Especialista  chama atenção para o aumento da incidência de câncer de cólon e reto em pacientes jovens 

Imagem de Alicia Harper por Pixabay 

Um dos tumores mais prevalentes no país, o câncer colorretal ou de intestino, pode ser prevenido e tem boas possibilidades terapêuticas, mas estudos indicam um aumento do diagnóstico em pessoas com menos de 50 anos .

Conforme apontam as informações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a neoplasia de cólon e reto ou tumor de intestino (câncer colorretal) representa o segundo tipo mais frequente em homens e mulheres, excluindo os tumores de pele do tipo não-melanoma. A estimativa para 2023 é que mais de 45 mil pessoas sejam diagnosticadas com a doença. Nas mulheres, por exemplo, esse tipo de tumor está atrás somente do câncer de mama, enquanto nos homens, a incidência fica logo após o câncer de próstata.  

Apesar do diagnóstico do câncer colorretal ser mais frequente após os 50 anos de idade, nos últimos anos, estudos observaram um aumento da incidência em indivíduos mais jovens. Nos Estados Unidos, por exemplo, sua incidência em pessoas com menos de 50 anos, em 1988 era de 7,9 casos a cada 100 mil habitantes, enquanto em 2015, pulou para 12,9 casos a cada 100 mil habitantes. Atualmente, observa-se que cerca de 10% dos novos casos de câncer colorretal ocorrem em pacientes mais jovens.  

Segundo Fernando Meton, diretor do Oncologia Americas e especialista em tumores gastrointestinais, apesar de ainda ter muito a ser pesquisado, o aumento da incidência, especialmente, em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, se deve a fatores de risco compartilhados, a exemplo da mudança de hábitos da população, nos últimos 50 anos, como dieta com mais carne vermelha, alimentos processados, grãos e açúcar refinados, aumento do tabagismo e ingestão em demasia de álcool, além do menor consumo de frutas e vegetais.  

“Quando não associado à história familiar, o câncer de intestino é multifatorial, ou seja, associado ao estilo de vida. A falta de atividade física aliada à dieta rica em calorias, resulta em um organismo desequilibrado, sob estado de inflamação, resistência insulínica e propenso à obesidade – fator de risco para o câncer colorretal em jovens, especialmente nas mulheres”, informa o médico.

Dados apontam, ainda, que a obesidade na adolescência e/ou o ganho de peso de mais de 20kg, desde os 18 anos, estão diretamente relacionados aos tumores colorretais em mulheres com menos de 50 anos. Um estudo americano, por exemplo, observou que a dieta ocidental foi associada com o aumento do risco do tumor colorretal em pessoas abaixo dessa faixa etária. A pesquisa também identificou que a ingesta de mais  bebidas adoçadas com açúcar (refrigerantes ou sucos), por dia, na idade adulta, aumenta em duas vezes o risco deste tipo de câncer, quando comparado com mulheres que ingerem menos de uma porção destas bebidas por semana.  

Cerca de 30% dos pacientes com tumor de intestino em idade jovem possuem história familiar, pelo menos, em um parente de primeiro grau. A prevalência de síndromes genéticas que predispõem os tumores de intestino e outros tipos, é rara, ocorrendo entre três a cinco por cento dos casos. Porém, mesmo diante de ausência de história familiar, quando um paciente é diagnosticado com tumor colorretal com menos de 50 anos,  existe a recomendação de testes e aconselhamento genético –  uma vez que podem ser identificadas alterações em cada situação. 

De acordo com o especialista, desde 2018, a Sociedade Americana de Cancerologia recomenda o rastreio de câncer colorretal a partir de 45 anos, medida que já é adotada por outras sociedades, assim como pela Sociedade Brasileira de Oncologia (SBOC).  Diante de histórico familiar de câncer de intestino, história pessoal de pólipos benignos (por exemplo adenomas) ou de doenças inflamatórias do trato intestinal, como doença de Crohn e retocolite ulcerativa, o acompanhamento deve ser individualizado e contínuo. 

Sintomas – Apesar da redução na idade de investigação, uma parcela de jovens ainda pode ter o diagnóstico com menos de 45 anos. “Estar atento aos sinais e sintomas precoces são fundamentais para reduzir a incidência da doença. Dentre os mais frequentes estão: dor abdominal, sangramento retal, perda de peso e alteração no hábito intestinal, com muitos destes sintomas ocorrendo ao mesmo tempo”, alerta.  

O Dr. Fernando Meton chama atenção também para a presença de sangramento indolor nas fezes, que pode preceder os demais sintomas em dois ou três anos – sinal que pode ocorrer na fase de pólipo, ou seja, lesões pré-malignas ou ainda com a doença em estágio inicial. Apesar disso, os estudos mostram que pacientes com câncer colorretal em idade jovem levam em média até seis meses para buscar assistência médica.  “Tal fato pode ser bastante prejudicial, pois o diagnóstico precoce é fundamental para os melhores resultados no tratamento oncológico de uma forma geral. É importante falar a respeito, conscientizar a população sobre os sinais e sintomas, sobre o aumento da incidência de câncer nesta faixa etária, assim como a necessidade de se buscar ajuda especializada”, pondera. 

Ele destaca ainda a importância dos profissionais de saúde estarem atentos ao aumento da incidência de câncer nesta população. Segundo estudos da Aliança do Câncer Colorretal (Colorectal Cancer Alliance), 75% dos pacientes diagnosticados com esse tumor em idade jovem, consultaram com, pelo menos, com dois médicos, antes do diagnóstico de câncer e, apenas 14% dos pacientes possuía conhecimento de que seus sintomas poderiam estar associados ao problema. 

Prevenção – Sobre esse assunto, as orientações são para todas as faixas etárias: estabelecer hábitos de vida saudáveis são fundamentais para prevenção, não só do câncer de intestino, mas também de diversos outros tipos. Mais de 40% dos fatores de risco de câncer são modificáveis e incluem, por exemplo: sobrepeso, sedentarismo, falta de atividade física, ingestão em excesso de carne vermelha, embutidos e alimentos processados, ricos em açucares, tabagismo e  bebida alcóolica.  

“Vale lembrar que carne vermelha não se refere apenas ao tipo bovino,  mas também as de porco, carneiro e cabra. A processada é que foi transformada através de fermentação, salgamento ou cura (para preservação, por exemplo) como: carne-de-sol, carne seca, bacon, salsicha, presunto, mortadela, salame, linguiças, etc. A maioria das carnes processadas contém carne de porco ou bovina, mas, também, pode conter outras carnes vermelhas, aves ou subprodutos de carne”, alerta. 

Com relação ao tratamento, este depende do estágio ou fase em que a doença se encontra. Essa avaliação é feita por meio de exames, como  tomografias, de sangue, além da biópsia. O objetivo   é avaliar o chamado estadiamento da doença. Nos casos diagnosticados em fases iniciais, as chances de cura são maiores que 90% e as indicações de tratamento envolvem, na maioria das vezesm um oncologista clínico e um cirurgião experientes na área. Em algumas situações,  há a recomendação de retirada do tumor por colonoscopia, que é um procedimento menos invasivo, mesmo procedimento para se diagnosticar esse tipo de câncer. “Situações mais avançadas, há a necessidade de cirurgia e a avaliação individualizada de quimioterapia complementar ou apenas acompanhamento”,  explica. 

Finalizando, o especialista destaca que, dependendo da localização, a radioterapia, com ou sem quimioterapia, também pode ser indicada antes da cirurgia. Em outros casos, os oncologistas também lançam mão de tratamentos modernos do tipo terapias alvo-molecular, ou mais recentemente, a imunoterapia, em situações bem mais selecionadas.

Ele ressalta ainda, que  cada vez mais o tratamento oncológico está personalizado e  sendo esta uma das chaves para os melhores resultados na oncologia.  “ É importante para o melhor cuidado do paciente oncológico estar na presença de uma equipe de especialistas que atuem de forma integrada e focada na individualização dos casos, disponível em grandes centros qualificados na assistência oncológica, como o próprio Oncologia Americas”, finaliza. 

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