A Fundação Dorina Nowill para Cegos homenageia os 105 anos de sua fundadora, honrando sua visão pioneira e sua trajetória dedicada à acessibilidade.
A Fundação Dorina Nowill para Cegos, referência em habilitação e reabilitação de pessoas cegas e com baixa visão, celebrou, em 28 de maio, os 105 anos de nascimento de sua fundadora, Dorina de Gouvêa Nowill. Nascida em São Paulo, ela perdeu a visão aos 17 anos em decorrência de uma doença não diagnosticada. Com muita determinação, se dedicou a uma missão: tornar o mundo mais acessível e inclusivo, buscando proporcionar uma vida digna a pessoas com deficiência visual.
Ela foi pioneira como pessoa cega ao frequentar um curso regular na Escola Normal Caetano de Campos, no centro da capital paulista. Nele, desenvolveu um método de ensino, constituído de estágios, que foi posteriormente integrado na instituição e dedicado às crianças cegas e com baixa visão.
Durante sua formação, notou a carência, no Brasil, de livros no sistema de escrita e leitura em braille. Com um grupo de normalistas criou a, então, Fundação para o Livro do Cego no Brasil, que iniciou suas atividades em 11 de março de 1946.
Dorina se especializou em educação de cegos no Teacher´s College da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, EUA. Naquela ocasião, participou de uma reunião com a Diretoria da Kellog’s Foundation, onde expôs o problema da falta de livros em braille para cegos brasileiros e a necessidade de se conseguir uma imprensa braille para a Fundação que havia criado no Brasil. Em 1948, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil recebeu, da Kellog’s Foundation e da American Foundation for Overseas Blind, uma imprensa braille completa, com maquinários, papel e outros materiais.
Além da educação, outra preocupação de Dorina sempre foi a prevenção à cegueira. Em 1954, conseguiu que o Conselho Mundial para o Bem-Estar do Cego se reunisse no Brasil, em conjunto com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia e a Associação Panamericana de Saúde. Já de 1961 a 1973, Dorina dirigiu a Campanha Nacional de Educação de Cegos do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em sua gestão foram criados os serviços de educação de cegos em todas as Unidades da Federação.
Em 1982, lutou, também, pela abertura de vagas e pelo encaminhamento das pessoas com deficiência para o mercado de trabalho. Durante a Conferência da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, Dorina conseguiu que a Recomendação 99, sobre a reabilitação profissional, fosse discutida. Um ano após, quando a Conferência da OIT se reuniu no congresso, os representantes do governo brasileiro, dos empresários e dos trabalhadores votaram a favor da proposta do Conselho Mundial para o Bem-Estar do Cego, pela aprovação da Convenção 159 e da Recomendação 168, que convocam os Estados membros a oferecer programas de reabilitação, treinamento e emprego para as pessoas com deficiência.
Dorina também foi presidente do Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, hoje, União Mundial de Cegos, e recebeu vários prêmios e medalhas nacionais e internacionais ao longo de suas mais de seis décadas de trabalho à frente da Fundação Dorina. Presidente emérita e vitalícia da Fundação, conviveu durante 74 anos com a cegueira e fez disso sua missão de vida. Perseverança, caridade, resignação e paciência foram algumas das lições praticadas e deixadas por esta paulista que enxergava o mundo com os olhos da alma.
Falecida em 29 de agosto de 2010, marcou sua trajetória como um exemplo inspirador de como a determinação e a compaixão têm o poder de transformar vidas de maneira extraordinária. Hoje, os frutos de sua incansável dedicação brilham na expansão impressionante da Fundação, que não apenas capacita indivíduos, mas, também, fortalece suas famílias por meio de programas inovadores de habilitação, reabilitação, capacitação, distribuição gratuita de livros físicos e digitais em braille para escolas e organizações em todo o país, além de uma variedade de cursos e serviços de soluções em acessibilidade para o mercado.
“Vencer na vida é manter-se de pé quando tudo parece estar abalado. É lutar quando tudo parece adverso. É aceitar o irrecuperável. É buscar um caminho novo com energia, confiança e Fé.” (Dorina de Gouvêa Nowill).