Especialista em saúde mental infantil orienta pais a colocarem as necessidades emocionais dos filhos acima dos conflitos pessoais durante as férias escolares
Foto: Freepik
O período de férias escolares pode ser um desafio para famílias em que os pais vivem separados. A divisão do tempo entre as casas e a mudança na rotina nem sempre são tranquilos para as crianças e, em alguns casos, acabam sendo motivo de ansiedade, insegurança e até sintomas físicos como insônia e dores de cabeça.
Segundo Danielle Admoni, de SãoPaulo/SP, psiquiatra geral e psiquiatra da infância e adolescência, supervisora na residência de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o planejamento emocional das férias é tão importante quanto o logístico. “É preciso lembrar que as questões do ex-casal são deles e as crianças não têm nada a ver com isso”, diz a médica. Por exemplo, se uma das partes quer mudar algo sobre o combinado das férias e a outra dificulta só por birra do ex-companheiro (a), isso só vai fazer mal para a criança. “Não precisa ser amigo do ex, mas para os filhos é muito melhor que haja pelo menos uma convivência harmoniosa”, diz.
Um estudo publicado em maio de 2025 na Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação (REASE) reforça esse cuidado, apontando que os efeitos do divórcio sobre os filhos dependem de fatores como idade, intensidade dos conflitos e qualidade da parentalidade no pós-separação. O artigo destaca que a manutenção de vínculos afetivos seguros, a preservação da rotina e a comunicação respeitosa entre os pais são elementos decisivos para proteger o desenvolvimento emocional das crianças.
A publicação também reforça que, embora o divórcio represente uma ruptura, ele pode ser conduzido de forma respeitosa e corresponsável, tornando-se uma oportunidade de fortalecer os laços familiares sob novas configurações.
Veja algumas dicas para ter férias mais harmoniosas para todos da família:
- Organizar com antecedência para que todos possam acomodar viagens e compromissos. Mas seja flexível com imprevistos.
- Evitar competição entre os pais. O período de férias não deve ser uma disputa por quem oferece a experiência mais divertida, mas sim um momento de presença e afeto.
- Avisar com antecedência as mudanças. Crianças precisam se sentir preparadas, sobretudo as menores ou mais sensíveis a alterações na rotina.
- Permitir contato com o outro genitor. Mesmo que o filho esteja com um dos pais, é importante que possa se comunicar com o outro quando quiser, sem infligir culpa na criança.
- Manter algumas rotinas. Comer, dormir e acordar em horários parecidos com os da rotina normal ajuda a criança a manter equilíbrio emocional.
- Ouvir o que a criança quer. Dar voz a ela (com bom senso e cuidado com a idade) ajuda a construir férias mais acolhedoras e conscientes.
Separações acontecem, mas a parentalidade continua. A forma como os adultos conduzem os períodos compartilhados pode deixar marcas — boas ou ruins — na memória emocional da criança. “As férias são um período intenso, especialmente quando existem novas configurações de família: novos namorados (as) ou esposos (as), filhos dos novos companheiros….então é importante que os adultos tirem o foco deles mesmos e priorizem as necessidades das crianças”, afirma Danielle Admoni.