Por Giancarlo Cavalli Polesello
Membro do Núcleo de Quadril do Hospital Sírio-Libanês/São Paulo
Ex-presidente da Sociedade Brasileira do Quadril (2020-2021).
Pacientes com artrose do quadril que no passado estavam condenados a passar o resto da vida com dores excruciantes e usando bengala ou andador, estão se surpreendendo ao começarem a caminhar, ainda no hospital, em muitos casos apenas algumas horas após a cirurgia. Muitos que sofreram por anos a fio têm dificuldade para acreditar na possibilidade de voltar a ter uma boa qualidade de vida após receberem uma prótese, implante que pode ficar no corpo funcionando bem por muitíssimo tempo.
Os resultados dessa revolução silenciosa nesses últimos anos foram possíveis devido a incrível evolução da Medicina, ao incorporar novos materiais e técnicas cirúrgicas minimamente invasivas que, infelizmente, ainda não foram bem mensurados. Para isso é preciso calcular o que significa econômica e socialmente para a sociedade, a possibilidade de devolver ao mercado uma infinidade de brasileiros que, segundo o Ministério da Saúde, padecem de artrose do quadril e que os incapacita para o trabalho. Mais importante ainda, parte desses pacientes não são idosos, mas jovens que, por predisposição genética, problemas no esporte ou em decorrência de certas doenças sofrem da artrose do quadril.
A doença se caracteriza pelo desgaste da cartilagem da cabeça do fêmur e do acetábulo, ou seja, a articulação do quadril, que provoca dor que tende a piorar, além de restrição progressiva da mobilidade. Em alguns casos, genes já identificados que predispõem à doença levam famílias inteiras a sofrerem desta afecção.
O prognóstico da Artroplastia Total do Quadril (ATQ) com as próteses feitas com material de baixa fricção e implantadas com ou sem cimento acrílico, bem como a redução drástica do número de infecções, é tão positivo que a prestigiada revista científica Lancet saudou a ATQ como ‘The operation of the century: total hip repacement’, a operação do século.
A evolução positiva se reflete também no custo do procedimento. A possibilidade de colocar o paciente andando rapidamente e reduzir ao mínimo o tempo de hospitalização diminuem a incidência de complicações, tornando a operação mais acessível e menos onerosa para os cofres públicos, quando custeada pelo sistema SUS e também ao sistema de saúde suplementar.
Embora os avanços tecnológicos sejam constantes e continuem sendo registrados, os resultados recentes já abrem a possibilidade real de jovens atletas, vítimas da osteartrose do quadril, voltarem a competir. Exemplo é o caso de Álvaro Afonso de Miranda Neto, o Doda, que, após integrar a equipe olímpica brasileira de equitação por cinco vezes, teve que desistir da Olimpíada de Tóquio, por causa da evolução da artrose do quadril.
O depoimento que postou na internet certamente levará muitos atletas a buscarem a cirurgia reparadora. Doda escreveu: “finalmente fiz a tão sonhada cirurgia do quadril direito. Vinha convivendo há anos com muita dor e falta de mobilidade que impactava não somente no hipismo, mas, também, na minha qualidade de vida para tarefas muitas vezes simples. Já estou me dedicando bastante no trabalho de fisioterapia e não tenho mais dor”. Doda provavelmente não será o único atleta que, graças a uma ATQ, estará presente na Olimpíada de Paris, no ano que vem.