Disparidades raciais no envelhecimento da menopausa

Pesquisa expõe falhas na ciência e mostra como o viés racial distorceu a idade real da menopausa

Foto: Divulgação

A ciência ignorou por décadas um dado alarmante: mulheres negras e hispânicas entram na menopausa mais cedo do que mulheres brancas, em média 1,5 anos antes, mas essa realidade foi camuflada por critérios de seleção falhos nas pesquisas de saúde feminina. Essa diferença aumenta quando se considera a menopausa cirúrgica, geralmente em casos de tratamento de câncer de ovário ou útero, endometriose grave, miomas de grande volume ou risco de câncer ginecológico, que ocorre de forma significativamente mais precoce entre essas mulheres.

Uma investigação da Universidade de Michigan expôs como essa exclusão mascarou disparidades raciais, distorcendo o entendimento sobre o envelhecimento reprodutivo. “O estudo mostra que o SWAN (Study of Women’s Health Across the Nation), iniciado em 1994 para mapear a transição da menopausa, falhou ao excluir mulheres que já haviam passado pela condição precocemente. Como resultado, os dados subestimaram o impacto do desgaste físico e social sobre mulheres negras e hispânicas, perpetuando uma visão equivocada sobre a idade média da menopausa. A ginecologista e pesquisadora Fabiane Berta, de São Paulo/SP, fundadora da MYPAUSA, reforça a importância de corrigir essa distorção. O movimento que ela lidera busca criar o primeiro registro nacional da menopausa no Brasil, promovendo uma compreensão mais precisa e inclusiva dessa fase na vida das mulheres.

De acordo com dados da pesquisa publicada no International Journal of Epidemiology, a exclusão dessas populações de estudos científicos distorce a realidade e perpetua desigualdades, e a solução exige um esforço coletivo para mudar a forma como a menopausa é estudada, compreendida e tratada. “Esse estudo escancara o quanto a saúde da mulher tem sido negligenciada por décadas e essas falhas graves em pesquisas, sem dúvida nenhuma, impactam diretamente as políticas públicas e o acesso dessas mulheres a tratamentos de ponta”, alerta Berta.

Segundo a especialista, existem dados ainda mais chocantes: mulheres negras são 50% mais propensas a relatar ondas de calor intensas em comparação com mulheres brancas e enfrentam maior incidência de depressão, distúrbios do sono e doenças cardiovasculares durante essa fase da vida. “Essa negligência científica reflete diretamente no sofrimento dessas mulheres. Não basta apenas saber que existem diferenças raciais na menopausa. Ações concretas precisam ser implementadas, estudos mais inclusivos, políticas públicas mais eficazes e uma revolução na forma como tratamos a menopausa são urgentes. Infelizmente, a menopausa ainda é um tabu, mas a ciência precisa avançar para garantir que todas as mulheres, independentemente de sua origem ou classe social, tenham acesso a diagnósticos precoces e terapias personalizadas. O tempo de ignorar essa questão acabou”, alerta.

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