A presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Dra. Clarissa Mathias: “o tabagismo é o maior responsável pela grande incidência de câncer de pulmão no Brasil”
Diante de sua histórica atuação para o controle do tabagismo no Brasil e em meio à pandemia de COVID-19, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) chama a atenção da população para os riscos ainda mais elevados de infecção pelo SARS-CoV-2 em especial em fumantes. O alerta tem em vista o Dia Mundial sem Tabaco, celebrado no próximo dia 31 de maio, data de conscientização sobre os riscos que o tabagismo acarreta à saúde, entre eles, o surgimento e o agravamento de uma série de tipos de câncer, não apenas do pulmão.
Estudos epidemiológicos recentes mostram que usuários de tabaco têm 34% mais chances de contrair doenças da família influenza, incluindo a infecção pelo novo coronavírus. Entre adolescentes e jovens adultos, o diagnóstico da doença foi cinco vezes maior entre usuários de cigarros eletrônicos e sete vezes maior entre aqueles que combinam essa opção com o cigarro de papel. Além disso, de todos os casos de câncer de pulmão no Brasil, 90% são causados pelo tabagismo.
Segundo a presidente da SBOC, Dra. Clarissa Mathias, o maior risco de infecção ocorre porque o pulmão do fumante apresenta áreas inflamadas, causadas pelo uso do tabaco. “A fumaça e as toxinas do cigarro possuem efeito imunossupressor, ou seja, são responsáveis por uma maior vulnerabilidade a infecções por vírus e bactérias. Essas inflamações também são um fator de risco para complicações e agravamento da COVID-19”, explica.
Além dos riscos em relação ao coronavírus, o consumo do tabaco traz diversos prejuízos ao organismo. “O tabagismo é o maior responsável pela grande incidência de câncer de pulmão no Brasil: cerca de 90% dos casos são causados pela substância. Atualmente, ele é um dos tipos mais letais entre homens e mulheres, chegando a atingir uma taxa de mortalidade de 13% e 11%, respectivamente”, adverte a Dra. Clarissa. Outros tipos de câncer também podem ser desenvolvidos em fumantes, como o de bexiga, cabeça e pescoço e pâncreas. “O tabaco ainda é responsável pela redução da cicatrização, envelhecimento precoce e doenças coronarianas e vasculares”, complementa.
De acordo com a presidente da SBOC, especialista em tratamento de pacientes com câncer de pulmão, o grande desafio para o tratamento da doença neste órgão é o diagnóstico precoce. “Normalmente, os sintomas aparecem quando o tumor já está em estágio avançado, como falta de ar excessiva, tosse persistente, dor no peito, escarro com sangue, pneumonia ou bronquite recorrente, perda de peso, entre outros. Por isso é tão importante que haja a implantação de programas de rastreamento da doença, que conta com exames simples de radiografia e tomografia de tórax. Com o diagnóstico precoce é possível reduzir o risco de morte do paciente em 20%”, explica. As recomendações para a realização dos exames de rastreamento são, majoritariamente, para pessoas acima dos 55 anos com histórico tabagista, ou seja, que sejam fumantes ou que não tenham fumado nos últimos 15 anos.
Recentemente, houve avanços representativos no tratamento de pacientes com câncer de pulmão. “Duas conquistas muito importantes foram o desenvolvimento da imunoterapia, medicamentos que estimulam o sistema imunológico para reconhecer e destruir células cancerígenas de forma mais eficaz, e da terapia alvo, que ataca especificamente essas células, provocando poucos danos àquelas ainda saudáveis. Ambos os tratamentos podem melhorar e prolongar a vida do paciente em muitos anos”, declara a médica.
A mensagem da SBOC para a prevenção do câncer de pulmão e dos demais tipos que podem ser desenvolvidos por meio do tabagismo, é para que haja a redução ou interrupção do consumo da substância. “Os cigarros, tanto o de papel como o eletrônico, possuem toxinas que viciam seus usuários. Por isso, é importante evitar o início do uso, cortando a possibilidade de dependência”, recomenda a Dra. Clarissa. Ademais, a entidade reitera a importância da vacinação contra a COVID-19 em pacientes oncológicos, classificados como grupo de risco para complicações causadas pelo coronavírus, com risco de óbito por volta de 26%, muito acima do que na população geral, que fica entre 2% e 3%3. Por isso, todos podem e devem ser vacinados, exceto aqueles que apresentam algum tipo de reação alérgica aos insumos da vacina.