatão. No entanto, tudo pode ser diferente com o apoio da equipe. “Se o paciente recebe um acompanhamento desde o início, antes mesmo de começar o tratamento ambulatorial, ele consegue se adaptar melhor à nova vida. É uma vida com limitações, mas possível de viver”, avalia.

Jorge Marcelo da Silva, de 63 anos, convive há 11 com as sessões de hemodiálise. Descobriu a doença depois que teve que amputar um dedo do pé. No caso dele, o diabetes e pressão alta – malcuidadas, segundo o próprio Jorge, foram os fatores que desencadearam o problema.

Para o aposentado, a descoberta também foi muito dolorosa, mas o bom humor dele parece ter facilitado as coisas. Jorge tem a fala mansa, uma simpatia de dar inveja e cantava na noite até o início da pandemia. “É uma mudança radical (ser paciente renal), muda tudo…até o humor da gente muda para pior, mas eu faço questão de ser contra esse tipo de mudança”, relata. E não faltaria motivo para desanimá-lo. O paciente já conseguiu um novo rim, foi transplantado e perdeu o órgão depois de uma pneumonia, devido aos medicamentos. “Não sofri tanto desta vez, a hemodiálise não é o fim do mundo”, diz o paciente que já chegou até a cantar para os amigos durante as sessões de diálise.

          Anabolizantes X Rim – O perigo do uso de anabolizantes para a saúde dos rins não costuma ser um assunto muito corriqueiro. “Nunca tinha ouvido falar”, afirma Maria. Hoje, a paciente faz questão de contar a sua história e de fazer um alerta. “Os anabolizantes são muito comuns entre as mulheres que frequentam as academias. Existe um que eu utilizei e que é aplicado no bumbum. Ele faz com que o músculo cresça bem rápido. Também tomei muita creatina”, conta. Segunda a médica nefrologista, “os anabolizantes levam à hipertensão arterial, um fator de risco para a insuficiência renal. Já o uso concomitante de creatina e outros suplementos de forma inadequada e constante, faz com que os rins sejam obrigados a hiperfiltrar (trabalhar mais)”. Além disso, muitas pessoas ainda usam anti-inflamatórios não hormonais em profusão para diminuir a dor após os exercícios. “Esta combinação é extremamente prejudicial aos rins”, alerta a médica.

Sobre o CTRS – O Centro de Terapia Renal Substitutiva (CTRS) foi implantado em 2020 e está instalado no Complexo Hospitalar do Hospital de Cubatão/São Paulo. A unidade atende pacientes SUS e atua na prevenção, diagnóstico e controle das doenças que interferem na função renal. A equipe multidisciplinar, altamente qualificada, é composta por médicos nefrologistas, cirurgião vascular, enfermeiros nefrologistas, assistente social, farmacêutica, psicólogo e nutricionista.

Incorporado em 2017 às unidades de negócio da Fundação São Francisco Xavier – braço social da Usiminas nas áreas da Saúde e Educação, o Hospital de Cubatão (HC) é um hospital geral de leitos de retaguarda, credenciado para atendimentos de baixa e média complexidades, com 28 especialidades médicas e prestação de serviços de Traumatologia, Ambulatório, Internação, UTI, Maternidade, Centro Cirúrgico, Oncologia, Hemodiálise e Serviços de Diagnóstico.

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