Dissecção de Aorta representa risco de vida e exige um diagnóstico adequado
Brasil é o primeiro país da América do Sul a fazer parte da campanha Think Aorta, que reúne um grupo de pacientes chamado Unidos pela Dissecção, voltado para a conscientização de médicos e de toda a sociedade.
De acordo com o artigo publicado pela revista internacional BMC Public Health (2012), escrito por Augusto Hasiak Santo e colaboradores, estima-se que entre os anos de 1985 a 2009, cerca de 14.000 pessoas morreram em decorrência da Dissecção Aórtica, somente no estado de São Paulo. No entanto, é possível que a sua real incidência no Brasil, assim como em outros países, seja subestimada, conforme acredita a Dra. Grace Mulatti, diretora de Traumas Vasculares da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP).
Segundo a Dra. Grace Mulatti, “uma das principais dificuldades relacionadas à Dissecção de Aorta seja o seu diagnóstico, cujo principal diferencial é o infarto agudo do miocárdio”, relata. Neste sentido, é bom compreendermos primeiro o que é esta “doença”.
A literatura médica explica que a Dissecção de Aorta é uma ruptura da parede interna, chamada camada íntima. Quando isto ocorre, a aorta se divide em duas e o sangue pode se distribuir de forma desigual entre os órgãos.
Sintomatologia – A diretora da SBACV-SP explica que o sintoma mais comum na fase aguda é uma dor torácica de forte intensidade, que alguns pacientes relatam ter a nítida sensação de algo se partindo ou se rasgando dentro de si. Outras dores torácicas de menor gravidade, também podem ser consideradas, como dores musculares ou crises dispépticas (de gastrite). A dor também pode ser relatada no pescoço, costas ou abdômen.
Ainda, segundo a Dra. Mulatti, a diferenciação é feita pela história clínica do paciente, e alguns exames podem ser auxiliares para detectar essa ruptura, como um ecocardiograma ou um ultrassom abdominal. Porém, o diagnóstico definitivo só é obtido por meio de um exame de Angiotomografia Computadorizada.
A Dissecção de Aorta ocorre, normalmente, por problemas estruturais na parede deste vaso. Didaticamente, é possível separar em dois grupos:
- O primeiro é aquele em que o hipertenso grave, de longa data e tabagista, na faixa de 60 anos, vai apresentar dano crônico na camada interna da aorta, até que um dia ela pode se romper. Algumas vezes o paciente já apresenta uma dilatação de aorta que antecede a dissecção.
- O segundo é um grupo de pessoas mais jovens, de 30 a 40 anos, que tem doenças genéticas, como Síndrome de Marfan, Ehlers-Danlos, Turner, entre outras, ou uma alteração estrutural do coração chamada valva aórtica bicúspide. Algumas dessas síndromes genéticas envolvem problemas do colágeno e os pacientes apresentam alterações estruturais da camada média da aorta, que um dia pode vir a dissecar.
- Outras situações menos frequentes, mas que também podem ser gatilhos para a afecção, são a gravidez, os traumas e o uso de drogas ilícitas, particularmente a cocaína.
Riscos e prevenção – Na porção da aorta descendente e abdominal, o risco maior está relacionado à diferença de distribuição de sangue entre os órgãos. A questão dela estar dividida em duas, pode levar, por exemplo, à falta de sangue para um órgão, como um rim, para outros órgãos abdominais (fígado, intestinos), para um membro inferior, ou até mesmo à medula espinhal, causando paraplegia. Por isso, reconhecer situações de isquemia e tentar revertê-las o mais rápido possível é vital nesses casos.
Para a prevenção, é possível controlar os fatores de risco modificáveis, como controlar a pressão e o colesterol e cessar o tabagismo. Também, ao sentir algum sintoma que possa caracterizar como Dissecção da Aorta, o paciente deve ir ao pronto-socorro imediatamente para obter um diagnóstico adequado e receber o tratamento específico o quanto antes.
Após a dissecção, o paciente cirúrgico vai sempre precisar acompanhar sua intervenção, quer seja terapia convencional, com substituição da aorta por prótese, ou via endovascular por cateterismo, aconselha ainda o Dr. André Brito, diretor de Moléstias Arteriais da SBACV-BA.