O médico imunologista e geneticista João Bosco Oliveira: “o paciente, em conjunto com seu médico, pode planejar o melhor programa de prevenção para a doença.”
De acordo com registros do Instituto Nacional de Câncer (Inca), foi estimado 600 mil novos casos de câncer no Brasil em 2019. No entanto, há a possibilidade de que esses números sejam ainda mais expressivos, já que as bases de dados sofrem com a falta de notificações a atraso de informações.
Realizada no dia 4 de fevereiro, a campanha do Dia Mundial do Câncer é uma iniciativa da União Internacional para Controle do Câncer (UICC). Disseminada no Brasil pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), este ano, a ação completa sua 20ª edição.
Os cânceres podem ser causados por alterações nos genes. Para a maioria das pessoas que desenvolvem câncer, as mutações genéticas acontecem ao longo da vida. Algumas pessoas nascem com uma mutação genética herdada de um dos pais, que aumenta seu risco de ter câncer.
Nesses casos, saber que existe a possibilidade de detectar predisposições ao câncer é uma grande aliada na prevenção e tratamento. A genética clínica é a especialidade que detecta, através de exames, essa predisposição.
Para muitos, saber que existe a possibilidade de detectar predisposições ao câncer, identificando e tratando por meio do sequenciamento genético, só foi possível a partir do famoso caso da atriz americana Angelina Jolie, em 2013, que anunciou a realização de dupla mastectomia preventiva devido à probabilidade alta que teria de desenvolver câncer de mama. O sequenciamento genético de Angelina Jolie apontava que a atriz tinha o gene causador do câncer que vitimou sua mãe e uma tia, o que elevava em mais de 80% a chance de ter a doença no futuro.
Exames como esse, hoje em dia, já estão bem mais acessíveis, podendo ser realizados em laboratórios de genética clínica. Como no caso de Jolie, especificamente para avaliar probabilidade de câncer, existe o exame chamado Painel Ampliado de Risco Hereditário do Câncer. “Esse teste avalia 145 genes associados a diversos tipos de câncer, como mama, intestino, próstata, endométrio, entre outros. A partir dos resultados, o paciente, em conjunto com seu médico, pode planejar o melhor programa de prevenção para a doença, com dados personalizados baseados na sua constituição genética”, explica João Bosco Oliveira, médico imunologista e geneticista, sócio-fundador da Genomika Einstein, laboratório pioneiro de genética clínica no Recife.
Para aqueles que já estão diagnosticados com câncer, saber qual a mais adequada droga para o tipo específico da doença também é de extrema importância para a eficácia do tratamento. É para isso que outro exame genético, o Oncoscreen, é utilizado. “O OncoScreen é um exame realizado no DNA e RNA do tumor para definir que drogas podem ser mais eficientes no tratamento daquele câncer. No teste, são detectadas fusões gênicas, alterações na sequência das bases de DNA e no número de cópias de 52 genes diferentes. A definição dessas alterações genéticas permite uma caracterização rápida e segura de cada caso analisado, com ganho de tempo e segurança nas decisões que serão tomadas”, afirma João Bosco.
Para o paciente, o processo de coleta para a realização do sequenciamento genético, etapa presente em todos esses exames, é simples. É realizada uma coleta da amostra, que pode ser de sangue ou saliva. Com isso, ela é processada no laboratório, onde é realizada a extração do DNA que está presente nas células. Após essa etapa, é feito o processamento da amostra e o sequenciamento de segunda geração para analisar a sequência do DNA amplificado em milhares de vezes. Todo esse processo é executado com o auxílio de robôs que agilizam e dão mais segurança e precisão ao processamento das amostras.
O acesso a esses exames, hoje em dia, também é facilitado já que muitos dos testes genéticos realizados no Brasil podem ser feitos através de planos de saúde, de acordo com norma emitida em 2013 pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). A medida ampliou a cobertura obrigatória, com exames mais complexos, e beneficiou milhões de usuários de planos individuais e coletivos de assistência médica do país. Para realizar os exames é preciso prescrição de um geneticista.