Encontro Outubro Rosa e Núcleo Rara: um laço de carinho
A cirurgiã plástica Vivian Lemos e a angiologista Marina Mourão, em recente encontro do Núcleo Rara
Pela Dra. Vivian Lemos: Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Microcirurgia do Hospital Vila da Serra e Cirurgiã Plástica do Núcleo Rara
Passamos a vida tentando aprender a ganhar. Buscamos cursos, livros e milhares de técnicas sobre como conquistar…, mas e sobre perder?…”Foi assim, sob a luz de um texto extraído do livro da Ana Cláudia Quintana, que iniciamos uma conversa com as minhas pacientes de reconstrução mamária.
Chamei este encontro de “OUTUBRO ROSA E NÚCLEO RARA: UM LAÇO DE CARINHO” e escolhi um lugar reservado de modo que elas se sentissem acolhidas para falar o que quisessem; de coisas íntimas às críticas ao trabalho realizado pela equipe médica. Preparei-me para isto através de uma atualização dos dados sobre câncer de mama no nosso país, legislação, direitos adquiridos após o diagnóstico, atualização sobre reconstrução mamária; enfim, tudo que me poderia ser questionado. Procurei preparar minha alma também, humildemente, para receber todas as falas com a certeza que seria para crescimento de todas nós.
Estavam comigo ali reunidas: Luciana (psicóloga e sexóloga), Marina (minha sócia angiologista do Núcleo Rara), sete pacientes que foram submetidas à mastectomia por câncer e reconstrução mamária imediata e uma paciente que, em quimioterapia, estava à espera pela cirurgia. Ainda neste momento: Thatiele (secretária do Núcleo Rara), Andrea (minha enfermeira e braço direito nesta jornada) e Renèe, representante de próteses e expansores que, ao contar sobre minha ideia de um encontro muito especial com as pacientes, topou logo e prontamente organizamos tudo.
Queria ouvir sobre o impacto do diagnóstico na vida delas, a preparação para cirurgia e as informações que receberam do tratamento realizado, da família, dos filhos se houvessem, vida íntima e como foi depois que tudo passou.
Ouvi atentamente. Obtive muito mais que relatos. Recebi sorrisos e risos! E à medida que elas falavam, silenciosamente, fui ficando mais leve por perceber, em cada relato, que a reconstrução foi de uma vida e não só de uma mama que, simbolicamente, é tão importante para mulher. Deparei-me com relatos que, para os companheiros nada mudou, e estavam realizadas na intimidade. Que os filhos, foram molas propulsoras; afinal, o medo de deixá-los era muito maior do que da própria doença. Ouvi que a doença foi o ponto de partida para uma nova vida com muitas realizações.
“Livrar-se daquilo que é âncora no momento da dor, é libertador!” segundo uma delas. E as mulheres tristes que eu imaginei me deparar, se mostraram fortes, independentes, cada uma a sua maneira.
Mesmo aquela que ainda estava por passar pelo pior dia da sua vida, disse estar preparada o suficiente porque “aquilo” não lhe pertencia. Estavam muito agradecidas por ter uma equipe médica sempre ouvinte, que percebia os desejos e o momento de se realizar ou não os procedimentos de reconstrução.
“Obtive muito mais que relatos” – Impressionantemente, nenhuma lágrima caiu. Mesmo sabendo da dor que o câncer traz para paciente e sua família, percebi que todas viviam o dia de hoje com a intensidade que a vida merece ter. Para elas o que vale é o encontro, a deliciosa ansiedade de sair com um novo namorado e estar linda para aquele dia, é ver o filho indo morar fora e dar graças a Deus por estar vivenciando isto ao lado dele.
Percebi, finalmente, que toda docilidade que procurei dar durante todo tratamento delas, uma a uma foi “me presenteando” com depoimentos recheados de lindos acontecimentos proporcionados por uma reconstrução de uma nova mulher.
Em agradecimento, brindamos a vida com um jantar cheio de cores e sabores inusitados prometendo, uma a outra, um reencontro ano que vem!