Envelhecimento ativo vai além do físico

Com a população 60+ ultrapassando 33 milhões, idosos ganham protagonismo e mostram que envelhecer pode significar viver com autonomia, conexão e sentido

Foto: Freepik

O Brasil vive uma mudança demográfica sem precedentes. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a expectativa de vida ao nascer alcançou 76,4 anos em 2023, sendo 79,7 anos para mulheres e 73,1 para homens. O país já soma mais de 33 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o dobro do registrado há duas décadas.

Esse novo contingente está longe do estereótipo da velhice frágil. O idoso de hoje, especialmente entre 60 e 75 anos, é mais ativo, informado e independente. De acordo com a geriatra cooperada da Unimed-BH, Dra. Bárbara Corrêa, essa transformação é resultado de avanços médicos, campanhas de vacinação, maior acesso à informação e hábitos mais saudáveis. “A geração atual de idosos tem mais acesso à informação e maior escolaridade, o que facilita a adoção de hábitos saudáveis e a busca por qualidade de vida. A prática regular de exercícios, a atenção à alimentação e o envolvimento social contribuem para que vivam mais e melhor, postergando doenças e mantendo a autonomia”, explica.

Ela destaca que o envelhecimento ativo vai além do físico. “Cuidar do corpo é essencial, mas envelhecer bem também depende de nutrir a mente e as relações. O convívio social combate o isolamento e fortalece a cognição. Ter um propósito e se sentir útil são pilares de longevidade”, reforça a especialista.
 

Envelhecer com qualidade é também pertencer e contribuir, acrescenta a médica.O movimento de ocupação das cidades pelos idosos é visível. Praças, academias ao ar livre e parques se tornam pontos de encontro e exercício. Segundo Corrêa, a sociedade precisa combater o etarismo e reconhecer o idoso como membro ativo e valioso. “A acessibilidade urbana e programas culturais e de lazer são fundamentais para estimular essa participação”, afirma.

Nesse contexto, iniciativas privadas também têm papel de destaque ao estimular a autonomia, o bem-estar e a geração de renda. A diretora-presidente do Instituto Unimed-BH, Mercês Fróes, reforça que a longevidade é um tema central da atuação social da cooperativa: “Acreditamos que envelhecer com qualidade significa oferecer condições para que as pessoas sigam ativas, aprendendo, convivendo e contribuindo com a sociedade. Nossos projetos voltados à terceira idade unem saúde, cultura e oportunidades de geração de renda, fortalecendo o protagonismo e a autoestima dessa população”.

Entre os projetos apoiados, o Ocupa+ promove arte, cultura e renda em municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, como Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Vespasiano. “Democratizar o fazer artístico é uma das missões do projeto, permitindo que mais pessoas descubram novos talentos e vivam a arte como caminho para autoestima e bem-estar, além de gerar trabalho e renda. O Ocupa+ é inclusão, pertencimento e novas possibilidades para aqueles que querem continuar contribuindo ativamente para a sociedade”, afirma Flávia Vianna, coordenadora geral da iniciativa.
 

Outro exemplo é o Festival Sabiá, que desde 2019 celebra a criatividade e o protagonismo das pessoas 50+, promovendo festivais culturais, ciclos de formação e trocas de saberes, especialmente em Belo Horizonte.

De acordo com Bárbara Corrêa, projetos que combinam arte, convívio e aprendizado têm papel terapêutico importante. “Eles oferecem um senso de pertencimento e propósito, além de estimular memória, criatividade e autoestima. São aliados poderosos contra o isolamento e a solidão”, analisa.
 

O último Censo do IBGE mostra que mais de 5,6 milhões de idosos vivem sozinhos no Brasil, o que representa 28,7% dos domicílios unipessoais. O dado reforça a importância de políticas e iniciativas que promovam vínculos e oportunidades de convivência.

Com projeções indicando que o grupo 60+ pode representar 37,8% da população em 2070, o desafio é garantir que o aumento da expectativa de vida venha acompanhado de autonomia, pertencimento e sentido.

Conforme Bárbara Corrêa destaca, “envelhecer bem é uma conquista coletiva. Envolve o cuidado com o corpo, o estímulo às relações e o acesso a espaços que valorizem o aprendizado e a contribuição social. A longevidade ativa é o caminho para uma sociedade mais equilibrada e humana”.

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