Especialista alerta sobre a relação da queda do cabelo com o estresse
O médico Marcello Bronstein: “devemos lembrar que a queda de cabelo por si pode levar ao estresse”.
Em tempo de pandemia e de confinamento, tudo que não pode acontecer para piorar a situação é a gente se estressar. O estado emocional pode influenciar na queda capilar.
De acordo com Dr. Marcello Bronstein, Professor de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da USP e Editor-Chefe do “Archives of Endocrinology and Metabolism” da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), existe sim, uma relação íntima entre a queda de cabelo e o estresse, tanto agudo como crônico. No entanto, ressalta, “devemos lembrar que a queda de cabelo por si pode levar ao estresse, sendo uma rua de mão dupla”. Nesse sentido, é muito importante saber a causa. Qualquer falha da distribuição normal de cabelos no couro cabeludo é considerada cientificamente como calvície, sendo, por isso mesmo, necessário descobrir sua origem para determinar o melhor tratamento.
Conforme explica, a calvície pode ser classificada de três formas: Eflúvio telógeno, quando a queda de cabelos é difusa, principalmente em mulheres; Alopecia areata (pelada), podendo acometer ambos os sexos; e Alopecia androgenética, quando a perda é geralmente nas regiões temporais (entradas) e vertex (topo da cabeça), sendo mais comum em homens. Nas mulheres costuma comprometer mais a região superior do couro cabeludo. Ela decorre de excesso de androgênios (hormônios masculinos), ou aumento da sensibilidade do folículo piloso aos androgênios.
Os dois primeiros tipos de calvície são os mais ligados ao estresse, ressalta o especialista, ao explicar que, em momentos estressantes, o organismo reage, liberando neurotransmissores, como a adrenalina, e hormônios, como o cortisol, este intimamente ligado ao desenvolvimento da calvície, provocando a perda de cabelos.
Além dessa reação, a queda de cabelos induzida por estresse tem outros mecanismos, entre os quais a secreção de citocinas inflamatórias, como a interleucina-6, e a ativação aguda ou crônica do sistema que leva ao aumento da secreção de cortisol, com efeitos sobre o couro cabeludo. Adicionalmente, admite-se que o estresse possa reduzir a irrigação sanguínea para o couro cabeludo e levar à dermatite seborreica, que também atua negativamente no folículo piloso, informa o Dr. Marcello Bronstein, que é também Chefe da Unidade de Neuroendocrinologia do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do HC-FMUSP. Por isso mesmo, orienta que em casos de perda de cabelo, “a primeira medida que se deve adotar é procurar a causa e, consequentemente, a melhor forma de lidar com o estresse, sendo a psicoterapia um procedimento valioso”. Isso é muito importante por que dependendo da causa e do tipo, a calvície pode ser reversível.
Adicionalmente, afirma, medidas nutricionais adequadas podem ser úteis, uma vez que, frequentemente, o indivíduo estressado come mal ou pouco. “Da mesma forma, tratamentos medicamentosos podem ser indicados, mas sempre por especialistas”, alerta.
Além do estresse, a queda de cabelos pode ocorrer por questões hormonais (hipotireoidismo e hipertireoidismo, excesso de cortisol, como na síndrome de Cushing, excesso de androgênios – tanto ovarianos como adrenais, e síndrome metabólica); devido a doenças crônicas, como insuficiência renal, insuficiência hepática, doenças inflamatórias intestinais e autoimunes; e pelo uso de medicamentos, como beta-bloqueadores, bem como o uso de hipotensores, como os inibidores da enzima conversora da angiotensina, anticonvulsivantes, antidepressivos e anticoagulantes. Daí, a importância de procurar um especialista. “A abordagem da calvície deve ser multidisciplinar. Envolvendo dermatologista especializado, endocrinologista e psiquiatra/psicoterapeuta”, alerta o Dr. Marcello Bronstein.