O médico oftalmologista Alexandre Misawa: “vivemos em um cenário em que as pessoas ainda não aderiram ao acompanhamento médico de rotina e só costumam procurar por ajuda quando apresentam sintomas, o que já é tarde”
O Glaucoma é uma doença do nervo óptico, uma neuropatia óptica glaucomatosa, considerada uma das principais enfermidades da Oftalmologia. Ela não tem cura e quando não tratada corretamente, pode levar à cegueira irreversível. Para incentivar a conscientização em prol da prevenção e diagnóstico precoce, o Dia Nacional de Enfrentamento ao Glaucoma, lembrado no dia 26 de maio, foi criado e decretado por meio de uma lei brasileira em 12 de maio de 2002.
Muitas vezes silenciosa, a doença não apresenta sintomas, agravando o quadro com perda progressiva da visão, levando à cegueira total. Por isso, é essencial o diagnóstico precoce, que pode ser feito na clínica, em consultas de rotina, por um médico oftalmologista.
De acordo com o documento “As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019”, produzido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), mostra que a cegueira atinge 1.577.016 brasileiros, o equivalente a 0,75% da população. A pesquisa ainda revela que a incidência do glaucoma é estimada de 1% a 2% na população geral, aumentando após os 40 anos (2%), podendo chegar a 6% ou 7% após os 70 anos de idade. Estima-se que entre 2% a 3% da população brasileira acima de 40 anos possam ter a doença (o que representa cerca de 1,5 milhão de pessoas).
Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE), em 2020, entrevistou 2.700 brasileiros em São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Ceará e Pernambuco. Intitulada “Um olhar para o Glaucoma no Brasil”, o estudo mostrou que 10% dos entrevistados disseram que nunca foram a um oftalmologista e 25% afirmaram que raramente frequentam um especialista, apenas ao sentir qualquer tipo de incômodo nos olhos. Além disso, ainda mostra que metade dos entrevistados não sabe que o Glaucoma é a maior causa de cegueira irreversível no mundo e 41% sequer conhecem a doença. “Vivemos em um cenário em que as pessoas ainda não aderiram ao acompanhamento médico de rotina e só costumam procurar por ajuda quando apresentam sintomas, o que já é tarde. O resultado disso é o alto número de casos da doença em nossa sociedade”, afirma Alexandre Misawa, médico oftalmologista do Hospital HSANP/São Paulo.
Sintomas – Quando há sintomas, os mais comuns são: redução do campo visual periférico, dor ocular, lacrimejamento, vermelhidão dos olhos ou visão embaçada, dificuldade para enxergar no escuro, náusea e vômito ou até mesmo aumento da pupila. Em sua fase mais avançada, a pessoa passa a ter a visão mais turva, com dificuldade de enxergar os objetos próximos de si, por exemplo. Além disso, o paciente passa a enxergar por um campo visual tubular e, assim, só enxerga por um campo central.
Como diagnosticar? – O Glaucoma pode ser diagnosticado por meio de um exame oftalmológico detalhado, capaz de medir a pressão intraocular, chamado Tonometria.
Fatores de Risco – O principal fator de risco é o aumento da pressão intraocular. “O glaucoma pode ser definido como o aumento da pressão intraocular, que não tem nenhuma relação com a pressão do corpo, pois não existe máxima nem mínima, ela varia em torno de 10 mmHg e 20 mmHg (milímetros de mercúrio)”, esclarece o especialista. Além da pressão, pessoas que tenham histórico familiar da doença, indivíduos com mais de 40 anos, pessoas negras, pacientes com alto grau de miopia e diabéticos são considerados como grupo de risco da doença, devendo ter ainda mais atenção ao tratamento.
Tratamento – Infelizmente, essa doença não tem cura, mas existe o controle, que possibilita também qualidade de vida ao paciente. O tratamento mais indicado e utilizado para o Glaucoma é feito por meio de colírios, que atuam na redução ou estabilização da pressão intraocular. Dependendo da evolução do caso, estes colírios podem até ser combinados com o uso de medicamentos de via oral. Outra opção que tem sido utilizada no tratamento é a trabeculoplastia seletiva a laser, que pode ser tão eficaz quanto os colírios. Mas o oftalmologista reforça que cada caso deve ser avaliado de forma individual. Por fim, ainda há outra alternativa: trata-se da cirurgia a laser, que tem por objetivo reduzir a pressão intraocular. O procedimento é realizado normalmente com anestesia local e, na maioria das vezes, em ambiente totalmente ambulatorial.
“Muito importante esclarecer que Glaucoma não é sinônimo de pressão alta nos olhos, pois há casos em que a pressão ocular está normal, inclusive, é muito comum em orientais. Se avaliar apenas a pressão intraocular e não analisar os outros parâmetros, o diagnóstico pode ser incorreto”, conclui Misawa.