“As mulheres com mais de 35 anos são consideradas em idade materna avançada. A partir dessa faixa etária, surgem riscos relacionados à redução na qualidade e quantidade dos óvulos”
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O número de filhos por mulher caiu 13% no Brasil, de 2018 a 2023, contra um aumento de 16,8% mas na faixa etária acima dos 40 anos, segundo o estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores Sociais das Mulheres no Brasil, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em termos absolutos, entre 2018 e 2022, o número de partos de mulheres entre 40 e 49 anos subiu de 90,9 mil para 106,1 mil. Esse crescimento é mais evidente quando comparado com outras faixas etárias: entre mulheres abaixo dos 19 anos, a queda foi de 30,8%, entre 20 e 29 anos – de 11,2%, e entre 30 e 39 anos – de 10%, apesar do aumento de 19,7% no total de partos desse grupo, que passou de 734,5 mil para 879,5 mil.
Fatores como a crescente presença feminina na graduação e no mercado de trabalho ajudam a explicar esse fenômeno. Nos últimos 12 anos, 60,3% dos formandos em cursos presenciais de graduação foram mulheres, enquanto 53,3% da força de trabalho também é composta por mulheres. Embora ainda inferior à participação masculina (73,2%), esses números refletem uma mudança nas prioridades da faixa etária de 19 a 39 anos.
O especialista em gestação de alto risco e perdas gestacionais, Dr. Arlley Cleverson/São Paulo/SP, que também atua como membro do conselho científico da ONG Prematuridade.com,explica que as mulheres com mais de 35 anos são consideradas em idade materna avançada. A partir dessa faixa etária, surgem riscos relacionados à redução na qualidade e quantidade dos óvulos. “Além disso, mulheres dessa faixa etária enfrentam alterações hormonais e imunológicas que aumentam os riscos obstétricos, e os homens também enfrentam impacto na qualidade dos gametas com o envelhecimento, o que também pode afetar a gestação”, ressalta o médico.
Dentre os riscos relacionados à gravidez em mulheres nesse perfil, estão a pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, restrição de crescimento fetal, abortos espontâneos e, o mais comum, a prematuridade. Isso ocorre porque a presença de doenças preexistentes, como hipertensão, diabetes e doenças autoimunes, aumenta as chances de um parto precoce. “Esses fatores envolvem processos inflamatórios e estresse oxidativo, que podem desencadear o trabalho de parto precoce ou levar à necessidade de um parto prematuro”, explica.
Uma alternativa cada vez mais adotada por mulheres acima dos 40 anos é recorrer à Medicina Reprodutiva, por meio de técnicas como o congelamento de óvulos, a fertilização in vitro e outros métodos de reprodução assistida. Esses procedimentos vêm crescendo significativamente no Brasil e, embora ampliem as chances de gestação, especialistas alertam que esses tratamentos não anulam os riscos associados à gravidez tardia — como o aumento das taxas de prematuridade e complicações obstétrica.
A importância do pré-natal – O acompanhamento pré-natal é essencial para todas as gestantes, mas se torna ainda mais importante para mulheres com idade superior a 35 anos. “Por se tratar de gestações de alto risco, são necessários exames laboratoriais e ultrassonográficos detalhados, como a morfológica a cada trimestre, rastreamento para pré-eclâmpsia, risco de parto prematuro e suplementação personalizada para atender às necessidades dessa paciente”, explica o Dr. Arlley.
Também é fundamental que as mulheres que desejam engravidar após os 40 anos realizem exames preventivos que identifiquem riscos potenciais, como doenças crônicas, problemas genéticos e alterações na pressão arterial, ajustando os cuidados para garantir a segurança da gestação e do parto.
Desafio para a saúde pública – O aumento das gestações tardias pode representar um desafio para a saúde pública, caso não haja políticas públicas adequadas para lidar com esse fenômeno. “As gestações tardias pressionam o sistema de saúde, especialmente os serviços de atenção materno-infantil e UTIs neonatais”, explica o médico. Ele observa que a crescente demanda por equipamentos e infraestrutura hospitalar voltados à Neonatologia já é uma realidade e deve continuar a crescer.